O
aumento da medicalização infantil é um fenômeno global, que atinge
principalmente crianças de baixa renda, de acordo com o Centro de Doenças de
Crianças (CDC,2013, EUA). No Brasil, também temos pesquisas que demonstram
esse crescimento e apontam desde diagnósticos de depressão, até o fenômeno do
Transtorno de Déficit Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Segundo
pesquisa realizada pela Universidade de Amsterdam, em 2017, os efeitos do uso
da Ritalina em pacientes com sintomas do TDAH são influenciados pela primeira
exposição do paciente à droga, na infância ou no período de vida adulta. O
estudo sugere que alterações de longo prazo ocorrem no cérebro de pacientes que
iniciaram o tratamento quando crianças; a mesma reação, no entanto, não
acontece em adultos. Ainda não se sabe se essas mudanças têm de fato melhorado
os níveis cognitivos e comportamentais das crianças, mas indica que a
administração da droga seja mais segura se realizada na idade adulta.
A
questão é que, muitas vezes, há confusão entre uma criança agitada e cheia de
energia com os sintomas do TDAH. Ao encaixar a criança nos sintomas do
transtorno, no entanto, os pais recorrem ao uso de Ritalina. Mas é preciso
lembrar que o medicamento é uma anfetamina, que tem como princípio ativo o
Cloridrato de Metilfenidato e pode, sim, causar dependência.
Mas
por que mesmo sendo alertados sobre os possíveis efeitos negativos do uso
incorreto da droga, os pais ainda medicam seus filhos com Ritalina, sem ter
certeza do diagnóstico de TDAH? Porque há uma certa sedução na forma como o
remédio é apresentado. Conhecido como a Pílula da Inteligência, o medicamento
pode ter efeitos imediatos na atuação da memória e provocar o aumento da
disposição e o foco nos estudos, fazendo com que alguns pais imaginem que seus
filhos vão sofrer uma transformação em suas personalidades e serão “obedientes”
e ficarão mais calmos.
Entretanto,
a Ritalina só pode ser utilizada em casos confirmados de TDAH. Para
confirmação, é preciso utilizar ferramentas específicas como o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Se bem administrada,
seu uso pode ser positivo. Já em casos de crianças arteiras e curiosas, não! É
importante reconhecer: há muitos fatores perigosos com o uso indiscriminado
desse medicamento.
Segundo
estudo realizado em 2018 por pesquisadores da Universidade do Porto, em
Portugal, por exemplo, doses orais relevantes de Ritalina podem aumentar o
metabolismo cardíaco e cerebral, mas também podem provocar danos nos rins e no
coração de adolescentes que fazem uso da droga.
Em
primeiro lugar, a compra da Ritalina é realizada somente mediante a
apresentação de receita médica, pois é classificada como tarja preta e contém
diversas contraindicações, que vão desde o aumento de nervosismo à crise de
ansiedade e, em casos mais graves, pode levar a depressão e convulsões.
No
caso de crianças agitadas que não se enquadram no diagnóstico, há muitas
alternativas. O incentivo da prática esportiva, atividades artísticas e
musicalização, além de uma rotina organizada, são excelentes medidas, bem como
a busca por atendimento psicopedagógico que por sua vez ajudará na
concentração. E atenção: a grande quantidade de atividades nos horários livres
também não é indicada. É importante deixar a criança realizar um compromisso
por vez, além de disponibilizar tempo para brincar livremente e se
autoconhecer.
Por
fim, é fundamental restringir o uso de tablets, videogames e televisão. Em contrapartida,
são indicados passeios ao ar livre e o contato com a natureza, que
proporcionará autonomia e autoconfiança às crianças e aos futuros adultos.
Genoveva Ribas Claro -
coordenadora do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Psicopedagogia do Centro
Universitário Internacional UNINTER. Dinamara Pereira Machado é diretora da
Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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