Nova medicação apresenta alta possibilidade de cura, mas é restrita à
rede privada de saúde brasileira e médico leva o tema em congresso mundial
sobre a doença
Embora o
câncer de pele em geral seja o mais frequente no Brasil e corresponda a 30% de
todos os tumores malignos registrados no país, segundo o Instituto Nacional de
Câncer (Inca), o melanoma representa apenas 3% das neoplasias malignas. Porém é
o mais agressivo devido à sua alta possibilidade de metástase (quando o câncer
se espalha além do local onde começou para outras partes do corpo). O tumor, no
início, pode parecer inofensivo, entretanto pode se alastrar rapidamente para
os nódulos linfáticos e chegando a atingir órgãos como cérebro, pulmões e
fígado.
“Dados como
estes deveriam deixar a população de países tropicais, como o nosso, em alerta
constante. Afinal, o maior vilão quando falamos em câncer de pele é o sol. E,
por aqui, temos sol o ano inteiro”, alerta o especialista em oncologia Vinícius
Correa da Conceição, do Grupo SOnHe - Sasse Oncologia e Hematologia.
O médico,
que é membro titular da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da
Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO), afirma que o câncer é uma questão de
saúde pública, com impacto social e econômico. “O arsenal terapêutico para o
tratamento do melanoma evoluiu significativamente ao longo dos últimos anos. Há
novos medicamentos – como o Ipilimumab – que apresentam alta possibilidade de
cura, mas é restrito aos pacientes da rede privada de saúde. Isto tem que
mudar”, exalta.
O tema se
consolidou em estudo realizado pelo Grupo SOnHe e foi apresentado por
Vinicius no 9º Congresso Mundial de Melanoma, realizado em Brisbane, Austrália,
em outubro. O evento, considerado o mais importante do mundo sobre a doença,
reuniu os principais pesquisadores e clínicos de melanoma de diversos países
que mostraram os últimos desenvolvimentos no diagnóstico, tratamento e pesquisa
de melanoma. O título do trabalho apresentado pelo médico brasileiro é
“Avaliação clínica e econômica do Ipilimumab para melanoma metastático no
Brasil: uma perspectiva do sistema de saúde pública”.
“Enquanto
sociedade médica, sabemos e compactuamos que o desafio da escolha da melhor
abordagem terapêutica do melanoma deve considerar não apenas fatores como a
conveniência do tratamento, qualidade de vida, toxicidade e desfechos em saúde,
mas também, a custo-efetividade e os impactos econômicos da incorporação de
novas tecnologias. Mas infelizmente, o paciente brasileiro portador da doença
metastática, sendo usuário dos serviços públicos de saúde, dispõe oficialmente
de uma única abordagem de tratamento”, explica o médico sobre esse fator
limitante no Brasil e que foi exposto no congresso.
Paciente
curado
Médicos são
taxativos quanto o assunto é câncer de pele: “observe as pintas que temos pelo
corpo e qualquer alteração deve ser avaliada pelo especialista. Não se deve
ignorar nenhum detalhe”. E a orientação tem um motivo positivo e importante. “O
melanoma tem ais de 95% de chance de cura quando diagnosticado precocemente se
tratado da forma adequada”, aponta o oncologista Vinicius.
O
farmacêutico aposentado Sérgio Pimentel, de 62 anos, travou sua batalha
particular contra o melanoma e venceu. Em 2013, uma pequenina pinta, menor que
uma cabeça de fósforo, surgiu em seu nariz e o médico pediu para observar e ela
logo caiu. Em 2014, a pinta voltou a crescer e precisou ser retirada com
cirurgia e encaminhada para uma biópsia, que diagnosticou o câncer de pele. Em
20 dias após a descoberta, um novo caroço surgiu em seu pescoço e rapidamente o
paciente precisou ser operado quando foi descoberto o melanoma. “Depois desse
diagnóstico, em questão de dias, haviam vários nódulos no meu pulmão e
linfonodos no meu pescoço. No total, eram 26 e aquela simples pinta tornou-se
um melanoma metastático. Fiz cirurgia, radioterapia, quimioterapia e o
tratamento não evoluiu. O médico já havia me explicado sobre uma nova
medicação, que estava apresentando resultados muito satisfatórios, mas o
problema era o custo: R$ 85 mil cada dose”, conta Sérgio.
A medicação
apontada foi o Ipilimumab. Otimista com a nova possibilidade, Sérgio pagou pela
primeira dose e se surpreendeu com os resultados. “Após a aplicação do remédio,
os nódulos começaram a diminuir. Com os resultados, entrei com um pedido
judicial ao plano de saúde para que conseguisse continuar com o tratamento e a
solicitação foi aceita. Fiquei feliz, mas é muito triste ter que passar por
esse desgaste em um momento delicado desses. No total foram quatro doses e como
um milagre eu não tinha mais nada”, afirma o aposentado, praticante de
atletismo. Ele acredita que ter descoberto o câncer no começo, estar em boa
forma física e ter condições de acesso à nova medicação foram as chaves para
sua cura.
No Brasil,
o Inca estima que serão diagnosticados cerca de 6.000 casos da doença até o
final de 2017.
Grupo SOnHe - Sasse Oncologia e Hematologia
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