A
expectativa do mercado para crescimento do PIB é de 0,43% em 2017 e de 2,5% em
2018
O PIB (Produto Interno Bruto) da economia
brasileira vem apresentando queda desde o segundo trimestre de 2014. Levando-se
em consideração os últimos 11 trimestres, o PIB real brasileiro registrou
variação negativa de 7,64%. No quarto trimestre de 2016, a variação foi de
-2,46% em relação ao mesmo trimestre de 2015. Por setor, indústria e serviços
apresentaram variação negativa similar, -2,45% e -2,36% respectivamente,
enquanto a agropecuária apresentou a maior queda, de 4,97%.
Acumulando as variações trimestrais, verifica-se
uma queda de 3,59% para o PIB em 2016. Agropecuária, indústria e serviços
tiveram variação anual de -6,36%, -3,83% e -2,70%, respectivamente. Em valores
correntes, o PIB chegou a R$ 6,267 trilhões no ano passado e o PIB per capita
ficou em 30.407 reais, o que significa uma redução real de 4,4% em relação a
2015.
O setor agropecuário, com 4,71% de participação no
PIB em 2016 – que até o último trimestre de 2015 era o único segmento cujo
produto variou positivamente –, passou a apresentar forte retração a partir do
primeiro trimestre de 2016. “Tal fenômeno ocorreu, principalmente, pela perda
de produtividade da produção de soja e a queda na produção de algumas culturas
como milho e fumo, visto que soja e milho são produtos de grande importância na
produção agrícola brasileira”, analisa o pesquisador do Ceper e coordenador do
Boletim Conjuntura Econômica, Luciano Nakabashi.
O resultado negativo da indústria, que representou
18,35% de participação no PIB em 2016, foi decorrente, em grande medida, da
variação da indústria de transformação e da construção civil. A primeira foi
marcada pela redução do volume de fabricação de máquinas, equipamentos,
veículos, entre outros itens. Na construção civil, destaca-se o impacto da
redução do investimento público.
Dentre os itens que compõem o segmento de serviços,
que em 2016 representou 63,34% do PIB brasileiro, destacam-se as variações de
-7,1% de transporte, armazenagem e correio, -6,3% do comércio, -3,0%, dos
serviços de informação e -2,8% da intermediação financeira e seguros.
Analisando os componentes de demanda do PIB
(consumo das famílias e do governo, investimento, exportações e importações), a
variação percentual acumulada nos anos 2015 e 2016 mostra que houve forte retração
da formação de capital fixo (investimentos público e privado): -13,9% e -10,2%,
respectivamente, refletindo a aguda crise econômica brasileira. A queda da
importação de bens de capital (-14,1%) foi um dos principais motivos para a
forte retração das importações brasileiras (-10,3%,).
As exportações foi o único componente de demanda
que apresentou expansão em 2015 e 2016 – de 6,3% e 1,9%, respectivamente –
devido, principalmente, ao aumento das exportações de petróleo, gás natural,
açúcar e automóveis. O consumo das famílias, impactado negativamente pelos
altos juros, alto desemprego, restrição ao crédito e queda da renda, caiu 4,2%
em 2016. Já o consumo do governo registrou retração de 0,6%.
Taxa de desemprego permanece alta – A taxa de
desemprego no Brasil, que vem aumentando desde janeiro de 2015, atingiu 13,2%
em fevereiro deste ano, o que reflete a baixa atividade econômica do País. O
rendimento médio real do brasileiro caiu quase R$ 100,00 entre janeiro de 2015
e junho de 2016. A partir de então, mesmo com o desemprego aumentando,
voltou a subir e fechou fevereiro de 2017 em R$ 2068,00, R$ 46,00 acima do
valor de junho, o que, segundo Nakabashi, pode visto como reflexo de uma
retração maior nos empregos de menor qualificação.
Baixa atividade na indústria –
Analisando a evolução nos últimos quatro anos da utilização da capacidade
instalada da indústria, calculada pelo Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), do início de 2013 ao início de 2016, ocorreu
uma tendência negativa, com uma redução de 6,3 pontos percentuais entre abril
de 2013 e fevereiro de 2016. A partir de então, a utilização da capacidade
oscilou entre 82% e 83%, fechando março deste ano em 82,2%.
“Com o aumento do desemprego, era esperada uma
diminuição da utilização da capacidade industrial instalada. Entretanto,
verifica-se que a utilização da capacidade instalada cai mesmo antes do início
da forte alta do desemprego, o que evidencia que a atividade econômica já
estava baixa ao longo de 2014 e que o desemprego demorou mais para responder”,
explica o pesquisador.
