terça-feira, 17 de outubro de 2017

Quer escolher a carreira certa? A neurociência te ajuda



Quando falamos da carreira futura devemos decidir com a cabeça ou com o coração? Certamente com os dois e não precisamos nos preocupar sobre como fazer isso – o algoritmo cerebral já tem tudo pronto. O importante é pensar e ao mesmo tempo perceber os feelings que acompanham as ideias. É dessa engenhosa combinação que nascem decisões sábias.

Se você experimentar abrir o telefone celular, acionar o microfone e perguntar “Google, que carreira devo escolher”, verá que a resposta virá com a abertura do navegador e uma listagem de sites com aconselhamentos sobre a escolha da carreira. Isso ocorre devido aos incríveis avanços recentes na tecnologia. Primeiro, o Google está equipado com um software que transforma voz em comandos digitais. Segundo, a empresa detém uma parcela das inovações tecnológicas do mundo e desenvolveu um algoritmo capaz de antecipar o que você deseja saber.
Algoritmos são simplesmente instruções para executar determinada tarefa. Digamos que você queira a média entre suas notas 8, 9 e 10. O algoritmo dirá “tome a primeira nota, adicione a segunda, e assim com todas as notas subsequentes, e divida o produto pelo número de notas”. A resposta é 9, mas algoritmos podem ser bem mais complexos do que isso. Um deles está escondido uma região do cérebro esperando você perguntar “então, que carreira devo escolher?” No futuro, com a transferência dos algoritmos para as máquinas — uma divisão da tecnologia chamada inteligência artificial —, o Google será direto. Em vez de nos direcionar para páginas da web, ele terá em seus algoritmos as nossas preferências pessoais e todas as curtidas realizadas. Ele poderá informar sobre qual carreira devemos pensar seriamente.
Talvez você queira argumentar dizendo “mas por que oceanologia, se nem entendo de oceanos?” A disciplina denominada machine learning será capaz de “aprender a conhecer" você melhor do que você mesmo. Nem mesmo você lembrava como costumava dar longos passeios à beira do mar coletando conchas da areia, mas o algoritmo da máquina jamais esquece essas coisas.
Mas ainda não chegamos em 2025 e você precisa decidir sobre sua carreira agora, utilizado seus próprios algoritmos. Em primeiro lugar, eles estão codificados em neurônios. Segundo, estão agrupados em uma região do cérebro chamada córtex prefrontal, exatamente atrás dos olhos. Vamos ao funcionamento do algoritmo. Ele possui uma entrada denominada cognitiva e outra, que conta com muito peso, chamada interna. Ao pensar sobre a sua carreira, você provavelmente já possui alguns pontos de partida. Esta ou aquela carreira é rentável? Terei liberdade para tomar minhas próprias decisões ou terei que ser obediente a alguém? O conhecimento técnico necessário está dentro do meu gosto? São informações chamadas cognitivas. Uma parte do córtex prefrontal vai armazená-las no processo da consulta do algoritmo.
A segunda fonte é a que traz ao cérebro informações acerca do funcionamento dos órgãos do organismo. O neurocientista Antonio Damasio, trabalhando durante muitos anos na Universidade de Iowa nos EUA, detectou que o processo de tomada de decisões é acompanhado de feelings, em cuja base está a facilidade com que as operações internas são realizadas. Através de estudos de imagem ele e sua equipe conseguiram detectar que pessoas com lesões cerebrais que afetam áreas que nada tem a ver com conhecimento, raciocínio, fluência ou memória – mas que monitoram as atividades internas do organismo – são incapazes de tomar decisões que lhes sejam favoráveis.
O batimento do coração é dono de um ritmo que não pode ser chamado exatamente de regular. Certos batimentos do coração ocorrem fora da regularidade rítmica habitual. São batimentos fora do tempo (como o golpe da guitarra base no contratempo do reggae song). Eles não são percebidos como algo fora do normal, mas para os centros de tomadas de decisão cerebrais elas agem como um “sim" ou “não", dependendo de como a questão está sendo tratada nos corredores da mente. Muitas vezes, toda uma rede cognitiva favorável para determinada decisão está sendo armada, mas subitamente a decisão segue na direção oposta. Isso se deve à chegada de um feeling – uma escolha intuitiva, que viaja em trem bala diretamente do coração.
Então, quando falamos da carreira futura devemos decidir com a cabeça ou com o coração? Certamente com os dois e não precisamos nos preocupar sobre como fazer isso – o algoritmo cerebral já tem tudo pronto. O importante é pensar e ao mesmo tempo perceber os feelings que acompanham as ideias. É dessa engenhosa combinação que nascem decisões sábias. Por enquanto é assim, mas talvez no futuro o Google vá também cuidar disso para nós.



Dr. Martin Portner - Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness. www.martinportner.com.br




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