Com dois filhos pequenos, a bancária Sabrina Lira Stoppa, de 39 anos, há nove anos, estaria fadada à infertilidade, decorrente de uma endometriose. Ser mãe era um sonho que a estimulou a buscar o tratamento para a doença.
A endometriose é uma doença insidiosa,
que atinge mulheres jovens e na maioria das vezes, apresenta-se permeada de
muito sofrimento. Cólicas menstruais fortíssimas são os primeiros sintomas
descritos pela maioria das mulheres portadoras da doença. No caso de Sabrina, o
percurso até o diagnóstico de endometriose e decorrente infertilidade, segue as
descrições clássicas da literatura médica e das pesquisas científicas
referentes ao tema.
“Eu sentia muitas dores, inclusive nas
relações sexuais, mas o diagnóstico de endometriose veio após o de
infertilidade. Eu e meu marido queríamos ter filhos, que é o caminho natural de
quem busca construir uma família”, lembra. Os médicos pelos quais ela passou
identificaram que seria muito difícil que Sabrina engravidasse, por causa do
comprometimento do útero, ovários e trompas.
“O caso de Sabrina é um dos mais comuns
que encontramos, dentre as pacientes com esta doença. A demora no diagnóstico e
tratamento da Endometriose Profunda causou comprometimento até dos intestinos
da paciente. Os órgãos de reprodução feminina estavam muito comprometidos
também, mas conseguimos vencer a doença, apesar do quadro complexo. E foi com
grande alegria que conseguimos reverter também, o diagnóstico de
infertilidade!”, explica Profa. Helizabet Salomão. A médica compõe o corpo clínico da Clínica Ayroza
Ribeiro, com especialização em endometriose. É professora assistente da Faculdade de
Ciências médicas da Santa Casa de São Paulo, chefe do setor de Endoscopia
Ginecológica e Endometriose da Santa Casa de São Paulo e professora da Pós
graduação nesta mesma instituição.
Para Sabrina, o Dia das Mães é o melhor
dia de sua vida. Mãe de Lucas, 5 anos, e de Laura, 2 anos, refere-se aos filhos
como “duas bênçãos” que ela conquistou. Quando lembra da recuperação da
cirurgia, que é bem difícil, observa que foi o diagnóstico de infertilidade que
a levou a buscar o tratamento correto para a endometriose, que na verdade, era
a origem de tudo. Para as mulheres que sofrem de fortes dores no período menstrual,
ela recomenda que busquem aprofundamento nos diagnósticos, pois o quanto antes
essa doença for detectada, melhor será a qualidade de vida posteriormente.
Sabrina hoje vive sua vida plenamente, com sua família e se considera uma
mulher feliz e realizada, no trabalho e no âmbito familiar.
ENDOMETRIOSE
É uma doença que impacta na qualidade
de vida de mulheres jovens, em idade produtiva e reprodutiva, e que muitas
vezes demora quase uma década a ser diagnosticada.
Foi descrita inicialmente em 1860 envolvendo
útero, ovário e trompas e é definida como a presença de tecido endometrial
ectópico (estroma e/ou glândula), em diversas localizações como septo
reto-vaginal, região entre vagina e intestino, intestino, ligamento do útero
sacro, vagina e bexiga.
Dor
crônica é a queixa mais comum entre as
portadoras da doença, que vem associada à infertilidade, redução das atividades
física e laboral, isolamento social, baixo rendimento no trabalho e
interferência nas relações afetivas e familiares.
Outros sintomas recorrentes são queixas
de dor nas relações sexuais e infertilidade. A demora no diagnóstico e
tratamento pode comprometer toda a região pélvica, com danos nos intestinos,
bexiga e reto. "Peritônio e o ovário são os principais tecidos atingidos,
mas pode ocorrer também, comprometimento intestinal entre 5,3 % a 12%, alcançar
16% em mulheres assintomáticas e até 30%em mulheres inférteis", relata a
professora.
Dados
estatísticos
Aproximadamente 66% das mulheres
portadoras de endometriose apresentam seus primeiros sintomas até os 20 anos.
Destas, 38% expressam sintomas antes dos 15 anos. Ainda assim, o diagnóstico é
geralmente obtido entre os 25 anos e 35 anos. Este atraso é decorrente em
parte, pela falta de sintomas consistentes e da ausência de teste diagnóstico
específico em 47% dos casos.
Dados
de conjuntura
- Falta informação sobre endometriose no sistema público de saúde;
- 15% das mulheres podem ter endometriose na sociedade;
- No Brasil estima-se que somem seis milhões de mulheres portadoras;
- Falta de serviços especializados no diagnóstico e tratamento;
- Falta de profissionais treinados para atender as portadoras;
- Ausência de reconhecimento por parte dos órgãos governamentais sobre o problema;
- Alto custo do tratamento e falta de verba específica para o tratamento;
- Fila de espera com mais de 250 mulheres portadoras de endometriose intestinal na Santa Casa de São Paulo.
Helizabet
Salomão - Professora assistente da Faculdade de Ciências médicas da
Santa Casa de São Paulo. Atualmente é chefe do setor de Endoscopia Ginecológica
e Endometriose da Santa Casa de São Paulo e professora da Pós graduação nesta
mesma instituição. Dedica-se à Ginecologia Minimamente Invasiva com interesse
especial à Videolaparoscopia e Videohisteroscopia. É coordenadora da
Ginecologia do Núcleo Avançado de Endoscopia Gonecológica (NAVEG), que realiza
cursos de treinamento em sutura laparoscópica, simpósio de Anatomia
laparoscópica e Treinamento de Laparoscopia em cadáver. Participa de estudos
que investigam a interferência de diversos fatores biomoleculares na gênese e
na progressão da endometriose, os danos psicológicos e sexuais causados pela
doença, bem como os efeitos do tratamento da endometriose na qualidade de vida
das mulheres portadoras da doença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário