Desenvolvido por
médico psiquiatra e educador, programa aplicado em escolas brasileiras ensina a
lidar com as emoções. De acordo com estudo, 56% dos alunos entrevistados
relataram tensões relacionadas à escola
De acordo com estudo realizado com mais de 500 mil
estudantes de 72 países, crianças brasileiras estão entre as
mais estressadas dentro da escola no mundo inteiro. Os dados de 2015
são referentes ao Pisa — Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
56% dos entrevistados
relataram tensões relacionadas à escola. Entre os países com
menor percentagem de alunos ansiosos estão: Holanda (39%), República Tcheca
(40,5%) e Alemanha (41,5%). Nas colocações mais altas estão Republica
Dominicana (com 80%), Brasil (81%) e Costa Rica, em primeiro lugar, também com
81%.
Quando falamos em ansiedade, podemos até pensar
naquele frio na barriga ou, nos casos mais extremos, no medo exagerado. Mas a
ansiedade é um estado absolutamente natural e esperado, que nos ajuda a
lidarmos melhor com as situações do dia a dia. “A questão é que a ansiedade tem
um ponto de equilíbrio – menor que esse ponto não ajuda e maior, atrapalha”,
explica Celso Lopes de Souza, médico psiquiatra e fundador do Programa Semente.
Junto com um grupo de educadores e com base no
Casel, principal centro de estudos da aprendizagem socioemocional do mundo,
Celso fundou o Programa Semente, que está oferecendo às escolas brasileiras a
possibilidade de preparar seus alunos a lidarem com as emoções, como a
ansiedade. O Casel reuniu em 2011 diversos pesquisadores ao redor do
mundo para avaliar o impacto de programas de habilidades socioemocionais na
vida de 270 mil estudantes. Os resultados de boas práticas incidiram não só na
diminuição da possibilidade de surgimento de transtornos psiquiátricos, como
também, na melhora em média de 11% no desempenho acadêmico.
Numa aula sobre autoconhecimento e autocontrole do
Programa Semente, por exemplo, o aluno é incentivado a refletir sobre suas
emoções e se conhecer melhor. De forma estruturada, o programa trabalha os
cinco domínios: autoconhecimento, autocontrole, empatia, tomada de decisões
responsáveis e habilidades sociais. O controle da ansiedade, por exemplo, é
fomentado com estratégias que auxiliam os estudantes a enfrentarem situações,
procurando reconhecer os desafios e as capacidades de forma realista e sem
distorções.
“Saber reconhecer emoções, relacionando-as com os
pensamentos que as geram e entendendo como tudo isso influencia o comportamento
permite que cada um compreenda melhor as próprias limitações e conheça suas
fortalezas, o que aumenta a confiança, o otimismo e a autoestima”, afirma Celso.
Para isso, o programa ensina ao aluno estratégias
para identificar e questionar os pensamentos, especialmente quando as emoções
não estão contribuindo para o enfrentamento das situações.
Um exemplo do que acontece nas aulas é a indicação
e prática do acrônimo IDEA: A - Identifique os pensamentos que estão ocorrendo
no momento da ansiedade intensa; D – Desafie os pensamentos com perguntas
simples: “Posso estar exagerando?” “Há outras possibilidades para interpretar
essa situação? ; E – Encontre novas formas de pensar e A – Assuma um novo
comportamento.
“É o que chamamos de flexibilização cognitiva,
muito eficaz para evitarmos armadilhas em momentos em que enxergamos a
realidade de modo distorcido, o que pode levar a erros de interpretação”,
explica. Um exemplo disso é quando uma pessoa acorda com dor nas costas e
interpreta aquela situação como sendo uma doença grave. Um rápido
questionamento sobre o pensamento “Estou com uma doença grave” pode desarmar
dias de ansiedade.
Para Celso, as competências socioemocionais, se
trabalhadas com êxito nas escolas, e também em casa, podem ser um grande trunfo
para prevenir que a ansiedade saudável se torne patológica. “Todos os pilares
são essenciais, mas existem dois que são a chave para que esse problema não se
intensifique: os pais e as escolas precisam incorporar que as emoções importam.
Do mesmo jeito que ensinamos as crianças a nadar e andar de bicicleta, devemos
ensiná-las a lidar com suas emoções”, conclui.
Programa Semente
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