Quem tem um vizinho barulhento conhece bem o poder do ruído. Mas pode não saber dos males que ele causa à saúde. Desde 1972 que a Organização Mundial de Saúde considera o barulho como um poluente e, desde 2003, o reconhece como o terceiro mais danoso à saúde, atrás da poluição do ar e da água. Mas é nas ruas que está o maior perigo.
Segundo a própria OMS[1], a principal causa de ruído nas grandes cidades é o trânsito e já há estudos mostrando que seus efeitos vão muito além da perda da audição (que hoje afeta 360 milhões de pessoas em todo o mundo, gerando um custo global anual de 750 bilhões de dólares): distúrbios de sono, cardiovasculares, mentais e psicológicos, como depressão e ansiedade, cefaléia e até problemas de cognição (que afetam, por exemplo, o aprendizado por crianças). De acordo com um estudo da OMS, 1,8% dos ataques cardíacos em países europeus de alta renda são atribuídos a níveis de ruído do tráfego superiores a 60dB.
Problemas de saúde podem ser detonados por ruídos ambientais acima de 60 decibéis (dB). Ocorre que , sendo que o ruído do motor de um ônibus a diesel é superior a essa faixa: estudo da Proteste em parceria com a Sociedade Brasileira de Otologia mostrou que em São Paulo, a média de ruído ficou em 76,7 decibéis; no Rio, alcançou 80,4 decibéis. Como o tempo médio que o paulistano passa no trânsito é de quase três horas por dia, o barulho do trânsito é, sim, um problema de saúde pública.
O problema do barulho dos ônibus é tão grande que chegou a gerar um projeto de lei no Congresso Federal, que visava proibir a colocação de motores na parte dianteira. Sua justificação foi uma pesquisa do Ministério Público do Trabalho de Brasília com cerca de 15 mil motoristas e cobradores do transporte de passageiros no Distrito Federal que mostrou que 45% desses profissionais apresentavam perda auditiva devido aos níveis elevados de ruído, sendo este um dos índices mais altos do País.
A cidade de São Paulo tem agora a chance de reduzir esse tipo de poluição: está tramitando na Câmara dos Vereadores projeto de lei que visa equacionar o não cumprimento, pelas empresas de ônibus da cidade, da Lei Municipal do Clima, que previa a migração de 100% para veículos movidos a combustíveis limpos até 2018. Entre os combustíveis limpos estão os ônibus elétricos, que livram o trânsito da barulheira dos motores a diesel. Além de serem a melhor opção do ponto de vista da poluição sonora, eles também reduzem a poluição do ar e, segundo estudo do Greenpeace, são ainda a opção mais econômica quando se analisa o custo global de vida útil por ônibus.
Mas mesmo antes da invenção dos carros, ônibus e caminhões, o barulho dos meios de transporte já incomodava os brasileiros. Segundo relatou Márcia Barbosa Corrêa, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), à reportagem da revista Planeta, "no Brasil, em 1867, havia multas para carros de bois, cujos eixos rangessem por falta de graxa. Em 1912, um ato municipal proibiu o estalo de chicotes em cavalos que conduziam carruagens".
[1] Este estudo também confirma que o trânsito é a principal causa de ruído nas cidades: https://ij-healthgeographics.biomedcentral.com/articles/10.1186/1476-072X-12-44
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