Na
semana passada, a imagem de uma professora de 51 anos com o sangue escorrendo
no rosto viralizou e provocou indignação nas redes sociais. Marcia Frigi dá
aulas de português e literatura num supletivo para adolescentes e adultos em
Indaial, município catarinense de pouco mais de 55 mil habitantes, a 160 km de
Florianópolis. Local da agressão: a sala de aula. Causa: pediu a um aluno de 15
anos que colocasse o livro que tinha no colo sobre a carteira, suspeitando que
ele estivesse ocultando um celular. O garoto reagiu com um palavrão. A
professora o expulsou da sala e foi agredida primeiro com o livro e depois com
socos.
Lamentável,
mas o que é pior, agressões físicas ou verbais de alunos a professores se
multiplicam, geralmente em manifestações contra a tentativa de impor a
disciplina necessária para o bom aprendizado. Isso tanto nas escolas
particulares quanto nas públicas, especialmente em regiões carentes ou
periféricas. O agressor da professora Marcia, como tantos outros, tem
antecedentes de abuso e violência: uma surra do pai alcoólatra o deixou em coma
e já bateu em colegas e na própria mãe. Como tantos outros, uma das raízes
desse caso deve estar na desestruturação familiar ou na falta de limites
impostos pelos pais, que até endossam comportamentos inadequados dos filhos, o
que enfraquece ainda mais a já rarefeita autoridade do professor em classe.
O
trágico cenário desse descompasso surge em pesquisa realizada há menos de dois
anos: quase 5 mil docentes relataram ameaça à vida, mais de 16 mil tiveram
pertences furtados e quase 15 mil citaram casos de porte de faca ou arma de
fogo dentro do colégio. Experiências de outros países mostram que é possível
reverter a situação. Ou seja, o caminho para pacificar as escolas já está
traçado e testado. Inclui capacitação de professores para lidar com
alunos-problema e adoção de normas claras e outras medidas contra a violência,
como detectores de armas, assistência psicológica a jovens e familiares,
equipes treinadas para coibir a violência. E, principalmente, mão firme dos
governos e da sociedade. E, principalmente, dos pais interessados em
possibilitar aos filhos uma boa educação.
Luiz Gonzaga Bertelli - presidente do Conselho de
Administração do CIEE.
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