Os riscos do credor do agronegócio vão além da
inadimplência. Ao financiar produtores que infringem legislações
socioambientais – desmatam áreas de mata nativa, fazem manejo e cultivo em áreas
embargadas, de preservação e até em terras indígenas e (ou) utilização de
mão-de-obra análoga à escravidão, entre outros processos –, aos olhos da lei,
esses agentes financeiros do agronegócio estão compactuando com o ilícito,
podendo ser corresponsabilizados pelas infrações, com multas e demais sanções
passíveis de aplicação pelo Ministério Público. Além disso, ao apoiar
financeiramente projetos não idôneos, a instituição está sujeita ao risco
reputacional, mesmo que fique provado que o financiador não tinha essa
intenção. Na prática, o nome da empresa estará sistematicamente ligado às
práticas não legítimas.
Porém, ao incluir políticas de responsabilidade
socioambiental em sua análise de crédito, os bancos passam a considerar mais do
que fatores econômico-financeiros para a concessão de recursos. E é essa gestão
integrada que protege as instituições quanto aos riscos operacionais, de
reputação e até de inadimplência. Isso porque os riscos sociais e ambientais
têm correlação direta com os riscos financeiros.
É importante considerar a obrigatoriedade moral e legal de
quem financia ao observar a regularidade ambiental e social das empresas e dos
produtores rurais, que desenvolvem atividades causadoras de efetivos ou
potenciais impactos socioambientais, conforme estabelece a Lei 6.938 de 1981,
que trata da Política Nacional de Meio Ambiente. A análise de procedimentos
socioambientais danosos é o instrumento das instituições financeiras para
mitigar seus riscos e, simultaneamente, estimular processos socioambientais nos
negócios de seus parceiros comerciais.
Esse novo modelo de análise de crédito representa uma
sinalização de que os riscos causados por passivos ambientais e trabalhistas,
má gestão no relacionamento com os stakeholders ou a falta de boas práticas
de governança corporativa devem ser incorporadas ao risco financeiro no momento
da concessão de crédito. Dessa forma, o setor bancário privilegia o
financiamento de projetos que primam pela sustentabilidade.
Além disso, ao incentivar ações
sustentáveis no segmento, criando valores ambientais e sociais mais justos, os
bancos que investem na implementação de responsabilidade social e ambiental em
suas atividades-fim superam os demais, gerando vantagens competitivas e
disseminando a boa governança corporativa.
Victor Loyola - vice-presidente de
Pessoa Jurídica da Serasa Experian
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