Não há desculpa para continuar a exibir
cenas de tabagismo em filmes que são feitos para crianças
Queremos
acreditar que estamos criando nossos filhos para pensar por si mesmos, e não
para escolher coisas não saudáveis, só porque “as crianças legais” estão
fazendo isso ou aquilo. Mas pesquisas mostram que, quando se trata do
tabagismo, as crianças são fortemente influenciadas por algumas pessoas que
consideram “mais legais” que outras pessoas: os atores dos filmes.
“Há
um relacionamento de dose-dependência: quanto mais as crianças veem fumantes
nas telas, é mais provável que fumem”, disse Stanton Glantz, professor e
diretor da Universidade da Califórnia, São Francisco, do Centro de Pesquisa e
Educação em Controle do Tabaco. Ele é um dos autores de um novo estudo
que descobriu que os filmes
populares estão mostrando mais o uso do tabaco nas telas.
“As
evidências mostram que esse é o maior
estímulo único para fumar, superando o exemplo dos pais, a influência
dos amigos ou até mesmo a publicidade de cigarros”, afirma o pediatra e
homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Os
estudos
epidemiológicos demonstram
que, se você controla todos os outros fatores de risco para o tabagismo (se os
pais fumam, atitudes em relação à tomada de risco, status socioeconômico e
assim por diante), os adolescentes mais jovens que estão mais expostos ao
tabagismo nos filmes apresentam de duas a três vezes mais probabilidade de
começar a fumar em comparação com as crianças expostas levemente aos mesmos
estímulos.
Aqueles
cujos pais fumam são mais propensos a fumar, defendem as pesquisas, mas a
exposição ao tabagismo nos filmes pode superar o benefício de ter pais que não
fumam. Em um estudo,
filhos de pais que não fumavam, com uma forte exposição ao tabagismo nos filmes,
eram tão propensos a fumar quanto os filhos de pais que fumavam com forte
exposição ao tabagismo nos filmes. Para Glantz e os outros pesquisadores
do tema, isso faz do tabagismo nos filmes uma "toxina ambiental", um
fator que ameaça as crianças.
“Não
há desculpa para continuar a exibir cenas de tabagismo em filmes que são feitos
para crianças e, portanto, o objetivo de saúde que temos é que esse seja um
tema controlado", defende o pediatra Moises Chencinski.
O
pesquisador Glantz mantém um site chamado Smoke Free Movies.
“A pressão social é para que os estúdios se policiem. O sistema de
classificação dos filmes precisa começar a considerar o tabagismo como uma
obscenidade proscrita”, defende o pesquisador.
A
ficha informativa dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças sobre
o tabagismo nos filmes estima que esse controle pouparia 18% dos
5,6 milhões de jovens que morreriam de doenças relacionadas ao tabaco - um
milhão de vidas. “Não há nada que você possa fazer que seja tão barato e
economize tantas vidas”, defende Glantz.
Fenômeno global
O
fato foi estudado em 17 países diferentes e, embora as políticas variem
amplamente e as culturas sejam muito diferentes, os resultados são
notavelmente similares. “Constata-se, consistentemente, um risco de
duas a três vezes maior em crianças que são expostas ao tabagismo na tela, em
todo o mundo”, diz Chencinski.
Até
há cinco anos atrás, as pessoas que se preocupam com o impacto do tabagismo nas
telas sobre os jovens pensaram que as coisas estavam bem. Nos filmes
classificados para o público jovem houve uma queda constante
no número de incidências de tabaco na tela. Em 2012, convencido por uma grande
variedade de evidências científicas, o Surgeon General emitiu um relatório
dizendo explicitamente que ver pessoas fumando em filmes faz com que as
crianças comecem a fumar: “estudos longitudinais descobriram que os
adolescentes cujas estrelas de cinema favoritas fumam na tela ou que estão
expostos a uma grande quantidade de filmes que retratam fumantes apresentam
alto risco de fumar”.
Mas
depois de 2010, apesar das evidências acumuladas, a taxa de tabagismo
cinematográfico começou a aumentar nos filmes indicados para a juventude, de
acordo com o novo estudo,
publicado no Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade dos CDC, que analisou
o tabaco em filmes de alta demanda de 2010 a 2016.
Quando
comparamos 2010 a 2016, houve uma ligeira diminuição no número de filmes, mas
um aumento no número de incidentes com tabagismo. O número de vezes que um ator
usou um produto de tabaco, em um filme para a juventude, aumentou 72% entre
todos os filmes. Em outras palavras, até 2016, havia mais incidentes de tabaco
concentrados em menos filmes.
“Os
filmes indicados para a juventude hoje continuam a considerar aceitável o uso
do tabaco, mas já sabemos que isso é prejudicial e faz com que a juventude seja
sujeita a essa influência nociva. A frequência do uso do tabaco nos filmes deve
ser uma preocupação de saúde pública”, diz o pediatra Moises Chencinski.
As
políticas que os estúdios implementaram em relação à questão claramente não são
suficientes. Então, o que pode ser feito? “Uma mudança possível seria avaliar
filmes com uso de tabaco com mais restrições de público. Outra medida que pode
ajudar são os estúdios não aceitarem merchandising de produtos e marcas
de tabaco reais na tela. Todas essas estratégias são apoiadas pela American
Academy of Pediatrics, que emitiu uma declaração
classificando o novo estudo como alarmante”, conta Chencinski.
Moises
Chencinski
Nenhum comentário:
Postar um comentário