quarta-feira, 19 de julho de 2017

Desnutrição atinge até 60% dos pacientes que dão entrada em hospitais da América Latina




A desnutrição é o distúrbio da saúde mais comum nos hospitais brasileiros, presente em 19 a 80% dos pacientes hospitalizados em estados mórbidos;

Aumenta o risco de desnutrição hospitalar com o uso de bolsas de alimentação parenteral industrializadas;

         Uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados discutiu o assunto referente à saúde pública e hospitalar;


A perda de peso durante internações hospitalares é algo que não recebe a devida atenção no Brasil. Uma audiência pública que ocorreu no dia 5 de julho – solicitada pelos deputados Flávia Morais, do PDT/GO e Chico Lopes, do PCdoB/CE – abordou o uso das bolsas de NP em versões manipuladas versus versões industrializadas, o assunto foi amplamente discutido por especialistas da área, porém novas discussões sobre o tema deverão surgir, pois fazer uso dessa alternativa terapêutica é uma tomada de decisão médica. Segundo um estudo do Instituto Brasiliense de Nutrologia, de 19 a 80% das pessoas em estados mórbidos de internação possuem desnutrição hospitalar – algo que pode ser tratado com o uso da nutrição parenteral (NP), método terapêutico existente a mais de 50 anos indicado para pacientes que não podem se alimentar normalmente.

Segundo uma revisão de estudos lançada em junho de 2016 na revista especializada Clinical Nutrition, a desnutrição atinge de 40% a 60% dos pacientes que dão entrada em hospitais da América Latina. A revisão incluiu 66 pesquisas de 12 países, sendo que a maior parte dos estudos é brasileira. “A desnutrição intra-hospitalar aumenta os riscos de mortalidade e complicações, como infecção e diminuição da cicatrização de feridas, além dos custos hospitalares. Negligenciar o estado nutricional dos pacientes, é negligenciar parte do tratamento e recuperação da saúde do paciente.” afirma Dr. Guilherme Araújo, médico nutrólogo pelo programa de residência médica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) e pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), e Diretor acadêmico do Núcleo de Terapia Enteral e Parenteral (NUTEP) de Brasília.

Estudos discutidos no IBRANUTRO,simpósio feito pelo Instituto Brasiliense de Nutrologia, mostraram que pessoas desnutridas ou com predisposição a esta condição, possuem quatro vezes mais chances de morrer do que pacientes com boa condição nutricional. Para serem consideradas completas, as bolsas de nutrição parenteral devem conter elementos que atendam todas as necessidades nutricionais do paciente como água, carboidratos, lipídeos, aminoácidos, vitaminas, eletrólitos e oligoelementos; salvo pacientes com necessidades nutricionais particulares.

"Muitos pacientes recebem o tratamento com foco apenas na condição clínica ou doença que motivou a procura ao hospital. No entanto, infelizmente, parte destes pacientes não é submetida a uma triagem nutricional para que seja possível identificar o risco nutricional e muito menos a uma avaliação nutricional completa para que seja possível o diagnóstico nutricional." complementa o Dr. Fabiano Girade Corrêa, médico Intensivista pelo programa de residência médica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) e pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral (SBNPE) e Diretor Médico do Instituto Brasiliense de Nutrologia (IBRANUTRO).

Bolsas de nutrição parenteral industrializadas não suprem as particularidades nutricionais de grupos de pacientes específicos; seu uso prolongado sem o devido acompanhamento e a falta de individualização da terapia nutricional podem ser fatores agravantes para a situação de desnutrição nos hospitais brasileiros. O uso de NP manipuladas oferece maiores recursos terapêuticos por serem desenvolvidas levando em consideração a necessidade nutricional de cada um.

Segundo especialistas da área, trata-se de uma questão muito sensível para as pessoas que são afetadas pelas decisões tomadas em relação à nutrição parenteral, é necessário que se analise as relações de poder e o possível lobby realizado pelas grandes multinacionais farmacêuticas que produzem as bolsas industrializadas e exercem forte influência no cenário público decisório. A disputa desse mercado deve ser analisada para que o bem-estar do paciente seja sempre o foco das discussões. Durante a audiência pública foram discutidas legislações para regulamentar a produção de NP manipuladas, com análises semelhantes às realizadas em produções de larga escala, o que não se aplica a versão manipulada, por se tratar de formulações particulares a cada paciente e, por isso, apresentarem fórmulas individualizadas. A SCMED, órgão que regulamenta o preço de medicamentos industrializados no Brasil, esteve presente na audiência e discutiu as razões para a abrangência da regulamentação dos preços para as NP industrializadas e não para soluções manipuladas, sendo justificado pela diferenciação na produção e a cadeia de suprimentos diferentes para cada uma das versões produzidas.

Um impasse recorrente na discussão do tema é de quem seria responsável pela discussão junto ao poder público; durante a audiência pública, a AMIB (Associação da Medicina Intensiva Brasileira) foi responsável por trazer as discussões sobre assunto, porém a ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) não esteve presente na audiência pública, o que pode demonstrar um conflito sobre de quem é a responsabilidade de levantar questões sobre o tema.

No IBRANUTRO, simpósio feito pelo Instituto Brasiliense de Nutrologia, foi rediscutido a relação entre o tempo que o paciente segue internado e a desnutrição, complicações no quadro de saúde, menor cicatrização entre outras complicações. O assunto é abordado desde a década de 1980, porém até agora, poucos avanços foram feitos sobre o assunto e pacientes continuam desenvolvendo desnutrição hospitalar mesmo sob cuidados de saúde dentro dos hospitais brasileiros.

A tomada de decisão sobre a estratégia terapêutica a ser utilizada no paciente é do prescritor que conhece as necessidades de cada paciente e não deve ser influenciada nem pelas indústrias farmacêuticas e nem pelas farmácias de manipulação. Antes de qualquer conclusão sobre o tema, é necessário que haja estudos mais aprofundados sobre a fim de que os pacientes em situação de desnutrição hospitalar sejam beneficiados.





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