sábado, 24 de fevereiro de 2018

Mais de 60% das crianças irão apresentar pelo menos um episódio de otite média até os seis anos de idade



 Doença pode desencadear a otorreia


Gripes, resfriados, rinites, sinusites e adenoide podem desencadear infecções no ouvido médio, chamadas de otite média (OM), causadas por vírus, bactérias e até mesmo fungos. Considerada a mais comum em crianças com até seis anos de idade, a OM lidera as causas de ida ao médico e uma das principais fontes de morbidade (convalescência, doença) na infância.

Também é a principal doença que motiva a prescrição de antibióticos e indicação de cirurgias na infância. “Mais de 60% das crianças nesta faixa etária irão apresentar episódios de OM em algum momento. Até os três anos de idade, praticamente todas as crianças irão apresentar pelo menos um episódio de otite média aguda e cerca de 50% delas terão episódios recorrentes”, informa Dra. Jeanne Oiticica, especialista em Otorrinolaringologia e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Na maioria das vezes a causa da OM é bacteriana. Streptococcus pneumoniae, Haemophilus Influenzae, Staphylococcus aureus, Moraxella catarrhalis e S pyogenes são as bactérias que mais comumente causam otites. Em crianças de até dois anos de idade os vírus representam cerca de 40% dos casos, entre eles o vírus Syncycial respiratório e o Rhinovirus humano. A perfuração espontânea da membrana timpânica é uma complicação que pode ocorrer em até 30% dos casos.


Sintomas - A OM pode ser dividida em categorias: aguda (OMA), aguda recorrente (OMAR), com efusão (OME), crônica (OMC), crônica supurativa (OMCS). A OMA se caracteriza por efusão na orelha média, quadro de início abrupto e brusco, com sinais e sintomas de inflamação local (muita dor que pode interferir no sono e nas atividades rotineiras, sensação de ouvido tampado, otorreia); além de sintomas sistêmicos como febre, mal-estar geral, falta de apetite, náuseas, vômitos.

Dra. Jeanne explica que o pico de prevalência da OMA ocorre dos 6 a 18 meses de idade. Algumas crianças apresentam episódios recorrentes de OMA (OMAR), cuja definição inclui 3 ou mais episódios de OMA em seis meses ou quatro ou mais episódios de OMA em 12 meses.

Já a OME é definida por efusão na orelha média sem os sinais e sintomas decorrentes da infecção aguda da orelha. Ela varia de sintomas ausentes ou mínimos, à distúrbios do sono, e até mesmo perda auditiva significativa e impacto direto na fala.

OME que persiste por mais de 3 meses pode ser considerada OMC. Ela pode ocorrer como parte da recuperação da OMA, tendo em vista que a inflamação aguda foi resolvida, porém bactérias remanescentes ainda podem estar presentes na orelha. “A OMCS indica inflamação persistente na orelha média, que leva à otorreia (purgação do ouvido, vazamento de pus pelo ouvido), que persiste por pelo menos duas semanas (em alguns casos até meses ou anos), com perfuração da membrana timpânica. A otorreia pode vir associada à dor de ouvido, febre, sensação de ouvido tampado e até tontura e zumbido.


Tratamento - Antibióticos, corticoides, gotas tópicas no ouvido (em casos de perfuração da membrana timpânica), analgésicos e anti-inflamatórios são formas comuns de tratamento na vigência de quadro agudo, crise aguda de OM. “Para evitar recorrências, é fundamental tratar a causa da otite, seja ela rinite, adenoide, baixa imunidade, alergia etc. Em alguns casos, a cirurgia faz-se necessária, a depender da recorrência dos sintomas e do impacto direto na fala, linguagem, sono, qualidade de vida da criança em questão”, explica a especialista.

As complicações de otites são raras, ocorrem em cerca de 1% dos casos ou um pouco mais a depender das condições de saúde da população em questão. Elas incluem mastoidite aguda (a infecção se alastra para o osso do ouvido), paralisia do nervo facial (é o nervo que inerva a face, pode ser facilmente percebida pois a face fica torta), labirintite (é raro, mas pode acontecer da infecção se alastrar para o labirinto que é nosso órgão do equilíbrio), meningite, abcesso intracraniano (coleção purulenta que acumula dentro do cérebro), dentre outras.

“Em alguns casos há necessidade de internação hospitalar para que a medicação seja feita na veia, ou um procedimento cirúrgico para drenagem da secreção (timpanotomia), colocação de tubo de ventilação ou mastoidectomia. Aproximadamente 20 mil pacientes morrem por ano em decorrência das complicações das OM, com maior mortalidade em crianças menores de 5 anos. Além disso, as formas recorrentes e crônicas podem trazer sequelas importantes incluindo: perda auditiva, impacto negativo nas habilidades de aprendizagem e na aquisição da linguagem e escolaridade em crianças”, relata a Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
 

Prevenção - As OMs podem vir acompanhadas de comorbidades como má nutrição, anemia, HIV, dentre outras. Aleitamento materno, evitar o cigarro durante e após a gestação, reduzir a exposição à poluição ambiental podem prevenir o aparecimento de OMA, suas complicações e sequelas.

O tratamento imediato, adequado e correto dos quadros de gripes, resfriados, alergias, rinites e sinusites é fundamental, pois evita-se que a doença se alastre e ocupe a orelha média. “A Vacina Pneumococcus Conjugada (VPC) tem impacto direto na prevenção das OM. A VPC13, capaz de conferir imunidade a 13 cepas diferentes é eficaz na prevenção de otites pelo S pneumoniae. As vacinas Haemophilus Influenzae tipo B (Hib) conjugadas praticamente erradicaram a doença Hib invasiva em crianças, nos países onde tais vacinas são usadas rotineiramente”, explica Dra. Jeanne.


 
 


Dra. Jeanne Oiticica - Médica otorrinolaringologista, concursada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Senso-Stricto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP. Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professora Colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Responsável do Ambulatório de Surdez Súbita do hospital das Clínicas – São Paulo.


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