O país vive um momento de mudanças
estruturais. A sociedade discute atualmente novas regras trabalhistas e
previdenciárias e em seguida o foco será direcionado para a área tributária.
A reforma do sistema de impostos
no Brasil neste ano coincide com o centenário de nascimento de um dos homens mais
brilhantes que o país já teve. Caso estivesse vivo Roberto Campos teria feito
100 anos em abril. Ele foi um dos artífices do chamado “milagre econômico”,
entre o final dos anos 60 e ao longo da década de 70, ao implementar um
inovador modelo de tributos para o país.
A partir do final dos anos 80
Roberto Campos passou a criticar o sistema tributário do país. Reconheceu que o
modelo que criara havia se esgotado e passou a defender o projeto do Imposto
Único. Seu pensamento continua impressionantemente atual e sua pregação pela
reforma tributária deve ser ouvida hoje com a mesma força e significação com
que ele a fez no passado.
O Brasil tem hoje um dos mais
complexos sistemas tributários do mundo. Cabe citar em relação a isso um trecho
do artigo “A vingança do Jatene”,
publicado pela Folha de S.Paulo em 18/07/1997, em que Campos critica
políticos e burocratas que insistem em aplicar mais do mesmo quando, em
benefício da economia brasileira se deveria alterar radicalmente a sua atual
estrutura burocrática e arcaica. Diz o autor: “Não tenho o menor respeito pela sabedoria convencional que entroniza
como indispensáveis os impostos clássicos tais que o imposto sobre a renda e o
imposto sobre o valor adicionado na circulação de mercadorias. São ambos
insuportavelmente obsoletos. Ensejam a criação de classes parasitárias como a
dos fiscais e tributaristas, que não tiram seu lucro da atividade produtiva e sim
da “exploração da complexidade”. Todos os impostos declaratórios (sobre a
renda, consumo ou serviços) envolvem uma dupla burocracia: a do contribuinte e
a do controlador. Quanto mais complicado o imposto, mais lucram as classes
parasitárias. No Brasil, atingimos o máximo de desperdícios com cinco máquinas
arrecadatória, a municipal, a estadual, a federal, a trabalhista e a
previdenciária”.
Campos conclui o texto dizendo
que “O imposto bom não é o “imposto
velho” nem o “imposto clássico”. O imposto bom é o insonegável e de cobrança
automatizada. Qualquer imposto sonegável é socialmente injusto. E se a cobrança
depende de documentos declaratórios torna-se um desperdício. A automaticidade e
insonegabilidade são precisamente as características do chamado Imposto Único
sobre Transações Financeiras, que não encontrou apoio nem do governo nem do
Congresso”.
O Brasil terá que fazer
a reforma tributária em algum momento e o legado de Roberto Campos deve ser
resgatado nesse processo. A inovação hoje está na implementação de um projeto
cujas diretrizes devem ser a radical simplificação da estrutura fiscal e a
instituição de um sistema de arrecadação onde predominam a moeda eletrônica e a
informatização dos bancos.
Da pena de Roberto
Campos, em artigos de jornais ou em textos técnicos, jorravam ideias e
conceitos modernos e inovadores. Foi um insolente crítico de seu tempo e um
atrevido desbravador de ideias para o futuro.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela
Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação
Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e é autor do projeto do
Imposto Único. É presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
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