Cidades
como São Paulo, Rio de Janeiro, dentre inúmeras outras no nosso país, possuem
histórias longas, pois foram fundadas logo no início da colonização portuguesa.
Isso fez com que muitas das suas construções sejam antigas, em parte por um uso
contínuo desses prédios, e também em grande parte pela preservação histórica.
Claro que os prédios não são tão velhos quanto a cidade, a maioria data de
períodos mais recentes com algo em torno de 40 ou 50 anos, mas o fator
histórico mostra uma cultura de preservação dos cidadãos, que é muito positiva
para a cidade em termos de turismo, conhecimento e patrimônio cultural.
O problema
é quando esses edifícios, alguns nem tão históricos apenas antigos, possuem
problemas de saúde que não são imediatamente notados, pois são problemas de
saúde estrutural, uma doença da construção, por assim dizer. Uma delas é a SED,
Síndrome do Edifício Doente. Segundo a OMS (Organização
Mundial da Saúde), a SED é definida como "um conjunto de doenças causadas
ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados". Estes espaços
fechados, em sua maioria, são as grandes edificações as quais começaram a
surgir na década de 1970 e hoje são os lugares onde passamos a maior parte de
nosso tempo. Em casos extremos chegamos a ter construções do fim da década de
1930. Prédios de serviços públicos ou de empresas mais velhas no centro da
cidade, e até mesmo residências, sãos os principais focos do SED.
É possível notar essas construções
pelo estilo arquitetônico da época, pelo tamanho, pela ausência de tecnologias
que só vieram a surgir mais adiante, e que não foram atualizadas na construção.
No caso de riscos à saúde é que temos umproblema. A SED pode ser percebida
quando em pelo menos 20% dos usuários (ocupantes) destas grandes edifições
aparecem sintomas tais como dor de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza.
A existência da SED só foi reconhecida pela OMS na década de 80, quando houve
uma contaminação coletiva de pneumonia num hotel na Filadélfia, o que ocasionou
a morte de 29 pessoas.
No Brasil, o caso marcante foi no fim
da década de 1990, quando morreu o então ministro das Comunicações, Sérgio
Motta, em função do agravamento de seu quadro clínico que, segundo muitos, foi
devido à presença de fungos no ar. Segundo especialistas no assunto, a SED não provoca doenças, mas pode
colaborar para agravar males em pessoas pré-dispostas ou até mesmo provocar um
estado passageiro. Ou seja, quando estas pessoas saem das edificações
consideradas com SED os sintomas desaparecem.
Numa outra linha de raciocínio, a SED pode provocar alguns males (ou
doenças) compartilhados. Um exemplo clássico disso é o caso da já citada
contaminação coletiva no hotel na Filadélfia (EUA) em 1976 pela bactéria
assassina Legionella pneumophila a qual causou uma forma rara e grave de pneumonia.
Um dos
grandes problemas é que não temos uma ideia de quantos prédios hoje sofrem disso,
nas grandes metrópoles. Este é um dado difícil de se
adquirir, talvez por medo dos responsáveis pela administração dos prédios e
condomínios em passar a informação. Porém, segundo a própria OMS, pelo menos 30
% das edificações em todo o mundo sofrem de SED. No Brasil, este número pode
chegar a 50 %. São números alarmantes, mas que não tocam as autoridades
competentes, surpreendentemente.
Talvez a
pergunta mais importante nesse momento, seja: como combater isso? Já que muito
está em risco. Uma das primeiras coisas a se fazer é cuidar das instalações de
ventilação e climatização, como ar condicionado, desses prédios. Já ouvi dizerem que o ar condicionado é o culpado desse tipo de
situação, porém isso é um dado enganoso. O equipamento só é causa quando o
mesmo foi mal dimensionado, mal projetado, mal instalado e muito mal mantido.
Podemos citar vários outras causas importantes da SED tais como acúmulo de
poeira, grande presença de VOC (compostos orgânicos voláteis) e até mesmo os
produtos de limpeza, todos eles responsáveis por alergias e irritações nas vias
respiratórias.
Portanto, a melhor forma de combater (ou evitar) a SED é, entre outras,
manter o ambiente limpo, ter controle sobre a quantidade de VOC dentro dos
ambientes, ter controle sobre a quantidade e qualidade dos produtos de limpeza
e conceber um bom sistema de ar condicionado, desde o seu projeto, passando
pela instalação e comissionamento, até uma manutenção com qualidade. O próprio
ar condicionado é algo necessário, vivemos em um país de altas temperaturas,
mas é preciso estar atento aos cuidados pertinentes.
Os cuidados com o prédio fazem muita diferença, então estar atento a
isso é tarefa da administração, mas também pode ser motivada por um olhar
cuidadoso e proativo dos ocupantes em geral.
Francisco
Pimenta - engenheiro e membro do DNPC.
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