Quando falamos da carreira futura
devemos decidir com a cabeça ou com o coração? Certamente com os dois e não
precisamos nos preocupar sobre como fazer isso – o algoritmo cerebral já tem
tudo pronto. O importante é pensar e ao mesmo tempo perceber os feelings que
acompanham as ideias. É dessa engenhosa combinação que nascem decisões sábias.
Se você experimentar abrir o telefone celular, acionar o microfone
e perguntar “Google, que carreira devo escolher”, verá que a resposta virá com
a abertura do navegador e uma listagem de sites com aconselhamentos sobre a
escolha da carreira. Isso ocorre devido aos incríveis avanços recentes na
tecnologia. Primeiro, o Google está equipado com um software que transforma voz
em comandos digitais. Segundo, a empresa detém uma parcela das inovações
tecnológicas do mundo e desenvolveu um algoritmo capaz de antecipar o que você
deseja saber.
Algoritmos são simplesmente instruções para executar determinada
tarefa. Digamos que você queira a média entre suas notas 8, 9 e 10. O algoritmo
dirá “tome a primeira nota, adicione a segunda, e assim com todas as notas
subsequentes, e divida o produto pelo número de notas”. A resposta é 9, mas
algoritmos podem ser bem mais complexos do que isso. Um deles está escondido
uma região do cérebro esperando você perguntar “então, que carreira devo
escolher?” No futuro, com a transferência dos algoritmos para as máquinas — uma
divisão da tecnologia chamada inteligência artificial —, o Google será direto.
Em vez de nos direcionar para páginas da web, ele terá em seus algoritmos as
nossas preferências pessoais e todas as curtidas realizadas. Ele poderá
informar sobre qual carreira devemos pensar seriamente.
Talvez você queira argumentar dizendo “mas por que oceanologia, se
nem entendo de oceanos?” A disciplina denominada machine learning será
capaz de “aprender a conhecer" você melhor do que você mesmo. Nem mesmo
você lembrava como costumava dar longos passeios à beira do mar coletando
conchas da areia, mas o algoritmo da máquina jamais esquece essas coisas.
Mas ainda não chegamos em 2025 e você precisa decidir sobre sua
carreira agora, utilizado seus próprios algoritmos. Em primeiro lugar, eles
estão codificados em neurônios. Segundo, estão agrupados em uma região do
cérebro chamada córtex prefrontal, exatamente atrás dos olhos. Vamos ao
funcionamento do algoritmo. Ele possui uma entrada denominada cognitiva e
outra, que conta com muito peso, chamada interna. Ao pensar sobre a sua
carreira, você provavelmente já possui alguns pontos de partida. Esta ou aquela
carreira é rentável? Terei liberdade para tomar minhas próprias decisões ou
terei que ser obediente a alguém? O conhecimento técnico necessário está dentro
do meu gosto? São informações chamadas cognitivas. Uma parte do córtex
prefrontal vai armazená-las no processo da consulta do algoritmo.
A segunda fonte é a que traz ao cérebro informações acerca do
funcionamento dos órgãos do organismo. O neurocientista Antonio Damasio,
trabalhando durante muitos anos na Universidade de Iowa nos EUA, detectou que o
processo de tomada de decisões é acompanhado de feelings, em cuja
base está a facilidade com que as operações internas são realizadas. Através de
estudos de imagem ele e sua equipe conseguiram detectar que pessoas com lesões
cerebrais que afetam áreas que nada tem a ver com conhecimento, raciocínio,
fluência ou memória – mas que monitoram as atividades internas do organismo –
são incapazes de tomar decisões que lhes sejam favoráveis.
O batimento do coração é dono de um ritmo que não pode ser chamado
exatamente de regular. Certos batimentos do coração ocorrem fora da
regularidade rítmica habitual. São batimentos fora do tempo (como o golpe da
guitarra base no contratempo do reggae song). Eles não são
percebidos como algo fora do normal, mas para os centros de tomadas de decisão
cerebrais elas agem como um “sim" ou “não", dependendo de como a
questão está sendo tratada nos corredores da mente. Muitas vezes, toda uma rede
cognitiva favorável para determinada decisão está sendo armada, mas subitamente
a decisão segue na direção oposta. Isso se deve à chegada de um feeling – uma
escolha intuitiva, que viaja em trem bala diretamente do coração.
Então, quando falamos da carreira futura devemos decidir com a
cabeça ou com o coração? Certamente com os dois e não precisamos nos preocupar
sobre como fazer isso – o algoritmo cerebral já tem tudo pronto. O importante é
pensar e ao mesmo tempo perceber os feelings que acompanham as ideias. É dessa
engenhosa combinação que nascem decisões sábias. Por enquanto é assim, mas
talvez no futuro o Google vá também cuidar disso para nós.
Dr. Martin Portner - Médico Neurologista
, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em
Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos
clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e
mindfulness. www.martinportner.com.br
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