Como mães - e alguns pais - estão
transformando suas casas em um espaço de diálogo e exemplo sobre equidade de
gênero
A
empresária Viviane Duarte, fundadora do Plano Feminino, foi criada por duas
mulheres fortes, sua mãe e avó, que sempre perguntavam para ela “qual é o seu
plano?”. Foi assim que ela aprendeu desde cedo que toda mulher deve se tornar
protagonista de sua própria história. Casada há 22 anos e mãe de um rapaz de 17
anos, Viviane lembra que, desde sempre, as tarefas na sua casa eram
compartilhadas. “Meu filho aprendeu desde cedo que não existe coisas de menino
e menina. Todos têm direitos iguais e ninguém era responsável por lavar suas
cuecas”, lembra. Hoje, vê seu filho aplicando o que aprendeu com a namorada e
entre os amigos e tem convicção que a melhor forma de ensinar é pelo exemplo.
Famílias
como as de Viviane estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil, mas ainda
não são maioria. Segundo um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)
apenas 36,4% das mulheres casadas ou em união estável afirmam que dividem
igualmente com o parceiro os cuidados com a casa e com os filhos.
E
a causa disso é o machismo estrutural da sociedade brasileira. Segundo uma
pesquisa feita pela ONU Mulheres, 81% dos homens e 95% afirmam que o Brasil é
um país machista. “Por isso é tão importante começarmos a falar de equidade de
gênero em nossas casas. E mais do que falar, dar o exemplo. Como posso falar de
feminismo com meu filho se sou eu que vou para a cozinha no domingo enquanto
meu marido assiste televisão?”, questiona Viviane. Ela mesma largou uma carreira
bem-sucedida no mercado de comunicação para transformar o empoderamento
feminino em um legado, e por isso criou o Plano Feminino: uma consultoria
especializada em conteúdo e estratégias para grandes marcas terem conversas
verdadeiras as mulheres. Hoje Viviane se tornou uma das principais vozes sobre
o empoderamento feminino na publicidade e dá todo o crédito às mulheres fortes
que foram as referências em sua vida: “se não fossem os exemplos da minha mãe e
vó, eu não teria entendido como nós mulheres podemos ser donas de nossos
destinos”.
Alexandra
Loras é outro exemplo de mulher e mãe que está transformando a discussão sobre
a igualdade de gênero e raça. Ela é ex-consulesa da França em São Paulo. Deixou
sua carreira de apresentadora de TV na França para acompanhar o marido em suas
missões diplomáticas pelo mundo. Com mãe francesa e pai gambiano, Alexandra é a
única negra em sua família. Sentiu desde cedo o preconceito racial, mas afirma
que foi no Brasil onde mais sofreu discriminação dos 52 países onde esteve.
“Mas apesar do preconceito, no Brasil tive inúmeras oportunidades para discutir
publicamente o machismo e o racismo, e isso transformou a minha vida”.
Alexandra, que é mestre pela Science Po. de Paris e pesquisou a invisibilidade
do negro na TV francesa, hoje é uma requisitada palestrante e professora sobre
diversidade no Brasil e no mundo.
Os
compromissos profissionais no Brasil se tornaram tão desafiadores que, ao final
do período no posto consular em São Paulo, Alexandra e seu marido, Damien,
decidiram ficar no país em um novo arranjo familiar: ela, que era responsável
pela casa e cuidados com o filho do casal passaria a ser a principal provedora
da casa. Damien continuaria a trabalhar como consultor, mas de forma parcial,
para ser o principal responsável pelos cuidados com o filho. “Tenho muita sorte
de ter um marido pró-feminista, que me apoia. O Brasil me deu um palco
maravilhoso para falar de questões raciais e de gênero e quero aproveitar esta
oportunidade”. Alexandra está bastante animada com esta nova etapa, ela
acredita que isso criará boas referências para seu filho: “Por estudar em uma
escola da elite, já vejo alguns preconceitos em meu filho. A cultura é um
programador mental poderoso, por isso estou feliz em oferecer ao Rafael uma
ambiente familiar igualitário e diverso, para que ele seja um homem
pró-feminista nessa geração flux”.
Se
a família francesa de Alexandra está fazendo diferença no Brasil, uma família
brasileira radicada em Paris tem sido o tema de reflexões sobre igualdade de
gênero no YouTube. O escritor e palestrante Claudio Henrique dos Santos conta
em seu canal Macho do Século 21 sobre como a experiência de ter sido dono de
casa mudou sua visão do mundo feminino e o fez se aprofundar nas questões sobre
paternidade e equidade de gênero. Ele já falou em empresas como
Johnson&Johnson, Pfizer, Coca-Cola, entre outras. Além de manter um canal
no YouTube, Claudio já lançou dois livros: Macho do Século 21 e Mulheres
Modernas, Dilemas Modernos, este último em parceria da jornalista Joyce Moysés.
Hoje
Claudio conta sobre sua experiência com muito bom-humor, mas quem assiste seus
vídeos nem imagina como foi doloroso, no começo, abrir mão de sua recém-aberta
loja de vinhos para acompanhar sua mulher, Daniele, para Singapura. Claudio foi
executivo durante anos no setor automobilístico, e estava realizando o sonho de
empreender, quando recebeu a notícia da promoção da esposa.
A
princípio ele imaginou que poderia trabalhar no país. “Descobri apenas chegando
lá que não poderia trabalhar e, por isso, passei a ficar responsável por cuidar
da minha filha. Esta experiência foi muito enriquecedora e fez com que eu
lidasse com os preconceitos da sociedade machista na qual fui criado”, afirma.
Depois, quando a família se mudou para os Estados Unidos, passou também a ficar
totalmente responsável pelos cuidados com a casa. Atualmente morando na França
com a família e com a filha já crescida, Claudio se divide em viagens ao Brasil
para fazer palestras e coloca em prática planos para iniciar um projeto social para
educação e empoderamento de meninas. Para ele, essa é a forma que encontrou
para colaborar na construção de um futuro mais igualitário para Luiza, em que
as mulheres deixem de ganhar salários inferiores e participem dos mesmos cargos
de liderança que os homens.
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