O
estímulo monetário, com redução da taxa de juros básica, tem sido o destaque no
processo de reversão cíclica da economia brasileira
O principal impulsionador de
crescimento econômico atual tem sido o estímulo monetário, que se reflete num
patamar historicamente baixo da taxa de juros básica. É o que mostra a nova
edição da Visão Geral, da Carta de Conjuntura do Ipea. Divulgada nesta
terça-feira, 15, a pesquisa indica ainda que, embora a expansão econômica tenha
ficado um pouco abaixo do esperado nos últimos meses, os setores de bens de
capital e de bens de consumo duráveis – os que sofrem influência mais direta
das taxas de juros e da oferta de crédito – tiveram excelente desempenho. “Uns
indicadores apontam numa direção e outros na outra. Começamos a investigar uma
ampla gama de indicadores, com o intuito de fazer uma análise mais detalhada da
conjuntura. Quando se olha apenas para alguns dados, a oscilação no curtíssimo
prazo é muito grande, mas isso não deveria gerar mudanças bruscas de
expectativas”, explica José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos
e Políticas Macroeconômicas.
Num cenário caracterizado por níveis
ainda elevados de desocupação e por um quadro de incerteza política devido à
proximidade das eleições, o bom desempenho desses setores demonstra que a
economia está reagindo aos estímulos monetários e que a retomada segue seu
curso, ainda que de forma gradual. A política monetária barateou o crédito,
provocando um efeito positivo que ajuda a explicar esse desempenho. “A taxa de
juros menor favorece o aumento do consumo de bens duráveis e o crescimento dos
investimentos, que estão concentrados em máquinas e equipamentos”, ressalta o
diretor do Ipea.
A utilização da capacidade instalada
da indústria no país segue se recuperando. “Apesar de continuar em níveis
elevados, a ociosidade na indústria de transformação vem caindo”, pontua
Leonardo Mello de Carvalho, do Grupo de Conjuntura do Ipea. No entanto, como
revelado pelo Indicador Ipea Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o
desempenho da construção civil continua negativo na comparação com 2017,
mostrando a dificuldade de retomada do setor.
Marco Antônio Cavalcanti,
diretor-adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas, ressalta que, de forma
geral, as perspectivas da economia brasileira continuam positivas, embora
sujeitas a incertezas. “Na ausência de novas fontes significativas de
volatilidade ou instabilidade no cenário externo, ou no front político
doméstico, a atividade deverá continuar em sua trajetória de recuperação
gradual ao longo do ano.”
Para o mercado de trabalho, a novidade
é a análise conjunta dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADC), do IBGE, e daqueles do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. A informalidade –
trabalhadores sem carteira e por conta própria – ainda é a maior responsável
pelo aumento da ocupação.
“Num período de retomada, essa melhora do emprego é
mais gradual. Nos períodos em que a economia começa a ter queda, o emprego não
se altera concomitantemente. Ele demora naturalmente a reagir à conjuntura. Na
retomada ocorre o mesmo. Estão sendo gerados empregos, inclusive formais, mas
de forma lenta”, explica José Ronaldo, diretor do Ipea. A taxa de desocupação,
calculada com dados ajustados, vem mantendo-se praticamente estável nos últimos
três trimestres, girando em torno de 12,5% – patamar ainda muito alto, mas 0,6
ponto percentual inferior ao de um ano antes.
Uma piora é identificada na
conjuntura internacional, com impacto sobre a taxa de câmbio. O risco-país,
influenciado por fatores externos e internos, também vem aumentando. É o que
mostra o Indicador Ipea de Risco Idiossincrático do Brasil. A tendência de
aumento do risco-país por motivos internos teria começado ainda no início de
dezembro, possivelmente como reflexo das dificuldades em se avançar nas
reformas que viabilizem o equilíbrio fiscal de longo prazo. Mais recentemente,
é provável que sua elevação esteja relacionada às incertezas do cenário
político dos próximos anos.
Consumo
Aparente
Lançado
conjuntamente com a Visão Geral, o Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens
Industriais registrou queda de 2%, na série com ajuste sazonal, entre fevereiro
e março, em que pese, no acumulado de 12 meses, a alta de 3,7% na demanda por
bens industriais – ritmo de crescimento mais intenso que o apresentado pela
produção doméstica, de 2,9%, mensurada pela Pesquisa Industrial Mensal de
Produção Física (PIM-PF) do IBGE. “Quando se analisam os indicadores de
atividade, esses dois setores [produção de bens de capital e de bens de consumo
duráveis] continuaram crescendo. Dentro os consumos duráveis, destaca-se o
excelente desempenho da venda de automóveis. É uma atividade com peso
importante dentro do setor”, resume Leonardo Mello de Carvalho. As vendas de
automóveis acumularam 738 mil unidades no primeiro quadrimestre do
ano, patamar 20,4% maior que o verificado no mesmo período de 2017.
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