Acho engraçado o jeito como as pessoas
frequentemente colocam nas mãos dos outros a responsabilidade pela solução de
seus próprios problemas. Isso acontece, muitas vezes, por conta da falta de
vontade de muitos de estar no controle de sua própria vida.
Essa questão chama tanto a minha atenção, que - já
faz tempo -fui pesquisar as diversas justificativas para a passividade do ser
humano. Embora haja várias “escolas” defendendo pontos de vista diferentes e
conflitantes, acho que o Erick Fromm (autor de um livre superinteressante
chamado “Medo à liberdade”) foi quem melhor definiu o centro da questão.
Segundo esse psicólogo organizacional americano, o que leva as pessoas a
terceirizar a responsabilidade sobre praticamente tudo é o medo de ter que
assumir a culpa se algo der errado.
Em outras palavras, poder jogar nos ombros dos
outros as responsabilidades pelos erros é algo que seduz muito o ser humano.
Poderíamos ficar horas discutindo essa questão no
geral, mas quero particularizar minha discussão para uma área que me interessa
de perto: o autodesenvolvimento.
Para facilitar a abordagem, divido minhas reflexões
em três momentos: antecedentes, situação atual e perspectivas quanto ao futuro.
Vamos a elas.
Até passado bastante recente as empresas tinham uma
espécie de pacto com seus colaboradores (que no passado eram chamados de
empregados). De maneira sintética, vigorava um acordo tácito de que, em troca
da total subserviência do trabalhador, o capital garantiria a estabilidade da
relação. Ou seja, se você se subordinasse – sem questionar muito – as regras da
organização, ela não te mandaria embora.
Esse tipo de acordo fez com que a maioria de nossos
pais e avós trabalhasse na mesma empresa por trinta, quarenta ou mesmo
cinquenta anos. E eles tinham tanto orgulho de ter feito isso que proclamavam
em cada oportunidade a sua fidelidade ao mesmo empregador.
Em função desta situação, as organizações não se
recusavam a investir no desenvolvimento de seus colaboradores. Afinal eles
permaneceriam fiéis durante toda a sua vida profissional e isso garantia o
retorno sobre o investimento feito em treinamento e desenvolvimento.
Mas entre o final dos anos 80 e início dos 90 do
século passado, tudo começou a mudar.
Daquela época – e perdurando até os dias atuais – a
relação entre o capital e o trabalho vem sofrendo profundas modificações. Sem
querer gastar muitas linhas descrevendo algo que estamos vivenciando, é fácil
verificar que poucas são as chamadas “organizações de carreira”. Por outro
lado, para os mais jovens, permanecer na mesma empresa por mais do que meia
dúzia de anos é sinônimo de estagnação.
Sabedoras desta realidade, as organizações passam a
valorizar – cada vez mais – aqueles que assumem as rédeas de seu próprio
desenvolvimento e passam a, inclusive, pagar melhor aos mais preparados. A
lógica por trás do novo comportamento é fácil de ser entendida. Vale mais a
pena remunerar bem a quem já vem preparado do que se arriscar a investir em
alguém que pode mudar de empregador a qualquer hora.
O problema é que, no que se refere a
autodesenvolvimento, nos defrontamos hoje com vários desafios, que poucos sabem
como administrar:
a) No que devo me desenvolver?
b) Como vou me desenvolver?
c) Quando devo iniciar?
d) Quanto devo investir?
Creio que a resposta para a primeira pergunta só
pode ser obtida por aqueles que estão habituados a planejar o seu próprio
futuro. Para saber no que devemos nos desenvolver, é preciso saber onde
queremos chegar.
Se você é vendedor, pensa em assumir cada vez
maiores e mais importantes responsabilidades, mas não quer se tornar um gestor,
é importante focar no desenvolvimento de habilidades técnicas, que lhe
permitirão obter melhores resultados de seu trabalho. Se você pensa em
coordenar equipes, precisará desenvolver novas habilidades de caráter
gerencial. Se nos seus planos está uma internacionalização de carreira,
precisará dominar outros idiomas. Se quer se dedicar a um segmento muito
técnico, terá que manter um nível mínimo de atualização tecnológica. E por aí
vai.
Para a segunda pergunta, há duas reflexões
importantes. A primeira diz respeito a sua disponibilidade de tempo e recursos.
A segunda diz respeito à existência de boas instituições de ensino perto de
você.
Não há dúvida que a qualidade de qualquer programa
de desenvolvimento humano, técnico ou gerencial é função dos recursos que são
empregados nas atividades didático-pedagógicas. Em outras palavras, o acesso à
tecnologia de ponta é algo fundamental (eu faço doutorado na França e quando
converso com amigos que estão estudando em instituições brasileiras com menos
recurso, vejo isso claramente). Também é preciso entender a nítida correlação
entre o quanto você aprende e o tempo que tem para dedicar ao aprendizado. A
segunda questão – a da proximidade de boas escolas – hoje é um pouco atenuada
com a questão do ensino a distância. Mas isso não significa que possamos
esperar, sempre, obter o mesmo grau de qualificação quando estudamos através de
mídias interativas. O contato pessoal sempre terá seu valor.
A terceira questão é fácil de responder, com uma só
palavra: AGORA!
Para a quarta, vou te dar um conselho. Invista o
máximo que puder, sem que isso signifique abrir mão de todas as outras coisas
que te dão prazer. Lembre-se do antigo ditado que diz que “conhecimento é a
única coisa que ninguém pode tomar de você”.
João Batista Vilhena - Consultor Sênior do
Instituto MVC. Tem 35 anos de experiência profissional em Treinamento,
Consultoria e Coaching, nas áreas de Educação, Gestão, Marketing, Negociação,
Vendas e Distribuição. É Doutorando pela Universidade de Rennes/França, Mestre
em Administração pela FGV e pós-graduado em Marketing pela
ESPM/RJ. Coordenador acadêmico do MBA em Gestão Comercial da FGV. Já atendeu mais de 109 empresas nacionais e multinacionais de diversos
setores. Como palestrante participou de importantes eventos nacionais e
internacionais, tais como: ASTD (American Society for Training and Development)
nos EUA em 2006, 2007 e 2010; CBTD (congresso Brasileiro de Treinamento e
Desenvolvimento); CRIARH; ABTD; ExpoVendaMais.
Colunista da Revista VendaMais, escreve regularmente artigos e resenhas em veículos especializados, entre os quais Revista Melhor e HSM e IMVC UPDATE.
Colunista da Revista VendaMais, escreve regularmente artigos e resenhas em veículos especializados, entre os quais Revista Melhor e HSM e IMVC UPDATE.
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