quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Agronegócio e riscos socioambientais: quem financia também pode ter prejuízos



Os riscos do credor do agronegócio vão além da inadimplência. Ao financiar produtores que infringem legislações socioambientais – desmatam áreas de mata nativa, fazem manejo e cultivo em áreas embargadas, de preservação e até em terras indígenas e (ou) utilização de mão-de-obra análoga à escravidão, entre outros processos –, aos olhos da lei, esses agentes financeiros do agronegócio estão compactuando com o ilícito, podendo ser corresponsabilizados pelas infrações, com multas e demais sanções passíveis de aplicação pelo Ministério Público. Além disso, ao apoiar financeiramente projetos não idôneos, a instituição está sujeita ao risco reputacional, mesmo que fique provado que o financiador não tinha essa intenção. Na prática, o nome da empresa estará sistematicamente ligado às práticas não legítimas.

Porém, ao incluir políticas de responsabilidade socioambiental em sua análise de crédito, os bancos passam a considerar mais do que fatores econômico-financeiros para a concessão de recursos. E é essa gestão integrada que protege as instituições quanto aos riscos operacionais, de reputação e até de inadimplência. Isso porque os riscos sociais e ambientais têm correlação direta com os riscos financeiros.

É importante considerar a obrigatoriedade moral e legal de quem financia ao observar a regularidade ambiental e social das empresas e dos produtores rurais, que desenvolvem atividades causadoras de efetivos ou potenciais impactos socioambientais, conforme estabelece a Lei 6.938 de 1981, que trata da Política Nacional de Meio Ambiente. A análise de procedimentos socioambientais danosos é o instrumento das instituições financeiras para mitigar seus riscos e, simultaneamente, estimular processos socioambientais nos negócios de seus parceiros comerciais.

Esse novo modelo de análise de crédito representa uma sinalização de que os riscos causados por passivos ambientais e trabalhistas, má gestão no relacionamento com os stakeholders ou a falta de boas práticas de governança corporativa devem ser incorporadas ao risco financeiro no momento da concessão de crédito. Dessa forma, o setor bancário privilegia o financiamento de projetos que primam pela sustentabilidade.

Além disso, ao incentivar ações sustentáveis no segmento, criando valores ambientais e sociais mais justos, os bancos que investem na implementação de responsabilidade social e ambiental em suas atividades-fim superam os demais, gerando vantagens competitivas e disseminando a boa governança corporativa.




Victor Loyola - vice-presidente de Pessoa Jurídica da Serasa Experian


 

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