CICV
realiza em Brasília mostra fotográfica sobre famílias de pessoas
desparecidas
MarizildaCruppeCIC
À convite do CICV, entre agosto de 2016 e março de 2017, Marizilda Cruppe visitou as casas de familiares de desaparecidos que moram em Curitiba, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo. Ouviu as histórias de pais, filhos, avós e tios de pessoas que por uma razão qualquer ou sem razão nenhuma simplesmente despareceram sem deixar bilhetes de despedida, nem pistas. Ao entrar nas casas – em geral, espaços com uma grande carga emocional e relação com as histórias dos desaparecidos –, Marizilda se aproximou dessas pessoas para entender em grande medida a extensão e impacto dos desaparecimentos sobre os que ficam à espera de uma notícia.
O resultado desse trabalho se traduz em cerca de 40 imagens, retratos de familiares de pessoas desaparecidas que ainda esperam pelo retorno do seu ente querido ou por um desfecho para histórias que se arrastam por anos, às vezes décadas, sem nenhum tipo de informação. Com seus retratos, Marizilda Cruppe lança um olhar empático e sensível sobre a questão do desaparecimento e suas consequências para os que ficam, levando o espectador a uma reflexão a respeito de um problema comum a milhares de pessoas e famílias ao redor do mundo.
São histórias como a de Lucineide Damasceno. “Os anos estão passando e eu não sei mais onde procurar. O dia que eu encontrar o Felipe, que Deus me segure, porque eu não sei qual vai ser minha reação. As pessoas não evaporam”, afirma Lucineide, mãe de Felipe, que há nove anos aguarda notícias do paradeiro do filho.
A fotógrafa já havia trabalhado com o CICV. Durante cinco anos, Marizilda fotografou moradores de comunidades afetadas pela violência no Rio de Janeiro e os programas desenvolvidos pela organização para responder às consequências humanitárias dessa violência. Ao realizar este novo trabalho de forte cunho humanitário, Marizilda registra a angústia de famílias em uma espera que parece ser eterna, ao mesmo tempo que reúnem forças para enfrentar um problema tão complexo e devastador.
O chefe da Delegação do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Lorenzo Caraffi, lembra que “segundo o direito internacional, os Estados têm a obrigação de prevenir que as pessoas desapareçam; precisam buscar e localizar as pessoas desaparecidas e adotar uma reposta integral em relação às necessidades dos familiares. Não é uma tarefa fácil, mas é um caminho que precisa ser percorrido".
Nem no Brasil nem no mundo existem dados oficiais sobre o número de pessoas desparecidas, nem das pessoas e comunidades afetadas, o que dificulta em grande parte compreender a exata dimensão de drama humanitário vivido diariamente por milhares de pessoas.
Dimensão humanitária global
Países de muitos continentes vivem este drama. Na América Latina, estima-se que pelo menos 85,9 mil pessoas tenham desaparecido na Colômbia em consequência do conflito armado ou de outras circunstâncias. Na Guatemala, a Comissão para o Esclarecimento Histórico reportou que 45 mil pessoas desapareceram em decorrência do conflito armado interno, sendo que 40 mil ainda não foram encontradas. Já no Peru, 15.731 pessoas ainda estão desaparecidas em decorrência do conflito armado que durou de 1980 a 2000.
Na Armênia, no Azerbaijão e na Geórgia, 7,5 mil pessoas foram registradas como desaparecidas em diferentes conflitos armados. Já na Albânia e na antiga Iugoslávia, mais de 14 mil pessoas continuam desaparecidas desde os anos 1990. Situação igualmente dramática é vivida pelo Sudão do Sul, onde mais de 10 mil crianças foram registradas como desacompanhadas, separadas ou desaparecidas.
Programação
Como parte da programação da mostra, serão realizadas visitas guiadas com a fotógrafa Marizilda Cruppe nos dias 18 de maio, quinta-feira, às 17h, e em 20 e 21 de maio, sábado e domingo, às 16h. Ainda no dia 18, às 15h, acontece a palestra “Viver com a ausência - A questão das pessoas desaparecidas no mundo e suas consequências humanitárias”, com a coordenadora de Proteção do CICV, Marianne Pecassou.
Sobre a fotógrafa
De técnica em mecânica e estudante de Engenharia, passando a candidata a piloto de avião, Marizilda Cruppe encontrou sua vocação no fotojornalismo. Trabalhou em veículos de imprensa, tornou-se uma profissional independente, fundou um coletivo com outras mulheres fotógrafas – o coletivo EVE Photographers que durante cinco anos teve seu trabalho exibido e publicado em dez países –, foi instrutora de fotografia e participou de diversas premiações fotográficas internacionais – entre elas o maior e mais prestigiado concurso de fotojornalismo mundial, o World Press Photo, no qual foi jurada por duas vezes. Já fotografou para Greenpeace, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, Oxfam e Banco Mundial, e colaborou com The New York Times, The Guardian, National Geographic France, The Global Post, Svenska Dagbladet, Expressen, Trip, TPM e GQ.
Sobre o CICV
Com mais de 150 anos de ação humanitária, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) trabalha no mundo todo para levar proteção e assistência às pessoas afetadas por conflitos e por outras situações de violência e para promover as leis que protegem as vítimas da guerra. É uma organização independente e neutra e o seu mandado se origina das Convenções de Genebra, de 1949. Com sede em Genebra, Suíça, a organização tem cerca de 16 mil colaboradores em 80 países. O CICV faz parte do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a maior rede humanitária do mundo, presente em cerca de 190 países.
Frases de familiares
“Eu tenho do direito de saber onde foram parar os restos mortais do meu marido, não é? Eu e os meus filhos, toda a família, procuramos encontrar, resgatar essa história, que é muito difícil. Porque afinal de contas eu passei a vida inteira nessa luta, sempre esperando notícias, sempre querendo saber. Eu acho que é um direito de todos." - Elza Miranda, esposa do desaparecido Jayme Amorim Miranda.
“Os anos estão passando e eu não sei mais onde procurar. O dia que eu encontrar o Felipe, que Deus me segure, porque eu não sei qual vai ser minha reação. As pessoas não evaporam.” – Lucineide Damasceno, mãe do desaparecido Felipe Damaceno Machado.
“Minha mãe tomou a frente. Ela era guerreira. A minha mãe procurou até morrer. Ela nunca parou. Só ia acreditar vendo o corpo. Ela viveu pra isso. Tinha muitos filhos, mas a luta dela era encontrar o Joel.” – João Vasconcelos, irmão do desaparecido Joel Vasconcelos.
Serviço:
A falta que você faz
Mostra fotográfica de Marizilda Cruppe
Sobre o drama das famílias de pessoas desparecidas
Realização: Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Local: Anexo do Museu Nacional da República
Esplanada dos Ministérios – Brasília-DF
Abertura: 16 de maio, às 19h
Visitação: De 17 de maio a 11 de junho
De terça a domingo, das 9h às 18h30
Entrada: Franca
Classificação: Livre para todos os públicos
Visitas guiadas com a fotógrafa Marizilda Cruppe
Dia e horário: 18 de maio, quinta-feira, às 17h
Dia e horário: 20 e 21 de maio, sábado e domingo, às 16h
Entrada: Franca
Classificação: Livre para todos os públicos
Palestra
Viver com a ausência - A questão das pessoas desaparecidas no mundo e suas consequências humanitárias
Com a coordenadora de Proteção do CICV, Marianne Pecassou
Dia e horário: 18 de maio, quinta-feira – 15h
Entrada: Franca
Classificação: Livre para todos os públicos
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