Especialista do
Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula dá dicas sobre como lidar com
as dores de cabeça
O Dia Nacional de Combate à Cefaleia é lembrado
em 19 de maio, por iniciativa da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), com o
objetivo de chamar a atenção da população a respeito das dores de cabeça. A
doença está entre as que mais incapacitam as pessoas de realizarem suas
atividades diárias e, apenas no Brasil, atinge cerca de 140 milhões de
habitantes. Segundo a Academia Brasileira de Neurologia, estima-se que 94% dos
homens e 99% das mulheres apresentam cefaleia ao longo da vida. Cerca de 70%
das pessoas apontaram a dor no último ano.
De acordo com a Associação Internacional para o
Estudo da Dor, a prevalência média da enxaqueca ao longo da vida é de 18%,
tendo seu pico na população com idade entre 30 e 50 anos, enquanto da cefaleia
tensional é de 52%.
“Os números são alarmantes. Quando não tratada
adequadamente, existe maior risco de a cefaleia se tornar crônica, ou seja, no
início o paciente experimenta poucos dias de dor, podendo até ser considerada
‘normal’, e, com o passar do tempo, associando a diversos fatores (como o uso
excessivo de analgésicos), passa a ter dores praticamente diárias, com grande
impacto no trabalho, vida social e pessoal”, afirma Alexandre Bossoni,
neurologista do Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula.
Segundo o especialista, as cefaleias podem ser
classificadas em primárias e secundárias.
Cefaleia primária: é quando a própria dor de cabeça é a doença a ser tratada e não há
nenhum problema estrutural, como tumores, anomalias ósseas ou anatômicas
provocando a dor de cabeça. O problema está na maneira em como o cérebro recebe
e processa os estímulos da sensibilidade e das dores. Fazendo um paralelo com a
informática, é como se fosse um defeito de “software”, que analisa de forma
errada a informação. Exemplos deste caso são as cefaleias de tensão e a
enxaqueca.
As cefaleias primárias podem evoluir com piora da
frequência e da intensidade das crises, transformando-se em uma cefaleia
crônica diária - essa mudança é decorrente de diversos fatores, um deles,
bastante frequente, é o uso excessivo de analgésicos orais por automedicação.
De 3 a 5% da população mundial adulta sofre de cefaleia crônica diária, tendo
dificuldades no trabalho, na vida pessoal, emocional e social por ter de
convier diariamente com a dor.
É importante ressaltar que, independente da
gravidade e intensidade da dor, existem tratamentos disponíveis para amenizar
os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Neuropatias cranianas dolorosas, outras dores
faciais e outras cefaleias são parte do grupo de cefaleias primárias e engloba
a neuralgia do trigêmeo, uma dor aguda ou semelhante a um choque elétrico em
partes do rosto. Outros nervos cranianos também podem ser acometidos.
Cefaleia secundária: é quando a cefaleia é sintoma de outra doença, por exemplo: sinusite,
gripes, tumores cerebrais, aneurismas, meningite. A avaliação de um médico é
importante para recomendar exames que possam confirmar ou descartar um ou outro
diagnóstico, que terá um tratamento específico.
Os sinais que frequentemente indicam uma cefaleia
decorrente de outra doença são: febre, início súbito de dores muito fortes,
além de outros sintomas no corpo. O paciente já convive com alguma dor e, ao
longo do tempo, ela piora progressivamente, ficando mais forte, frequente e
resistente aos medicamentos. Além disso, a mudança do padrão da dor, ou seja,
do jeito como o paciente a sente, e as dores que ocorrem durante a prática de
atividades físicas são sinais de alarme para dores decorrentes de outras
doenças. Cefaleias novas, que aparecem após os 50 anos, merecem uma avaliação
especial.
Tratamento
Segundo o neurologista, para cada tipo de
cefaleia há um tratamento específico, que contempla desde terapias
não-farmacológicas (mudança de hábitos e vícios, fisioterapia e psicoterapias,
técnicas de relaxamento e acupuntura) a terapias farmacológicas (analgésicos,
antidepressivos, anti-hipertensivos e anticonvulsivantes, ou medicações
injetáveis, como a toxina botulínica em casos específicos, como os de enxaqueca
crônica). Já o tratamento das cefaleias secundárias é direcionado à sua causa e
pode envolver cirurgias, antibióticos e anticoagulantes.
