sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Suicídio: falar é enfrentar – Setembro é o mês dedicado ao tema



Discutir o problema de maneira franca e sem julgamentos é uma boa forma de auxiliar quem pensa em tirar a própria vida, diz especialista


Um mal silencioso. Assim o suicídio é percebido hoje na sociedade em geral, de acordo com instituições públicas e privadas que trabalham para reduzir o número de casos em todo o mundo. No Brasil, 32 pessoas morrem por dia, vítimas do problema. Especialmente neste mês, a campanha Setembro Amarelo busca alertar a população a respeito da necessidade de se falar sobre a questão. Abordar o assunto publicamente e da forma correta é uma das melhores formas de se evitar que muitas pessoas sigam por esse caminho sem volta, dizem os especialistas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser evitados, caso a vítima recebesse auxílio. Uma das questões levantadas pela campanha no Brasil é: "Como buscar ajuda, se quem pensa em suicídio não sabe como pode ser auxiliado?".

Números da Associação Brasileira de Psiquiatria mostram que 98,8% dos casos de suicídio estavam relacionados com histórico de doença mental, o que fortalece a convicção de que o mal, na grande maioria das vezes, pode ser evitado.


Conversar adianta

Divulgar é preciso, e da maneira adequada, enfatiza a psiquiatra Analice Gigliotti, diretora da clínica Espaço Clif e chefe do setor de Dependência Química e Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa da Misericórdia do Rio. Falar sobre o assunto com quem sofre do problema pode fazer muita diferença, garante a especialista, que inclui na conversa amigos, familiares e outras pessoas próximas a quem demonstra estar em risco.

"Quase sempre, o problema está atrelado a algum transtorno mental. Existem sinais enviados por quem pensa em cometer suicídio, que podem ser percebidos por alguém próximo", explica Analice. "Comportamentos como o isolamento, a falta de esperança no futuro e uma baixa autoestima levam a pessoa a se descuidar da saúde e da própria higiene, a não fazer mais questão de se cuidar. 

Isso também se reflete em frases como 'a vida não vale mais a pena´, ´vocês ficariam melhor sem mim´ e ´em breve não vou mais causar problemas´, entre outras expressões", explica Analice. "Devemos sempre levar a sério quando alguém fala em cometer suicídio".

Ao perceber indícios de que alguém possa estar pensando em dar fim à própria vida, é preciso ir direto ao ponto, sempre com demonstrações de apoio.

"Jamais devemos julgar quem pensa em suicídio. Amor, carinho, atenção e compreensão são as melhores atitudes a serem tomadas diante dessa pessoa", explica Analice Gigliotti. "Não há qualquer problema em se perguntar diretamente se alguém pensa em se matar. Na verdade, o suicida em potencial quer e precisa ser ouvido, mas muitas vezes não encontra essa possibilidade. Quem lida com uma pessoa que tentou cometer suicídio não deve utilizar expressões do tipo "Como você pode fazer isso comigo?" ou "Como você teve coragem?".


Auxílio médico

Além do diálogo aberto e direto, a busca por um psiquiatra é fundamental. Cabe ao profissional identificar o tipo de transtorno mental associado ao pensamento suicida e iniciar o tratamento, que pode incluir uso de medicamentos e psicoterapia.

O psiquiatra Gabriel Bronstein, que também atende na Espaço Clif, ressalta que o pensamento suicida não é uma condição permanente. Em alguns casos, observa, podem haver fatores genéticos ligados ao transtorno mental que originou o problema.

"O suicídio é um pensamento que acaba. Após o tratamento, quem superou essa situação pode nunca mais passar por isso. O importante é que o transtorno original seja identificado e devidamente cuidado", explica o médico.


Brasil em 8º

Há cerca de 20 transtornos mentais que podem levar alguém ao suicídio. Entre os mais comuns estão aqueles causados pelo uso de substâncias, a anorexia nervosa, o transtorno bipolar, a depressão e o transtorno de personalidade borderline. Em 2014, a OMS colocou o Brasil em oitavo lugar no mundo em número de suicídios. Segundo o órgão, a cada 40 segundos alguém é vítima desse mal em todo o planeta.





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