A obesidade e os distúrbios alimentares são
prevalentes em adolescentes. Há preocupações que os esforços de prevenção da
obesidade podem levar ao desenvolvimento de um distúrbio alimentar
Ultimamente,
uma série de estudos recomenda um conselho aos pais: deixe o peso fora das
conversas com seu filho relacionadas à saúde. “Concordo com isso, até certo
ponto. É benéfico não abordar o problema da criança a todo instante e evitar
comentários desagradáveis sobre o peso em geral”, afirma o pediatra e homeopata
Moises Chencinski (CRM-SP 36.349). Em outras palavras, os pesquisadores
recomendam que os pais não se envolvam em “conversas sobre peso”. Em vez
disso, eles devem se concentrar na abordagem de hábitos saudáveis e da importância de cuidar do próprio
corpo.
“Vários estudos descobriram que a ‘conversa sobre
peso’ dos pais limita-se a encorajar seus filhos a fazer dieta ou a falar sobre
sua própria dieta, estando relacionada ao excesso de peso... E quando o foco da
conversa são os comportamentos alimentares saudáveis, os adolescentes com
sobrepeso tendem a não seguir a dieta e adotar práticas de controle de peso
insalubres...”.
De nenhuma conversa a um assunto tabu
De
alguma forma, as conversas sobre peso se transformaram em um tabu para as
famílias. Isso porque, quer gostemos ou não, as crianças estão crescendo em um
mundo com atitudes anti-gordura e com uma mídia que idealiza ser magro. Assim,
mesmo se um pai evita essa conversa, a criança pode ver, ler e vivenciar algo
diferente. “De acordo com o relatório da AAP, metade das adolescentes e um quarto dos
meninos estão insatisfeitos com seus corpos, o que aumenta o risco de práticas
de controle insalubres, como dietas malucas, algo que metade das adolescentes e
um terço dos meninos já fez”,
destaca o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e
Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Os
pesquisadores também descobriram que uma boa parte dos adolescentes que faz
dieta não apresenta nem mesmo sobrepeso, de acordo com os padrões de IMC. Em um
estudo, as meninas adolescentes com peso normal que se
percebiam com sobrepeso eram 30% mais propensas a se tornarem obesas doze anos
mais tarde e os meninos 89% mais propensos na idade adulta. Por que os
adolescentes que se sentem gordos têm maior probabilidade de engordar? Porque,
segundo os pesquisadores, eles fazem dietas para tentar perder peso.
Os
maus hábitos alimentares são responsáveis pela epidemia de obesidade, mas a dieta é um fator
de risco real, embora sub-representado. Definido pela Associação
Americana de Pediatria (AAP) como "restrição calórica com o objetivo de
perda de peso", a dieta aumenta o risco de obesidade e de distúrbios
alimentares. O relatório da
AAP afirma que: "essas descobertas e outras sugerem que a dieta é
contraproducente para os esforços de controle de peso. Dieta também pode
predispor a transtornos alimentares".
Por que a dieta tem esse efeito?
“A
dieta pode ser prejudicial por uma série de razões. Em primeiro lugar, a
restrição alimentar - a tentativa de eliminar alimentos saborosos - encoraja o cérebro a concentrar-se ainda mais em alimentos
saborosos. Em segundo lugar, a perda de peso reduz a taxa metabólica não apenas
durante esse período, mas posteriormente também. Quando as pessoas retornam aos
níveis alimentares de antes da dieta, uma menor taxa metabólica pode aumentar o
risco de ganho de peso futuro. E por último, existe ainda algo que os
pesquisadores chamam de ‘excesso de gordura’. Quando o peso é
recuperado após a perda, mais gordura é acumulada, mesmo quando a pessoa pesa o
mesmo que antes de emagrecer. O ‘excesso de gordura’ é mais problemático
em indivíduos mais magros”, diz o pediatra.
E
não podemos esquecer o fato de que as crianças e adolescentes estão em
crescimento, o que potencialmente piora esses efeitos. Por exemplo, pular
refeições, durante a puberdade, pode resultar em fome implacável que provoca um
comer fora de controle.
Estigma do peso
Mesmo
que uma criança tenha a sorte de não sentir insatisfação corporal e fazer
dieta, ainda há o problema do estigma de peso. 90% dos adolescentes dizem ter testemunhado um par sendo intimidado
devido ao seu peso. O peso corporal é a razão mais comum para bullying,
superando raça, religião ou orientação sexual. “De acordo com um relatório do Centro Rudd de Política Alimentar e Obesidade
da Universidade de Yale, o estigma do peso aumenta o risco de depressão, má
imagem corporal, pensamentos suicidas e hábitos pouco saudáveis, como dietas
malucas e comportamentos sedentários. E aqui está o motivo: o estigma do peso
aumenta a probabilidade de alguém ficar obeso ou ganhar peso ao longo do
tempo”, informa Chencinski.
Dada
esta realidade, como não conversar sobre o peso com os filhos para ajudá-los,
apoiá-los e orientá-los? Como podemos ter certeza que eles estão no caminho
certo só porque não falamos de peso?
Iniciar um diálogo
Para
Chencinski, todos os pais precisam ter conversas abertas e honestas com seus
filhos sobre como eles se sentem sobre o seu peso, tamanho e forma. “Os
pais podem incentivar os filhos a apreciar seus corpos, a evitar julgar os
outros e a aprender o que é uma boa alimentação. Eles podem ir além e corajosamente
compartilhar seus próprios desafios, já que quase todos são afetados pela
sociedade obsessiva pelo peso. Varrer o peso para debaixo do tapete, tornando
o assunto um tabu só irá reforçar a sua fortaleza sobre os jovens”,
defende o médico.
Moises
Chencinski
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