Inflação próxima da meta–A
inflação geral, de itens comercializáveis, não comercializáveis e com preços
monitorados ou administrados por contrato, que chegou a 10,71%, em janeiro
de 2016, vem cedendo desde meados do ano passado e em março deste ano já se
encontrava próxima ao centro da meta de inflação (4,5%). “Uma vez que a
inflação geral se encontra em um patamar mais baixo (4,57%), é alta a
possibilidade da manutenção da trajetória de rápida redução da Selic nas
próximas reuniões do COPOM”, prevê Nakabashi.
Quanto à inflação medida pelo IPCA, a expectativa é
de 4,04% em 2017 e 4,32% em 2018. “Portanto, neste momento as expectativas de
inflação futura estão ancoradas no centro da meta de inflação”, ressalta o
pesquisador do Ceper.
Expectativas de mercado: crescimento modesto do PIB
em 2017 e retomada em 2018 – A expectativa do mercado
para crescimento do PIB é de 0,43% em 2017 e de 2,5% para 2018. Essas
expectativas indicam leve melhora da economia brasileira após o biênio de maior
retração do PIB desde o fim da década de 1940.
As possibilidade de aprovação das reformas
propostas pelo Governo Federal, a queda da inflação e a consequente trajetória
de redução da taxa de juros, além dos saques das contas inativas do FGTS (Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço) são alguns dos fatores que explicam a melhora
nas expectativas, de acordo do o pesquisador do Ceper.
As expectativas do mercado quanto ao resultado
primário, de acordo com Nakabashi, é que o Brasil continuará apresentando
déficit em 2017 (-2,2% do PIB) e em 2018 (-1,8% do PIB). “Mas o processo de
queda dos juros acaba tendo um efeito importante na redução do déficit nominal,
mesmo com a manutenção do déficit primário até 2018, o que dá uma margem maior
para que ocorram os ajustes fiscais que são necessários para melhorar os
fundamentos da economia brasileira e, dessa forma, pavimentar o caminho para
uma trajetória de crescimento moderado, mas sustentável”, admite.
Reforma na Previdência – A queda
dos juros, explica Nakabashi, é outro elemento crucial para a melhora da
demanda interna e, desse modo, para a recuperação da economia brasileira a
partir de 2017 e ao longo de 2018. “No entanto, sem a manutenção da agenda de reformas
e, sobretudo, de uma ampla reforma na previdência que coloque a dívida pública
em trajetória sustentável, a economia brasileira voltará a uma trajetória de
estagnação a partir de 2019 ou 2020”, alerta o pesquisador.
Ele explica que as reformas são importantes ao
impactar positivamente nas expectativas dos investidores e ajudar na retomada
já a partir deste ano, sobretudo para criar as condições para que o crescimento
possa ser sustentável para além de 2019, melhorando a vida dos empresários e
dos trabalhadores.
Com o aumento da expectativa de vida e a mudança da
estrutura etária da população brasileira decorrente do fenômeno da transição
demográfica (menos filhos por mulheres com aumento da expectativa de vida das
pessoas), ele vê como natural que ocorra uma elevação na idade de
aposentadoria. “Apesar da forte resistência dos trabalhadores, é necessário que
haja reformas na Previdência. Caso contrário, será necessário desviar recursos
de outras áreas e elevar os impostos para o pagamento de aposentadorias e
pensões, prejudicando o crescimento futuro, sem mencionar a possibilidade da
volta inflacionária decorrente das dificuldades fiscais”, conclui o pesquisador
do Ceper.
Ceper – O Centro de Pesquisa
em Economia Regional foi criado em 2012 e tem como objetivo desenvolver
análises regionais sobre o desempenho econômico e administrativo regional do
País. Sua criação reúne a experiência de diversos pesquisadores da FEA-RP
(Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto) da
Universidade de São Paulo em pesquisas relacionadas ao Desenvolvimento
Econômico e Social em nível regional, a análise de Conjuntura Econômica,
Financeira e Administrativa de municípios e Gestão de Organizações municipais,
entre outros. A iniciativa de criação do Centro foi dos pesquisadores Rudinei
Toneto Junior, Sérgio Sakurai, Luciano Nakabashi e André Lucirton Costa, todos
da FEA-RP/USP. Os Boletins Ceper têm o apoio do Banco Ribeirão Preto, Stéfani
Nogueira Incorporação e Construção, São Francisco Clínicas, Citröen Independance
e CM Agropecuária e Participações.
Fundace – A Fundação para
Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace)
é uma instituição privada sem fins lucrativos criada em 1995 para facilitar o
processo de integração entre a FEA-RP e a comunidade. Oferece cursos de
pós-graduação (MBA) e extensão em diversas áreas. Também realiza projetos de
pesquisa in company além do levantamento de indicadores econômicos e sociais
nacionais regionais.
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