quinta-feira, 27 de abril de 2017

Qual a hora certa para operar o estrabismo?



Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), o estrabismo atinge de 2% a 5% das crianças e afeta ambos os sexos.

O estrabismo ocorre quando há desalinhamento dos eixos visuais. Esta condição se desenvolve quando os músculos oculares não funcionam em sincronia, portanto os olhos não se movem de forma coordenada.

O estrabismo não é uma questão meramente estética, ele impacta na visão binocular (estereopsia), que ocorre quando o cérebro funde as duas imagens captadas pelos olhos em uma só. A visão binocular é fundamental para enxergar um campo visual maior e para dar a noção de profundidade, assim como para vermos imagens em 3D. Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra e especialista em Estrabismo, esta condição quando não tratada também pode levar à perda da acuidade visual decorrente da ambliopia (olho preguiçoso).
 

Quando o tratamento deve começar?
O diagnóstico do estrabismo deve ser feito de forma precoce. “Sabemos que quanto antes a cirurgia for feita, maior a chance de melhorar ou adquirir certa capacidade de visão binocular, por exemplo. Por outro lado, há muitas dúvidas dos pais em relação à operar crianças, muitas vezes bebês. Devemos, antes de mais nada, diferenciar que tipo de estrabismo estamos falando, pois as indicações cirúrgicas e o momento mais adequado de se operar variam bastante dependendo desse fator”, explica a médica.

“Primeiramente, temos o estrabismo convergente (olhinho para dentro). Esse tipo é o mais prevalente na infância e pode estar presente ao nascimento. As esotropias congênitas tem indicação de cirurgias precoces, por volta de um ano de idade, podendo variar um pouco dependendo da experiência de cada profissional. Mas, em média, a cirurgia deve ocorrer entre 10 meses e um ano e meio”, diz Dra. Marcela.

“É possível encontrar alguns especialistas que preferem cirurgias ainda mais precoces (por volta dos seis meses de vida). Toda essa pressa em operar esses bebês não está relacionado à estética, mas sim à tentativa de tentar restabelecer, nem que seja, um pouco, a visão binocular dessa criança e também evitar o desenvolvimento da ambliopia”, comenta Dra. Marcela. 

Já os desvios convergentes que aparecem mais tardiamente, mais precisamente em crianças acima de um ano, sempre devem chamar a atenção dos profissionais em relação a possibilidade da criança apresentar hipermetropia alta. Esse tipo de grau pode gerar um estrabismo quando a criança tenta focar as imagens. O tratamento, nestes casos, é o uso de óculos.

“Descartado que seja essa a causa e descartadas outras possíveis causas de estrabismo, como lesões neurológicas (casos esses mais raros), a indicação de cirurgia está firmada. Essas crianças passaram por um período de alinhamento ocular e, portanto, desenvolveram certo grau de estereopsia, assim a indicação de uma cirurgia precoce nesses casos é para evitar a deterioração dessa visão binocular que já foi desenvolvida e evitar, novamente, que se estabeleça uma ambliopia”, explica a médica.

“Quando falamos dos desvios divergentes constantes (olhinho para fora), principalmente em bebês e crianças muito pequenos, devemos sempre nos atentar e investigar alterações neurológicas. Esse tipo de desvio é muito raro e, com certa frequência, está associado a crianças com atraso de desenvolvimento por paralisias cerebrais, complicações no parto, dentre outras”, afirma Dra. Marcela.

“Os desvios divergentes intermitentes, por sua vez, que são aqueles em que em alguns momentos a criança está com os olhos alinhados e em outros (principalmente quando está cansada, com sono ou não está focando em nada) o olho está desviado para fora, já são desvios muito mais comuns na criança e são muito mais benignos quando se trata de perder visão binocular. Isso porque a criança tem momentos de alinhamento ocular e isso é suficiente para garantir o desenvolvimento da estereopsia", explica.

“Essas crianças, no geral, são operadas um pouco mais tarde, principalmente se apresentam o desvio bem controlado, ou seja, desviam o olhinho em poucos momentos do dia. Tudo isso porque o desenvolvimento visual completo e normal é possível, independente da presença do desvio, e devido ao fato de desvios compensados terem chance de não necessitarem de cirurgia. Esses são casos que procuramos operar acima de três anos e meio a quatro anos, sempre com alguma variação, dependendo da preferência do cirurgião. Casos muito descompensados, em que o desvio está se tornando cada vez mais constante, contudo, podem precisar de cirurgias mais precoces”, finaliza Dra. Marcela.




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