Planejamento
energético é essencial para diminuir a queima de combustíveis fósseis, que gera
impactos na saúde e no meio ambiente
A informação sobre uma possível falta de
combustível provocou uma corrida aos postos já nos primeiros dias de
paralisação dos caminhoneiros. Filas quilométricas, histórias de pessoas que
dormiram ou passaram horas dentro dos carros para garantir um pouco de gasolina
ou etanol não foram raras. Esse cenário revela a excessiva dependência que
temos dos combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo) e a
necessidade de pensar em alternativas para a geração de energia.
Segundo a doutora em Gestão Pública pela FGV,
diretora do World Resources Institute (WRI-Brasil) e membro da Rede de
Especialistas em Conservação da Natureza, Rachel Biderman, é importante usar
essa crise para refletir sobre como estamos sujeitos ao petróleo - o que nos
torna vulnerável a interesses econômicos e políticos, além de causar
enormes impactos na saúde e no meio ambiente. "Além dos preços abusivos,
estamos reféns também da falta de uma política energética focada nas energias
renováveis, perdendo na competição com outras economias emergentes que já
aderiram às mesmas”, explica.
Ainda de acordo com a especialista, a queima de
combustíveis fósseis gera enormes impactos na saúde das pessoas e no meio
ambiente. Os gases que saem dos escapamentos dos veículos são altamente
poluentes, resultando no agravamento do efeito estufa e em mudanças climáticas.
Essas alterações no clima também afetam as hidrelétricas, suscetíveis aos cada
vez mais recorrentes períodos de seca nos rios. "Um círculo vicioso na
série de consequências causadas pela queima dos combustíveis", alerta.
Para se ter uma ideia sobre a abrangência do
problema, um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra
que, em todo o mundo, nove em cada dez pessoas respiram ar poluído e
contaminado. A OMS associa a falta de pureza do ar a vários problemas de saúde,
como doenças cardiovasculares, Acidente Vascular Cerebral e doença pulmonar
obstrutiva crônica. A entidade estima que sete milhões de pessoas morrem todos
os anos por problemas causados diretamente pela poluição.
Para Rachel, a crise demonstra que os últimos
governos não priorizaram o planejamento energético e as energias renováveis,
como solar e eólica. “A política que a gente tem hoje não contempla ganho de
escala. Precisamos melhorar os incentivos para que o uso dessas energias
sejam relevantes no Brasil”, explica. Enquanto isso, países como China, Índia e
México avançam no uso de alternativas energéticas. Para isso, criaram políticas
públicas, pacotes de pesquisa e fazem uso de subsídio público que viabilizam
projetos.
Para a especialista, o Brasil vai avançar quando
ouvir mais a academia, pesquisadores e empreendedores que estão trazendo
soluções na área de energia renovável. “É preciso criar políticas públicas e
priorizar investimentos no setor para alavancar essa economia”, conclui.
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