Como identificar problemas de audição e treinar as habilidades
auditivas
Saiba qual a
distinção entre ouvir e escutar, os fatores que influenciam nesse processo e
dicas para ampliar a capacidade cerebral e alcançar uma compreensão
satisfatória da fala.
É tão automático o processo de escuta que não nos
damos conta de que para chegar no cérebro o som percorre um interessante
caminho.
As ondas sonoras são coletadas pelo pavilhão
auricular e transportadas através do canal auditivo externo até o tímpano que
vibra quando tocado pelo som. Três pequenos ossos: martelo, bigorna e estribo,
conhecidos como ossículos, formam uma ponte entre o tímpano e a orelha interna
e vibram em resposta aos movimentos do tímpano e, assim, amplificam e
encaminham o som através da janela oval, que é uma entrada para orelha interna
onde fica a cóclea, que é similar a uma concha de caracol. Ela contém inúmeras
membranas repletas de fluídos que começam a se mover, estimulando as pequenas
células nervosas, chamadas células ciliadas que enviam impulsos elétricos
através do nervo auditivo ao cérebro, aonde eles serão interpretados como som.
“Ouvir não é a mesma coisa que escutar, quem
“ouve” é o ouvido, que capta o som e, quem “escuta” é o cérebro, que interpreta
o som. Toda esta engrenagem, que envolve desde o ouvido até áreas específicas
do cérebro, precisa funcionar em perfeito estado para garantirmos um bom
processo de interpretação da mensagem que foi dita”, explica a fonoaudióloga
especialista em audiologia, Katya Freire.
Fatores de risco e diagnóstico
Se algum dos componentes dessa engrenagem forem
afetados ao longo da vida a nossa capacidade de ouvir e escutar pode ficar
comprometida.
Existem diversos fatores que podem causar perda
auditiva como, perfuração da membrana timpânica, cerume no conduto auditivo
externo,
fluído na orelha média, infecção de orelha média, em geral conhecidas como otites médias, além de exposição a níveis de pressão sonora elevados, reação a drogas, traumatismos, fatores genéticos, o desgaste natural pela idade, entre outros casos.
fluído na orelha média, infecção de orelha média, em geral conhecidas como otites médias, além de exposição a níveis de pressão sonora elevados, reação a drogas, traumatismos, fatores genéticos, o desgaste natural pela idade, entre outros casos.
Segundo Katya Freire alguns sintomas são
característicos e podem ajudar a identificar a perda auditiva:
- Quando alguém fala seis e a pessoa entende três.
- Dificuldade de compreender o que foi dito em
situações de ruído
- Pedir com frequência para a pessoa repetir o que
falou, o famoso ¨Hã?”
- Quando os outros reclamam que a pessoa está
ouvindo TV ou rádio muito altos e ela acha que está normal
- Dificuldade para compreender quando a conversa
tem mais de uma pessoa
Ao identificar que existe alguma perda de audição é
preciso avaliar qual o motivo e em que estágio se encontra, pois nem toda perda
auditiva é permanente, têm problemas de audição que são passíveis de tratamento
médico ou cirúrgico.
“Na maioria dos casos de perdas auditivas sensório
neurais, a tecnologia pode ajudar muito, e a adaptação de próteses auditivas
são muito indicadas para amplificação da fala, tornando possível a compreensão.
No entanto, somente essa amplificação não é suficiente para proporcionar uma
boa compreensão da fala, principalmente em situações de ruído”, esclarece a
fonoaudióloga.
Treinar para escutar melhor
Foi para ajudar na reabilitação de idosos usuários
de próteses auditivas que a Dra Katya desenvolveu, durante a sua tese de
doutorado na UNIFESP, em 2009, o Treinamento Auditivo Musical (TAM). Um método
que consiste no treinamento das habilidades auditivas através de 8 exercícios
com mais de 1300 variações que atuam em várias áreas do cérebro como auditivas,
motoras e visuais, afim de aumentar a capacidade cerebral de escutar.
Além dos usuários de próteses auditivas e implantes
cocleares, o TAM é indicado para pessoas que ouvem, mas não entendem, pessoas
com alteração de Processamento Auditivo Central (PAC) e com dificuldade de foco
e atenção, estudantes e amantes da música. Todos que tenham interesse em
aprimorar o cérebro a escutar melhor, desde crianças acima dos 7 anos,
adultos e idosos, com ou sem perda auditiva, podem se beneficiar do método.
Os exercícios do TAM são compostos por sons
instrumentais, arranjos musicais e imagens. A utilização da música como forma
eficaz de estimular as percepções de fala no cérebro é um recurso moderno e
comprovado cientificamente, através da pesquisa realizada pela fonoaudióloga.
“Nosso cérebro possui algumas regiões que são as mesmas tanto para identificar
a fala como a música. Optar por utilizar a música nessas regiões para estimular
as habilidades auditivas do cérebro, ao invés de ruídos de fundo que competem
com os sons de fala, é uma maneira de tornar o treinamento uma atividade, não
somente de estímulo eficaz, como também agradável”, esclarece Katya Freire. Esta
evidência, concedeu a Katya um prêmio no 18º Congresso Brasileiro de
Fonoaudiologia.
Para facilitar o acesso e utilização do TAM seu
formato é online, assim, o usuário pode praticar em qualquer lugar, sozinho ou
com o acompanhamento de um profissional.
A especialista em audiologia destaca algumas
habilidades auditivas que podem ser treinadas para aumentar a capacidade
cerebral de escutar:
- Capacidade de conseguir ouvir no meio de um som
competitivo, como por exemplo no meio de um restaurante movimentado
(figura-fundo)
- Capacidade de identificar a diferença mínima
entre os sons e a velocidade de processar as informações (padrões temporais)
- Ouvir os sons que vem de um lado, e ignorar
o do outro e vice-versa (escuta direcionada)
- A área do cérebro que é responsável pelo ritmo,
também responde pela percepção de fala (ritmo)
- Capacidade de definir o conteúdo, com apenas a
apresentação de uma parte da mensagem (fechamento auditivo)
- Memória
Katya Freire é pioneira no trabalho de preservação
e conservação auditiva de músicos. Graduada em Fonoaudiologia pela PUC-Campinas
com especialização em Audiologia pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, fez
mestrado pela PUC-SP e doutorado em Ciências pela Unifesp. Aperfeiçoamento
realizado nos Estados Unidos na San Diego State University com atuação no
Children’s Hospital de San Diego, na Califórnia. Autora do Treinamento Auditivo
Musical e de inúmeros artigos e capítulos de livros na área de Audiologia.
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