quarta-feira, 30 de maio de 2018

Lições da greve


Há hoje uma insatisfação generalizada na sociedade. As pessoas não aguentam mais, desconfiam de tudo e de todos. Demandam justas e necessárias medidas mas, muitas vezes, ignorando o seu custo e o prazo necessário para sua implantação. Eu não perfilarei ao lado de demagogos que a tudo “apoiam”. Por respeito a mim mesmo e a todos, seguirei sempre alertando para os cuidados necessários, alias a única postura que, efetivamente, é realizadora.
 
A insatisfação pode ser uma alavanca para mudanças. Mas será perigosa se enveredar por descaminhos, por atalhos que a nada conduzem.
 
O que é um descaminho? É, por exemplo, diante de uma necessidade, propor diminuir tributos ignorando que, ao cortar impostos, diminuímos os recursos orçamentários e deveremos fazer cortes no setor público. Cortar gastos, óbvio e necessário, mas também cortar investimentos e aí teremos que optar aonde e o que cortar, uma decisão de todos!
 
Outra questão evidente é que não se pode tratar cada setor isoladamente. A insatisfação surge contundente, concentra atenção e ignora o todo. Ter a consciência de que qualquer medida tem impacto para os outros segmentos e um custo que a todos atingirá.
 
Precisamos, com responsabilidade, identificar alternativas viáveis, os recursos necessários e, principalmente, que programas estruturantes devem ser adotados para soluções definitivas.
 
Muitos fazem coro àquilo às reivindicações, eu prefiro adotar o caminho da sensatez, apresentar alternativas concretas.
 
Os interesses corporativos têm muitos padrinhos e mobilizações, mas o interesse público não tem quem o apadrinhe e poucos por ele se mobilizam. Debruçarmos também sobre as despesas é caminho fundamental. O momento é grave, impõe soluções estratégicas.
 
Sobre o preço da política de combustíveis, particularmente a praticada pela Petrobras o meu posicionamento é claro: nenhum saudosismo, nenhuma volta ao passado, nenhum tipo de tabelamento ou artificialismo. Temos que enfrentar este problema, reconhecendo que o preço é muito alto, estabelecer que a flutuação dos preços dos combustíveis, deve respeitar uma banda de valor ou de tempo para que aí a mudança possa ocorrer. Recuperar o sentido compensatório que tinha CIDE – Combustíveis ao ser criada. Na Câmara dos Deputados – retiramos o Pis/Cofins e oneramos outros setores. Tivemos consciência de que era necessário equilibrar. “Não há nada grátis”. É importante que isso fique claro.
 
Dentro desta coerência, manifestei já a minha preocupação com relação à proposta de tabelamento de frete que, alem de ineficaz, é desorganizadora da economia.
 
Previsibilidade é uma palavra fundamental para poder organizar a vida das famílias, e também planejar a vida de cada um dos segmentos da sociedade, dos diversos setores econômicos.
 
Destaco neste episódio, a atuação objetiva e firme do governador de São Paulo, Márcio França. Preocupado com o vácuo de respostas dos governantes, tomou a frente buscando soluções que normalizassem a vida da população paulista.
 
As lições são muitas. A mais grave delas é que temos um vazio de poder enorme no Brasil. A presidência da República demonstrou não ter conhecimento da situação, não ter discernimento suficiente para identificar a profundidade do problema que se iniciava, e demorou a tomar iniciativas.
 
Quando o fez, foi no afogadilho de atender pontualmente reivindicações ou buscando aplacar um problema político. Um vazio imenso de poder, um risco de que crises institucionais possam acontecer.
 
Setores da população clamaram por uma intervenção militar e isto não pode ser ignorado. Corresponde a uma vontade de mudar, a uma falta de referências. Impõe-se que, de uma forma consistente, comecemos a construir alternativas que tenham consistência e credibilidade. Fortalecer o debate de qualidade para as próximas eleições, viabilizar candidaturas que preencham esse espaço ou esse vazio de poder será comprometedor das instituições e da própria democracia brasileira.  



Arnaldo Jardim -  deputado federal PPS/SP




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