58% dos brasileiros não gostam de dedicar tempo para cuidar das próprias finanças, aponta pesquisa do SPC Brasil e CNDL
Embora 61% admitam que boa gestão do
orçamento depende de familiaridade com matemática, parte dos consumidores evita
prestar atenção em números no dia a dia. Impulsividade nas compras atinge 45%
dos entrevistados
O consumidor
brasileiro reconhece a importância de fazer o controle das finanças pessoais,
mas parte significativa admite não seguir à risca essas boas práticas. Um
levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais mostra
que a organização financeira não é uma tarefa que atrai os consumidores. Em
cada dez entrevistados, seis (58%) admitem que nunca ou somente às
vezes gostam de dedicar
tempo a atividades de controle da vida financeira. E há, também, aqueles que
precisam recorrer ao crédito para complementar a renda. De acordo com a
pesquisa, 17% dos consumidores sempre ou frequentemente precisam usar cartão de
crédito, cheque especial ou até mesmo pedir dinheiro emprestado para conseguir
pagar as contas do mês. Esse percentual aumenta para 24% entre os mais jovens.
Para o educador financeiro do portal ‘Meu
Bolso Feliz’, José Vignoli, uma vida financeira saudável depende do esforço
de cada consumidor em buscar fontes adequadas de informação e exercitar a
disciplina para incorporá-las no seu cotidiano. “Muitas pessoas poderiam,
facilmente, ter acesso às informações necessárias para ter um orçamento mais
equilibrado, mas não parecem conseguir. Elas pensam que dá trabalho ou que é
muito difícil manter o controle sobre as despesas e se esquecem de que
trabalhoso mesmo é encarar o endividamento e a restrição ao crédito. Lidar com
o dinheiro exige disciplina e comprometimento para viver dentro da sua
realidade financeira e não tomar decisões equivocadas”, orienta Vignoli.
Exemplo de que uma vida financeira equilibrada traz mais satisfação e
tranquilidade, é que 56% dos consumidores ouvidos no levantamento disseram que se sentem melhor
quando fazem um planejamento das despesas para os próximos seis meses. O
problema, novamente, é que nem sempre isso acontece na prática porque 48%
deles nunca ou somente às vezes fazem um planejamento cuidadoso dos passos a seguir para ficar dentro do orçamento
nos meses seguintes. Esse problema surge com ainda mais força entre os
consumidores de mais baixa renda (classes C, D e E), com 51% de citações.
Planejar-se para realizar um sonho de consumo também não é um hábito comum para
a maioria dos consumidores. Os que estabelecem metas e as seguem à risca quando
querem adquirir um bem de mais alto valor, como uma casa, um automóvel ou
realizar uma viagem, por exemplo, somam 48% da amostra. Nesse caso, o comportamento
é mais frequente entre as pessoas das classes A e B, com 59% de menções. Os que
nunca ou somente às vezes fazem esse tipo de esforço somam outros 48% dos
entrevistados. Há ainda 38% que nem sempre possuem planos para o futuro.
Para 61%, controle da vida financeira está
relacionado a conhecimentos numéricos, mas 19% ‘fogem” de números no dia a dia
e 39% não calculam juros
O levantamento do SPC Brasil também descobriu que, na opinião dos consumidores,
ter algum tipo de familiaridade com matemática e conhecimento sobre números
facilita a chance de se ter um controle mais efetivo sobre a vida financeira. Em
cada dez brasileiros, seis (61%) acreditam que informações numéricas são úteis na vida financeira diária e 62% acham
que aprender a interpretar números é importante para tomar boas decisões
financeiras. Porém, nem sempre essas pessoas procuram, de fato, informar-se a
respeito desses temas.
A pesquisa detectou que 19% dos entrevistados não costumam prestar
atenção em assuntos que
envolvem números, percentual que aumenta para 24% entre os homens e 27% entre
os mais jovens. Há ainda 39% de brasileiros que nunca ou somente às
vezes calculam o quanto
pagam de juros ao parcelar uma compra. Outros 53% garantem fazer esse cálculo
com frequência. Quando parcelam alguma compra, um terço (33%) dos entrevistados
nem sempre sabem se já possuem outras prestações que comprometem o orçamento.
“O conhecimento sobre juros é algo essencial para as finanças de quem parcela
compras ou contrata algum financiamento, por exemplo. Os juros encarem o valor
total a ser pago pelo consumidor, principalmente em casos de atrasos, e se não
são bem analisados e pesquisados entre várias instituições, podem comprometer a
organização do consumidor”, esclarece a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela
Kawauti.
A busca por informações entre especialistas também é algo negligenciado por boa
parte dos consumidores brasileiros. Somente três em
cada dez (31%) garantem sempre ou frequentemente ver dicas de especialistas sobre a gestão da vida financeira. Além
disso, apenas 17% costumam participar de cursos, palestras e seminários para
aprender a fazer a gestão do próprio orçamento. Outros 49% nunca participam
dessas atividades, ao passo que 25% reconhecem que às vezes vão atrás desse
tipo de informação.
“Hoje com a facilidade de acesso à internet, esse número poderia ser muito
maior. Há uma grande oferta de conteúdo de qualidade e gratuito em portais,
vídeos e até mesmo nas redes sociais que tratam da relação com o dinheiro de
forma leve, descomplicada e aplicada às situações comuns do dia a dia”, afirma
Vignoli.
45% costumam ceder às tentações do consumo
impulsivo e apenas 38% são autoconfiantes para identificar bons investimentos
A pesquisa também mostra que parte expressiva dos entrevistados cede às compras
por impulso e tomam atitudes de consumo desregradas. Quando estão realizando
compras, um terço (33%) dos brasileiros disse que
nunca ou apenas às vezes avalia se
realmente precisam do produto para não se arrepender depois. Além disso, 45% nunca
ou somente às vezes conseguem resistir às promoções e comprar apenas aquilo que
está planejado.
Também se pode notar que algumas posturas desaconselháveis do ponto de vista
financeiro são adotadas. De acordo com a pesquisa, 19% dos consumidores acham
mais importante gastar dinheiro hoje do que guardar para o futuro, embora 77%
garantam às vezes ou nunca se comportarem assim.
Sobre pensar no futuro, a pesquisa detectou que muitos brasileiros não se
sentem preparados para a tarefa de investir. Somente 38%
disseram que admitem ter confiança em sua capacidade de identificar bons investimentos e 22% desconhecem os
tipos de aplicações que rendem as melhores taxas de retorno. Além disso, apenas
metade (51%) da amostra sabem sempre ou com frequência o quanto precisam
guardar todos os meses. “Certas modalidades podem render muito mais, mas também
estão sujeitas a variações e perdas mais significativas. Adequar o tipo de
investimento à personalidade e à situação financeira de quem vai investir é
essencial. Perfis mais avessos ao risco pedem modalidades mais conservadoras,
enquanto consumidores mais ousados podem optar por investimentos mais voláteis
e com maior possiblidade de retorno”, explica a economista Marcela Kawauti.
Metodologia
Foram entrevistados 805 consumidores acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de
todas as classes sociais nas 27 capitais. A margem de erro é de no máximo 3,5
pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%. Baixe a íntegra da
pesquisa em https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas
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