Data reforça a importância de alertar a população sobre
a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, que acomete principalmente os
jovens entre 20 e 30 anos de idade
O
dia 19 de maio marca o Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal. A
data serve de alerta para a propagação da campanha Maio Roxo, na qual diversos
locais do Brasil serão iluminados como forma de chamar a atenção da sociedade,
instituições e governo para a conscientização e melhoria na qualidade de vida
de pacientes portadores da doença de Crohn e retocolite ulcerativa.
Ainda
muito pouco conhecida por grande parte da população e de difícil diagnóstico, a
doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica do trato gastrintestinal, que
afeta predominantemente a parte final do intestino delgado (íleo) e intestino
grosso (cólon). Os principais sintomas da doença são diarreia, cólica
abdominal, febre e por vezes sangramento retal. Também pode ocorrer perda de
apetite e perda de peso. Até 80% dos pacientes internados
com doença de Crohn podem apresentar algum déficit nutricional. O
estado nutricional está diretamente relacionado com a gravidade da doença e sua
piora pode contribuir para a deterioração da imunidade e, por isso,
a nutrição adequada torna-se tão importante para a recuperação de
pacientes diagnosticados com a doença, já que contribui para a correção
das deficiências nutricionais e controle da inflamação. A terapia nutricional
também é útil no preparo dos pacientes que eventualmente precisem de cirurgia.
Os
medicamentos disponíveis no mercado combatem a inflamação intestinal e podem
promover a remissão clínica e endoscópica da doença inflamatória
intestinal. Em crianças e adolescentes com doença de Crohn a terapia
nutricional exclusiva é uma grande arma contra a inflamação intestinal. Nos
adultos, a terapia nutricional, geralmente suplementar, configura importante
medida adjunta no tratamento da doença inflamatória intestinal. Todas essas
medidas contribuem para a recuperação do estado nutricional, reduzem a
inflamação intestinal e ajudam a controlar os sintomas, porém, não curam a
doença, que ainda tem causa não totalmente esclarecida. Ao contrário
da doença de Crohn, em que todas as camadas da parede intestinal
estão envolvidas e na qual pode haver segmentos de intestino aparentemente
normal entre os segmentos de intestino doente, a retocolite ulcerativa
afeta apenas a camada mais superficial (mucosa e, eventualmente, a submucosa)
do intestino grosso. Ela costuma manifestar-se com diarreia com sangue e muco
(catarro). Tanto na doença de Crohn quanto na retocolite ulcerativa podem
existir manifestações extraintestinais tais como aftas orais, artralgia e
artrite, inflamação nos olhos e na pele.
De
acordo com Adérson Damião, médico gastroenterologista da USP, a
doença tem aumentado consideravelmente no Brasil nos últimos 25 anos,
especialmente entre jovens de 20 a 30 anos, de ambos os sexos. Segundo o
especialista, o número de pacientes acompanhados no Hospital das Clínicas de
São Paulo na década de 80 se aproximava de 150 casos. Hoje o hospital já
registra mais de 3.400 casos na faixa dos 30 anos de idade, o que demonstra a
importância do alerta sobre a doença.
“O
diagnóstico correto pode levar até dois anos e, por isso, toda
a classe médica, não só os gastroenterologistas, mas os coloproctologistas,
cirurgiões e clínicos gerais precisam estar alertas para o diagnóstico
precoce da doença inflamatória intestinal e tratá-la adequadamente,
evitando assim complicações da doença. Não há como prevenir a doença, mas
estamos caminhando para isso”, afirma Damião.
Há
diversos grupos de estudo e associações científicas nacionais, tais como a ABCD
(Associação Brasileira de Colite e doença de Crohn) e o GEDIIB (Grupo de
Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil) que estão empenhados em
obter dados de incidência e prevalência da doença inflamatória intestinal no
Brasil. Segundo Damião, que faz parte de um destes grupos (GEDIIB), os estudos
feitos em várias partes do país têm revelado que a doença inflamatória
intestinal tem aumentado em frequência de maneira geral, principalmente no Sul
e Sudeste (provavelmente por influências étnicas) e que, ao contrário de outras
partes da América do Sul, há tendência para maior número de casos de doença de
Crohn do que de retocolite ulcerativa.
Fatores
ambientais, dieta “ocidental” (em contraposição ao padrão oriental considerado
mais saudável, como no caso da dieta do
Mediterrâneo) e suscetibilidade genética estão entre as possíveis causas para o
aumento da doença inflamatória intestinal ao longo dos anos.
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