A cada ano,
1,25 milhões de pessoas morrem vítimas de acidentes no mundo
Trânsito, mobilidade urbana e
segurança viária fazem parte do escopo dos gestores públicos mundo afora. Os
acidentes de trânsito, especificamente, constituem um grave problema às cidades
e a seus administradores, já que, de acordo com informações
da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, 1,25 milhões de pessoas
morrem vítimas destas ocorrências no planeta. Muitos desses registros são associados
a altas velocidades, que potencializam o risco de colisões. Não é à toa que a
fiscalização e a redução dos limites de velocidade se revelem, cada vez mais,
medidas eficazes para conter o número de vítimas, fatais ou não, do trânsito.
A própria OMS agrupa, em outra publicação,
as vantagens dessa redução. A principal delas é a queda do número de mortos e
feridos em colisões, além de mais tempo para identificar os perigos e menor
distância percorrida ao reagir a eles. Outras vantagens são a menor distância
de parada do veículo após a freada, maior capacidade dos demais usuários para
julgar a velocidade dos veículos e o tempo até a colisão, maior oportunidade
para outro usuário evitar uma colisão e menor probabilidade de um condutor
perder o controle do seu veículo.
Em contrapartida, conforme explica o
diretor e especialista em trânsito da Perkons, Luiz Gustavo Campos, aumentar a
velocidade média aumenta a gravidade das ocorrências, em especial quando
envolvem pedestres. Prova disso é que, um pedestre
tem menos de 20% de probabilidade de morrer se atropelado por um automóvel a
menos de 50km/h, e quase 60% se atropelado a 80km/h.
Porém, reduzir a velocidade nas
cidades, ou mesmo fazer cumprir seus limites, não é tarefa fácil. Os condutores
parecem, por vezes, se render à tentação de pesar o pé no acelerador ao invés
de tentar compreender as ameaças por trás dessa conduta perigosa. Mas a
responsabilidade de promover a paz no trânsito não recai apenas sobre os
motoristas. “Os gestores devem estar preparados para enfatizar que, no
trânsito, o todo é mais importante do que as partes. É uma mudança de cultura
que só é possível com conscientização e um forte trabalho de formação de
cidadãos baseada nessa mentalidade”, salienta Campos.
Entre as ferramentas para viabilizar
o controle de velocidade, o especialista enumera: limites de velocidade
adequados, soluções de engenharia - de lombadas e estreitamento da via à
instalação de equipamentos de fiscalização eletrônica -, fiscalização efetiva e
campanhas informativas e de educação. “Na maioria dos casos, é necessária uma
combinação de medidas para criar soluções adequadas às realidades e
necessidades de cada lugar”, completa.
Para o urbanista e Presidente do
Instituto da Mobilidade Sustentável Ruaviva, Nazareno Stanislau
Affonso, mais do que a sensibilização do motorista, é preciso que o Estado se
mobilize para concretizar propostas que já são factíveis e cujos benefícios são
expressivos, como a redução da velocidade. “Conquistar a paz no trânsito exige
muita determinação dos dirigentes e o apoio popular vem junto com vidas salvas
e ruas acalmadas. Os gestores ainda são muito submissos à ideia de priorizar os
carros e não se conscientizaram que, a partir de pequenas medidas da administração,
poderão se orgulhar em salvar vidas no trânsito”, opina.
Um exemplo que preconiza o potencial
de se salvar vidas ao reduzir os limites de velocidade é a cidade de São Paulo,
onde havia sido adotado o padrão de 50 km/h, estipulado pela Organização
das Nações Unidas (ONU), em avenidas com cruzamentos, semáforos e
circulação de pessoas. Em grandes avenidas sem semáforo ou cruzamento, os
limites haviam sido fixados em 60km/h.
Recentemente, a atual administração
optou pela volta do limite de velocidade de até 90 km/h em pistas expressas e
de 60 km/h nas pistas locais, medida que tem sido alvo de polêmica. Affonso
espera que a decisão seja revista ao revisitar os dados da administração
anterior, que revelaram
queda de 27% nos acidentes de trânsito com vítimas nas marginais de 20 de julho
a 30 de agosto de 2015, em comparação ao mesmo período de 2014. “A expectativa
é que os gestores urbanos se conscientizem do quão importante é a velocidade
deixar de ser uma ameaça no trânsito. Se o poder público efetivar medidas que
ataquem o excesso de velocidade e a ingestão de álcool no trânsito, mais de 70%
das causas de óbitos nesse contexto serão eliminadas”, argumenta.
Redução da velocidade é objetivo
global
O que é tendência para o Brasil – e
muitas vezes motivo de divergência -, já compõe a realidade de muitos países,
que enxergaram as vantagens da redução da velocidade para além da segurança
viária. Entre elas, a fluidez do trânsito, a economia de combustível e os
menores índices de poluição do ar e de ruídos.
Em Nova Iorque, em 2014 o limite na
área urbana passou para 40 km/h e, em Londres, desde 2008,
a administração da capital conduz um trabalho gradativo para diminuir a
velocidade máxima para 32km/h em ruas e avenidas estratégicas. Em ambas as
cidades os óbitos caíram. Conforme o Global status report on
road safety de 2013, embora mais da metade dos países do globo
apliquem o limite máximo de velocidade urbana de 50 km/h, eles representam
apenas 47% da população mundial. Entre eles, México, Nicarágua, Cuba, Equador e
Paraguai se destacam por combinarem leis nacionais que estabelecem a velocidade
máxima de 50 km/h e por permitirem que autoridades locais as alterem, caso elas
julguem pertinente para acalmar o tráfego.
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