Alguns tipos de cefaleia são mais comuns em
mulheres, influenciadas pelas oscilações hormonais do ciclo menstrual. A
principal delas é a enxaqueca, três vezes mais comum do que em homens. Após a
menopausa, quando não há mais uma oscilação hormonal tão grande, a proporção em
mulheres e homens tende a se igualar. Já nos homens, são mais comuns as
cefaleias em salvas, uma das mais intensas dores descrita na medicina. Trata-se
de um tipo de dor que é localizada somente em uma parte da cabeça.
A toxina botulínica, aquela mesma usada para tratamentos
estéticos, tem sido aplicada para controle das crises de enxaquecas. Em cada
sessão, a substância pode ser injetada em até 39 pontos da cabeça e do pescoço,
com intervalos de aproximadamente 12 semanas, controlando bem os sintomas. A
terapia é indicada para os casos de enxaqueca crônica.
Uma novidade, anunciada nos Estados Unidos, são
os novos medicamentos injetáveis: um anticorpo (anti–CGRP) a ser aplicado na
veia que também pode controlar crises de enxaqueca. Usado regularmente, previne
a ocorrência de crises. O tratamento ainda não chegou ao Brasil e não se sabe o
valor estimado por aqui.
Prevenção
O médico afirma que diversos fatores podem
desencadear uma crise, entre eles, aspectos emocionais, estresse, variações
bruscas de temperatura e umidade do ar, fatores hormonais e alimentação.
“A ideia de normalidade atribuída à cefaleia é
perigosa, atrasa o diagnóstico e o tratamento adequado, podendo ainda levar à
automedicação, grave problema cultural em nosso país, mas também não significa
que toda e qualquer mínima dor de cabeça signifique uma doença ou algo grave.
Escute seu corpo. Se algo te incomoda, busque orientação e ajuda especializada
de um neurologista de confiança. A dor é o meio de que seu corpo tem de chamar
sua atenção de que algo não vai bem, mas não é sinal, necessariamente, de uma
doença orgânica, pode ser, por exemplo, apenas um hábito de vida ruim”,
ressalta o Dr. Alexandre Bossoni.
Veja abaixo algumas dicas do
neurologista:
- Dor de cabeça também pode ser fome. Ficar muito
tempo em jejum pode levar à queda de açúcar no sangue (hipoglicemia), que é um
dos principais desencadeadores da enxaqueca, e à abstinência de outras
substâncias, como a cafeína, que também pode desencadear a cefaleia. O consumo
de alimentos que liberam açúcar podem também causar dores muito rapidamente.
- Problemas oftalmológicos, como hipermetropia,
miopia e astigmatismo, podem causar dor de cabeça. Nesses casos, o paciente
relata acordar bem, mas durante ou no final do dia começam as dores. A este
tipo de queixa damos o nome de astenopia. Uveítes (doenças inflamatória nos
olhos) e glaucoma agudo também podem provocar essas dores de cabeça.
- Durante uma crise sempre tenha o medicamento
indicado pelo médico por perto. Em caso de dor intensa, procure um local fresco
e escuro para recostar. Beba muita água, coma moderadamente e mantenha-se em
repouso. Colocar gelo sobre as áreas doloridas também pode minimizar a dor.
- A herança genética tem sua contribuição no
desenvolvimento da cefaleia, mas observa-se que os hábitos de vida do paciente
também influenciam muito. Um indivíduo que come mal, fuma, bebe, não faz
exercícios físicos regularmente e não tem um sono reparador terá uma maior
chance de desenvolver ou agravar uma cefaleia preexistente.
- A cafeína potencializa os efeitos de outros
analgésicos e tem sido usada no auxilio do tratamento da cefaleia,
principalmente na enxaqueca e na cefaleia do tipo tensional, inclusive em casos
de abstinência da bebida. Porém, o uso abusivo ou em indivíduos sensíveis a
esta substância pode precipitar alguns tipos de cefaleia, principalmente a
chamada cefaleia em salvas que, como foi falado anteriormente, é a mais intensa
de todas.
O Hospital Santa Paula
Av. Santo Amaro, nº 2468 - Vila Olímpia - (11) 3040-8000
Referências:
Sociedade Brasileira de Cefaleia - https://sbcefaleia.com.br
Academia Brasileira de Neurologia - http://www.abneuro.org.br/
International Association for the Study of Pain -
https://www.iasp-pain.org/
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