Pega a folhinha.
Conta. 1, 2,3. Três já foram. Faltam agora só nove e a coisa que creio todo
mundo mais deseja é não ter que passar esses nove meses esperando que nasça um
novo Brasil. Temendo que esteja sendo gestado um monstro nascendo prematuro,
tirado a fórceps. Que vá direto para uma encubadeira.
Entra
dia, sai dia, entra noite, sai noite. É na hora do café da manhã, do almoço, do
jantar. Se bobear, também na hora do lanche. Uma informação estranha, muito
estranha, uma prisão, uma soltura, uma chacina, assaltos, explosões. Tiros. Um
desaforo. Um telecatch entre ministros supremos, alguma deselegância.
Será
que estão se dando conta? Três meses já foram. Mais três tem Copa do Mundo, que
era só o que faltava para esse ano; soma mais três e – lembra? – Eleições.
Nacionais. Para a Presidência, Governo dos Estados, Senado, Câmara Federal.
Seria a hora boa para trocar, renovar, arejar, oxigenar. Seria.
Mas
nossas mãos embalam um berço ainda vazio. O que poderia vir como novo se dedica
especialmente a infernizar a Mãe Pátria, chutando bem a sua barriga, e nessa
gravidez múltipla – põe múltipla nisso – com mais de dez candidatos a herdeiro,
um tenta enforcar o outro com o cordão umbilical, tomar as forças, tomar a
frente, nascer.
E,
pior, parece que todos são gêmeos quase idênticos, para o nosso desespero, nós
que esperamos aqui do lado de fora. Querendo saber se é menino ou menina, o tom
da pele, se vai nos libertar ou censurar; se vai propor o desarmamento de
espíritos, se vai querer estudar e ser alguém ou viver de dar jeitinho. Com
quem vai parecer. Queremos ver a carinha, saber de que cor vai ser seu enxoval,
sua roupinha, se branca, verde ou encarnada. Se cantaremos cantigas
românticas, ou hinos nas ruas, com o velho refrão: o povo unido, jamais será
vencido.
Ficamos
aqui torcendo – pelo andar desse andor – que ao menos nasça de parto
minimamente natural. Ao menos isso temos de conseguir nesse meio tempo, já que
os nossos desejos ainda terão de ficar esperando. O ovo ainda não mostra a
serpente.
Não
há como negar, contudo, que essa gravidez está bem tumultuada e estressante.
Tanto que não dá nem pra desejar comer melancia com pão, ou sorvete de bacon.
Temos de nos ater ao arroz e feijão, pondo a mão para cima, louvando se os
temos.
Há
fantasmas rondando esse berço, vindos de uma espiral do tempo, de 68, 78, 88,
por diante, e não são rotações. As farsas se repetem. E nesse futuro-presente
vêm ampliadas em redes virtuais, tecnológicas, não humanas, redes que ainda não
têm a sua capacidade de destruição totalmente identificada.
Sai
pra lá, bicho papão! Dona Cegonha, tenha piedade de nós.
Marli
Gonçalves - jornalista – Que confusão é
essa? Que bandalheira é essa? Que gestação é essa, que nós é que sentimos as
contrações?
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