Muitas
cidades se definem inteligentes quando identificam características de
conectividade, inclusão digital, força de trabalho e conhecimento. Por meio de
aplicações inovadoras e de tecnologias, elas apoiam a partilha comunitária
envolvendo elementos cumulativos, como governança, mobilidade, uso inteligente
de recursos naturais, cidadãos e economia. Devido à dinâmica de restrição de
espaços e alta densidade populacional, as cidades são naturalmente concebidas
para compartilhar economias com consumo. Porém, se suas melhorias são setoriais
ou limitadas, elas não podem ser chamadas de inteligentes.
A
transformação de cidades em inteligentes beneficia o uso de recursos urbanos
como espaço, transporte, serviços, alimentos, bens e dinheiro. E a economia
compartilhada permite o emprego desses recursos de forma colaborativa,
definindo um modelo socioeconômico que permite o uso de ativos subutilizados,
num sistema em que a oferta e demanda interagem para uma melhor oferta de
produtos e serviços.
Do
lado da oferta, os indivíduos podem oferecer coisas como aluguel de curto prazo
de seus veículos ociosos ou salas extras em seus apartamentos ou casas. Do lado
da demanda, os consumidores podem se beneficiar em alugar bens a um preço menor
ou com gastos transacionais mais baixos do que comprar ou alugar por meio de um
provedor tradicional. E esse compartilhamento, facilitado pela tecnologia e
pela internet, já é uma realidade: Airbnb, Snap-Goods, Uber e RealyRides são
exemplos de conexões que desbloqueiam o valor inerente ao compartilhamento de
recursos sobressalentes em plataformas e oferecem muitas vantagens para atrair
os dois grupos por meio de efeitos de rede.
Por
meio da tecnologia, compartilhar economia fornece a base dessas inovações de
maneira imediata, contribuindo para que uma cidade se torne inteligente. Com
uma infraestrutura tecnológica significativa, a forma como os recursos são
compartilhados é transformada, sendo o capital humano destacado nesse cenário,
uma vez que a inteligência das cidades leva em consideração, acima de tudo, o
bem-estar da sociedade. Assim, os cidadãos podem liderar vidas criativas,
embora ainda encontrem uma barreira para a tão esperada revolução: a confiança.
Apesar
de uma cidade inteligente ser feita para o cidadão, sua inovação esbarra
exatamente nele. Dentre todos os outros fatores humanos, confiar é o mais
importante desafio da economia compartilhada, uma vez que se trata de um
sistema dependente de outros usuários.
Para
atingir com sucesso essa ideia, uma alternativa seria o uso da tecnologia blockchain, pois ser “livre
de confiança” é uma característica central dos relacionamentos dos indivíduos
na abordagem baseada em blocos. Com a eliminação de intermediários, redução dos
custos operacionais e aumento da eficiência de um serviço de compartilhamento,
os indivíduos têm autonomia sobre os registros de cada transação realizada, que
são inseridos na rede.
Nos
serviços de compartilhamento, a confiança não é colocada em um indivíduo, mas
sim distribuída em toda a população. O uso das autoridades centrais é
substituído por uma comunidade de pares na forma de uma rede peer-to-peer. Sendo assim,
ninguém pode tomar ações unilateralmente em nome da comunidade e os serviços de
compartilhamento acabam sendo democratizados e livres de confiança. Nessa
hipótese, o software pode automatizar grande parte do processo de transação,
permitindo que as promessas contratuais sejam aplicadas sem envolvimento
humano. Simples. Prático. Seguro. E, assim, cidades realmente inteligentes.
Débora Morales é mestra em Engenharia de Produção (UFPR)
na área de Pesquisa Operacional com ênfase a métodos estatísticos aplicados à
engenharia e inovação e tecnologia, especialista em Engenharia de
Confiabilidade (UTFPR), graduada em Estatística e em Economia. Atua como
Estatística no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).
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