O recém massacre de estudantes na escola da
Flórida, nos EUA, que deixou 17 mortos, entre alunos e funcionários, despertou
novamente a pergunta do motivo da recorrência desses episódios no país
norte-americano. O ocorrido faz pensar quais as reflexões e aprendizagem que se
deve ter, com certa urgência, aqui no Brasil e no mundo com relação a este
atentado.
Para o Professor e Doutor Rabino Samy Pinto a
primeira questão que se deve pensar é sobre a comercialização de armas e sobre
como a facilidade em obtê-las parece ser uma característica da sociedade
americana. “É preciso entender que a arma de fogo é um instrumento que deveria
ser de competência única e exclusiva da polícia e do exército, para a defesa
dos cidadãos e das leis que regem a sociedade. Um exemplo é o caso de Israel,
morei e estudei por dez anos no país, e era comum ver metralhadoras pelas ruas,
mas sempre na mão de militares e policiais. E mesmo assim não tínhamos
episódios como o da Flórida, porque o armamento não estava nas mãos dos civis,
e sim das autoridades. Essa facilidade da população conseguir se armar não deve
ser chamada de democracia, mas sim de irresponsabilidade”, comenta o Rabino.
Além de refletir sobre se há na sociedade americana
uma flexibilidade exagerada para o porte de armas, outro ponto a agregar neste
debate é sobre a saúde mental e distúrbios psíquicos da sociedade atual.
“Estudos mostram que ultimamente as pessoas estão frustradas, depressivas e
revoltadas com a situação em que se encontram. Ao olhar essa questão, vale
pensar no caminho que a humanidade está seguindo para produzir tanta revolta,
frustração e desequilíbrio na mente de um jovem, a ponto dele tomar uma atitude
que nada poderia justificar”, questiona Samy.
O rabino Samy Pinto ainda aponta uma terceira
questão para se avaliar no massacre na escola da Flórida, a relação da escola
com o aluno. Um dos pontos levantados no debate foi o fato do autor do ataque,
Nikolas Cruz, ter sido expulso da escola, então questões educacionais devem ser
consideradas e revistas: “o que leva um estudante a repetir de ano?” e “o que
faz um adolescente ser expulso da escola?”. “Que sinalização o aluno já está
dando para nós educadores de que algo está errado? Uma coisa é certa, um
estudante que não atende a escola, já não está atendendo a sociedade, e isso
precisa ser levado com maior seriedade pelo Estado. Eu sempre defendi que a
escola não prepara para a vida, já é uma demonstração dela”, comenta.
A escola é um ambiente em que o indivíduo aprende a
conviver com outras pessoas, a ter e a respeitar a liberdade, conhecer sobre a
diversidade, porque ninguém é igual ao outro, e também aprender a repartir com
o próximo. “Um aluno que está sendo reprovado no sistema escolar, ou sendo
expulso dele, não encontra outra alternativa a não ser lutar contra uma
sociedade que o expulsou por não estar de acordo com ela. Ele não está inserido
na instituição, não está sendo reconhecido e portanto a agride. Como dizia
Paulo Freire, a escola é uma ciência de transformação, então as pessoas que não
atendem a escola, não se transformaram portanto são eliminadas. No que elas são
eliminadas, elas se colocam contra”, explica Samy.
De acordo com o Professor Dr. Rabino Samy Pinto, esses são pontos de
reflexão, é preciso uma tarefa multidisciplinar para debater e encontrar
caminhos para que se façam projetos preventivos e se evite que novos episódios
aconteçam, seja nos EUA ou em qualquer parte do mundo.
Rabino Samy Pinto - formado em
Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade
Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e
Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é
diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o
responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como
sinagoga da Abolição.
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