quarta-feira, 23 de agosto de 2017

“O fim da AIDS não está próximo”, diz Parker em artigo publicado na revista britânica



Às vésperas do 11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais que acontecerá no mês de setembro, em Curitiba (PR), o diretor presidente da ABIA, Richard Parker, voltou a questionar o argumento de que estamos próximos do fim da AIDS. Desta vez, Parker publicou o artigo “De uma crise global ao ‘fim da AIDS’: novas epidemias de significação” na Global Public Health, uma destacada revista acadêmica britânica especializada em saúde pública global.
No texto, cuja autoria é dividida com os pesquisadores Nora Kenworthy e Matthew Thomann, Parker argumenta que o discurso sobre o ‘fim da AIDS’ tem sido útil para as agendas de doadores e corporações internacionais, com destaque para a indústria farmacêutica. Para os autores, este discurso tem gerado políticas motivadas por pressões financeiras pós-recessão que resultam numa mudança de prioridades no campo da saúde e do desenvolvimento. O artigo questiona os argumentos triunfalistas baseados em alguns avanços biomédicos na prevenção e no tratamento do HIV.
O relatório divulgado recentemente pelo Programa das Nações Unidas sobre a AIDS (UNAIDS) indicou que pouco mais de 50% dos que necessitam de tratamento no mundo, de fato, conseguem acessá-lo. Autoridades e sociedades civis têm comemorado este resultado, inclusive no Brasil. O artigo ressalta que é preciso ter uma leitura mais moderada sobre este suposto fim da epidemia e chama a atenção para a necessidade de priorizar as milhões de pessoas no mundo que ainda não têm acesso ao tratamento.
“O artigo é altamente relevante para os debates políticos recentes sobre financiamento global da saúde, com destaque para os polêmicos cortes promovidos por Trump. ‘Acabar com a AIDS’ está se tornando não um apelo à ação, mas uma justificativa para retiradas de doadores das principais áreas de intervenção. Não por acaso, são as áreas mais efetivas e mais necessárias para realizar ganhos profundos e duradouros contra a epidemia”, argumentam.



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