Esta é a segunda vez que a ave é registrada
no Estado de São Paulo. A primeira vez foi há quase dois séculos. Descoberta
comprova a importância das áreas protegidas
Uma descoberta histórica na área da
ornitologia foi feita no Parque Estadual Serra do Mar e está chamando a atenção
de especialistas e pesquisadores. O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus)
– uma das aves mais ameaçadas das Américas e uma das mais raras do mundo – foi
registrado pela segunda vez no Estado de São Paulo, após 197 anos do primeiro
registro, no Núcleo Padre Dória, em Salesópolis, numa área restrita à
visitação. De tão rara, a espécie foi considerada extinta entre os anos de 1940
e 1950.
A ave foi encontrada pela vigilante do
parque, Fabiana Pereira, que estava fazendo ronda de rotina com a máquina
fotográfica que sempre a acompanha em seus trabalhos. De repente, viu uma ave
que chamou a atenção pelo local onde se encontrava e resolveu fazer a foto. “Na
hora pensei: parece um biguá. Olhando a foto, percebi que o bicho tinha um
topete chique, mas não dei muita importância. Quatro meses se passaram, até que
reconheci o pato-mergulhão numa reportagem da TV. Foi aí que caí na real, era
uma ave considerada extinta no Estado de São Paulo e eu a encontrei! Sou
apaixonada pela natureza e esse achado me deixou muito feliz, porque mostra a
importância do parque e do nosso trabalho na preservação das espécies”.
Devido à relevância do registro, as equipes
dos Núcleos Caraguatatuba e Padre Dória se uniram na elaboração de uma nota
científica com o título: “Second record of Brazilian Merganser Mergus
octosetaceus in the state of São Paulo, south-east Brazil, after almost two
centuries” ou “Segundo registro do Pato-mergulhão Mergus
octosetaceus para o Estado de São Paulo, Sudeste do Brasil, após quase dois
séculos”. Tal nota foi submetida ao “Bulletin of the British
Ornithologist’s Club” e encontra-se em análise por este, que é um dos mais
importantes veículos científicos voltados para a ornitologia no mundo (http://boc-online.org/bulletin).
Os autores da nota são o gestor do
PESM-NUCAR, Miguel Nema Neto, a vigilante e autora do registro, Fabiana Dias
Pereira, a gestora do PESM – NPDor, Ana Lúcia Wuo e o diretor regional da
Fundação Florestal, Carlos Zacchi Neto. Segundo Miguel, “o trabalho demonstrou
a importância do manejo adequado das Unidades de Conservação e suas zonas de amortecimento
para garantir a perpetuação de espécies como esta. O pato-mergulhão é um dos
patos mais raros do mundo e mais ameaçados das Américas. A partir desta
descoberta, buscaremos apoio da comunidade científica para definirmos as
estratégias de conservação, a fim de garantir a vida da espécie no local.”
O pato-mergulhão
Adaptado a cursos hídricos de regiões
montanhosas, o pato-mergulhão vive em rios límpidos e caudalosos de altitude,
principalmente em corredeiras, pousando em rochas e árvores caídas na água.
Alimenta-se de peixes e outros animais da fauna aquática. Instala seu ninho nas
fendas de rochas e em ocos de árvores mortas, às margens dos rios. Possui cor
verde-petróleo, principalmente no macho, pés vermelhos e asas com detalhes
brancos.
Pouco tolerante a impactos ao ambiente, o
pato-mergulhão é sensível a impactos ao meio ambiente e requer um habitat muito
específico viver. Qualquer alteração hidrológica em seu habitat, como a
expansão das atividades agropecuárias, a poluição e barramento de rios e a
supressão de vegetação ciliar, podem inviabilizar sua sobrevivência no local.
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