Dados de novembro de 2016:
o Facebook atingiu o número de 1,8 bilhão de usuários ativos (desses, 1,2
bilhão usa o aplicativo da rede social para celulares). Outros aplicativos do
grupo continuam a ganhar novos usuários.
Tanto o WhatsApp quanto o
Facebook Messenger já ultrapassaram a marca de 1 bilhão de utentes em operação,
enquanto o Instagram, em crescimento, conta com mais de 500 milhões (http://migre.me/wzJnt).
Não se podem simplesmente
adicionar os números pensando em pessoas, porque grande parte delas divide-se
entre mais de um aplicativo, mas somam-se usuários, que atingem a impressionante
contagem de 4,5 bilhões.
Correlacionando: o mundo
tem pouco mais de 7 bilhões de habitantes. Adultos e jovens são 62%, ou seja,
4,3 bilhões. Não fica difícil imaginar o alcance que os aplicativos de Mark
Zuckerberg têm sobre a população do planeta.
Ainda que haja esforço de
restrição em alguns países, a tecnologia disponível permite que se driblem
autoridades dispostas a aplicar na censura. O mundo, pois, busca o Facebook,
alcança-o, usa-o. E se expõe a ele.
Tudo isso é negócio: O
lucro e a receita trimestral do Facebook superaram as estimativas de Wall
Street. A receita total subiu 59,2% para US$ 6,44 bilhões, ante a projeção de
US$ 6 bilhões (http://migre.me/wzK8b).
Esse é um relatório do
lado dos acionistas: do seu sucesso, dos seus lucros. É coisa lá deles com eles
mesmos. Preocupa-me a banda em que se situam os usuários, neles incluídos, com
muito gosto, eu mesmo.
Não me situo entre os que
deploram as fragilidades dos laços da sociedade líquida, da qual o Facebook
seria o alegado melhor exemplo. E nem penso que o Facebook liquidifique o
mundo. Bem ao contrário:
Casais que se formam no
mundo digital podem ser mais felizes que aqueles que se conhecem por outros
meios, conforme pesquisa americana publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of
Sciences.
Conforme consulta em
universo que incluiu 19.131 pessoas que se casaram entre 2005 e 2012, mais de
30% delas havia começado o namoro online (22% no trabalho; 19% via amigos; 9%
em bar ou casa noturna; 4% igreja).
Foram analisados quantos
casais se divorciaram ao final do período da pesquisa:
5,96% dos que
oficializaram a relação após terem se conhecido pela internet, contra 7,67 das
duplas casadas offline (http://migre.me/wzNLE).
Seguramente, o Facebook
mudou a dinâmica da vida. Por um lado permitiu maldades como a sistematização
de mentiras tornadas críveis (pós-verdades), levando à manipulação da opinião
pública. Mas penso noutra manipulação.
Lembro de Galbraith, A Cultura do Contentamento, 1992:
denunciava que as crenças e interesses de grupos privilegiados dão sustentação
às ideias sociais relevantes e acabam perpetuando a própria cultura que as
origina.
Atualmente, os algoritmos
do Facebook selecionam classes semelhantes de pessoas, por suas crenças,
interesses etc, e dão um jeito de pô-las em relação. Elas acabam vendo-se,
sabendo-se, curtindo-se, talvez encontrando-se.
São bolhas ensimesmadas,
autorreferentes, permitindo trânsito por compatibilidade e afinidades
ideológicas. Ajuntaram os conformes, reafirmando-os na conformidade. A próxima
meta parece ser o estado emocional dos jovens:
“Documentos vazados da
sede do Facebook na Austrália mostram, segundo o jornal The Australian, que a rede social se aproveita da vulnerabilidade
emocional de jovens para promover determinado tipo de publicidade.
Algoritmos determinam
‘momentos em que precisam de aumento de confiança’. Identificam quando um jovem
se sente ‘estressado’, ‘derrotado’, ‘sobrecarregado’, ‘ansiosos’, ‘nervoso’,
‘estúpido’, ‘bobo’, ‘inútil’ e um ‘fracasso’.
A apresentação seria
destinada a um banco da Austrália. Questionado, o Facebook enviou primeiro um
pedido de desculpas formal, dizendo que estava abrindo investigação para
entender a falha.
No entanto, a rede social
mudou o tom ao descrever a reportagem como ‘enganosa’ e negou que ofereça
ferramentas para escolher o público-alvo de anúncios com base em estado
emocional” (FSP, 02mai17, editado).
Não sei. Importa dizer que
sentimentos já são conversíveis em insumo da mercadoria informação. O que se
curte ou se repudia no Facebook, pois, não é conceito, mas dado comerciável.
Melhor se emocionar sem muita emoção.
Léo Rosa de Andrade
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