Jargão
comum em nossa sociedade quando pensamos em práticas alimentares nos diz que
“você é o que você come”, mas a realidade talvez seja ainda mais complexa e
interdependente, mostrando que “o Planeta é o que você come”. Sim, o que
comemos não é apenas uma reflexão individual, mas coletiva.
Abandonarei
aqui o diálogo extremista, começando por revelar que não sou vegetariana.
Embora, toda a minha vida tenha convivido com vegetarianos e por períodos da
minha vida tenha abolido a carne vermelha, a realidade é que não há uma
exclusão completa e total da proteína animal nas minhas refeições.
Acredito
que por isso mesmo, tenha base para fazer essa reflexão, talvez de forma menos
passional e mais pautada em dados e estudos. Também acho importante dizer que
muito do que compartilharei aqui está disponível com mais conteúdo e profundidade
no documentário Cowspiracy disponível no Netflix, o trocadilho do inglês sugere
que vivemos em uma espécie de conspiração que não debate os impactos da
agropecuária na vitalidade planetária.
Primeiramente
enfocarei o viés da Sustentabilidade, estudos da Organização das Nações Unidas
comprovam que a prática da pecuária produz mais gazes de efeito estufa do que
as emissões de TODO o setor de transportes. Ou seja, a indústria bovina produz
mais gases de efeito estufa do que carros, caminhões, ônibus e trens juntos. A
ONU, junto com outras agências, sinaliza que a pecuária “é a maior fonte de
degradação do meio ambiente da atualidade”.
A
reflexão também é fundamental quando pensamos na crise hídrica, um dos trechos
do documentário sinaliza que “para produzir um hambúrguer de 113 gramas são
utilizados 2.498 litros de água. Isso significa que comer um hambúrguer
equivale a tomar banho por dois meses inteiros.”
Se
pensarmos a fundo nessas informações é impossível não sermos impactados. Quer
dizer, se você deixou o carro em casa e anda de bicicleta, bem como toma banhos
rápidos entre 10 e 15 minutos por dia, mas come carne vermelha cotidianamente,
continua gerando impacto ambiental. E não pouco impacto, mas sim um impacto
considerável.
Além
disso, a ONU declarou a Década da Nutrição (2016 a 2025) atrelando ao tema
fatores de saúde e ambiental. E algumas empresas já têm procurado a Gestão
Kairós para viabilizar Programas de Alimentação Saudável que integrem os
aspectos nutricionais, ambientais e sociais. Em uma destas empresas estamos
avaliando, por exemplo, a quantidade de emissões e água da carne utilizada em
eventos, ao mesmo tempo que nos propomos a sugerir que os eventos internos e
externos adotem cardápios alimentares mais equilibrados.
Os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2 “Acabar com a fome, alcançar a
segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura
sustentável”, também vincula alimentação e sustentabilidade.
Novamente
reforço o que comentei no começo do texto. Não quero dizer com isso que todos
devam parar de comer carne imediatamente. No entanto, a reflexão sobre os
impactos das nossas ações para a sociedade e para o meio ambiente, vai
realmente além do que gostamos de pensar ou refletir.
O
prato que temos todo dia em nossa mesa pode agravar o quadro ambiental ou
contribuir para a preservação do meio ambiente. Neste sentido, ficar um dia da
semana sem carne ou equilibrar a dieta alimentar ao longo do mês, pode ser mais
saudável não só para o organismo como também para a vida da Terra.
Durante
o documentário, também foi impossível não refletir sobre os nossos hábitos
alimentares ao longo da história. Quer dizer, será que continuamos comendo
antes de forma muito semelhante aos nossos antepassados que não tinham tanta
informação ou tecnologia?
Por
fim, vale a reflexão sobre qual a importância de cada ser vivo. Quando me pego
nessa linha argumentativa, quase sempre me lembro de pessoas que sinalizam que
a cadeia alimentar é algo natural. Sim, é verdade. Há uma cadeia alimentar.
Contudo, somente o ser humano é capaz de criar animais em isolamento, com maus
tratos, hormônios e afins para assegurar uma grande quantidade, além disso, uma
renda expressiva para um pequeno grupo de agropecuaristas.
Daí
concluo, o que comemos é uma questão de Sustentabilidade, de importância da
vida (não somente do homo sapiens) e de política. É, não há saída. O Planeta é
o que a gente come. E por mais difícil que seja mudar um hábito alimentar
cultivado ao longo de toda a vida, que nos foi ensinado e que facilita
processos de sociabilização, realmente esta é mais uma mudança que se faz
necessária para hoje.
Liliane Rocha - Fundadora e
presidente da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.
Autora do livro “Como ser um líder inclusivo”. Palestrante, Professora de Pós
Graduação e Executiva com 13 anos de experiência em grandes empresas nacionais
e multinacionais e mestranda em Políticas Públicas pela FGV.
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