segunda-feira, 3 de abril de 2017

O caminho lúcido de salvação nacional



Há muitos modos de se içar alguém de um poço negro e profundo. Nesse momento, a força pode ter seu lugar, porém o predominante é a inteligência coletiva dos salvadores, que se unem em torno do nobre objetivo comum. Os salvadores do Brasil são seu povo, pura e simplesmente.

Quando os brasileiros foram beneficiados pelo primeiro plano monetário honesto e produto de uma das mais sábias engenharias financeiras de que o mundo teve conhecimento, o plano real, ele somente teria uma estrutura de muito longo prazo e seria irreversível se mudanças profundas na política e na economia do Brasil fossem operadas de imediato, como corolário de seus pressupostos, antes de seu desgaste.

Contudo, quando se fala em reformas, os beneficiados pela situação petrificada e injusta apontam para supostas crises que elas ocasionariam, para que não sejam feitas. Tocar em  parafernália  normativa pode levar os cofres públicos à vaziedade, dizem, como se já não estivessem vazios, posto que, se temos alguma coisa, é tomada de empréstimo. A barafunda de leis poderia ser simplificada ao extremo, poderíamos ter uma forma de manter o Estado higiênico, límpido, compreensível, por todos os seres viventes que ocupam esta Terra, desde o grande empresário ou banqueiro até o pequeno dono do estabelecimento ao qual alguns crônicos amantes do etílico comparecem, todos os dias, lá pelas seis horas,  ao entardecer, aguentando umas pingas e suportando alguns pedaços de linguiça adormecida, impregnadas das bactérias de frigoríficos ricos, mantidos por corrompedores do BNDES e outras instituições.

Do mesmo modo, a política, como verdadeiro tratamento da "polis", poderia ser compreendida e resgatar consensos até mesmo nos botecos, desde que moralmente íntegra, fundada numa clareza ética, numa representação autêntica, como devem ser todas as representações humanas. A educação, saúde, cultura etc vêm naturalmente. Assim comporíamos nosso futuro, a partir do primeiro ato, que é de superação dessa guerra burra entre extremos de esquerda e direita, que, inopinadamente, dividiu amigos, parceiros, namorados, casais, amantes, famílias, antes um só.

Ocorre que muita gente ganha com essa dissidência; na política, ganha a "classe política", que não tem classe nem dignidade política. Para  saltar sobre essas idiossincrasias tenho toda pressa,  como aquela de um romancista que se encontra no último capítulo e tem intuição de haver construído uma obra prima paralisada em suas últimas intuições conclusivas. 

Na vida social, dar uma mínima tranquilidade de vida a quem não a tem, seria a "magnum opus" de cidadãos conscientes. Nada era impossível para os velhos alquimistas, segundo seus testemunhos históricos: "Numa alusão à obra divina da criação e ao projeto de redenção nele contido, o processo alquímico foi designado por "Grande Obra". Nesse processo, uma matéria inicial, misteriosa e caótica, chamada matéria prima, em que os opostos se encontram ainda inconciliáveis, num conflito violento,  deve ser transformada progressivamente num estado de libertação e de harmonia perfeita, a "Pedra Filosofal" redentora, ou o "lapis philosophorum". "Primeiro, combinamos, em seguida decompomos, dissolvemos o decomposto, depuramos o dividido, juntamos o purificado e o solidificamo-lo. Deste modo, o homem e a mulher transformam-se num só". 

Hoje, os brasileiros se encontram naquele estado de matéria prima convulsionada, e somente partir do zero para uma nova evolução, pela dissolução do grupamento político e formulação de uma nova Constituição e de outros transmissores da vontade geral, poderíamos encontrar a mágica poção alquímica de nossa libertação e de nosso futuro.

Se nos encontramos cindidos, cada vez mais fortemente, em nosso corpo espiritual, em duas maniqueístas ou mais correntes, e, com sinceridade, queremos legar a nossos filhos, netos e bisnetos, uma grande e promissora plantação, não podemos continuar no caminho errático das indicações exteriores de responsabilidades pelo que nos ocorreu. Procuremos, em primeira plana, implodir nossas posições rígidas e estéreis. Em segundo lugar, criar um consenso mínimo, não sobre ideologias e projetos já exauridos pela história, mas em torno de ideias que, pragmaticamente, devem orientar nossos atos comuns, privados e públicos, e suas respectivas propostas, um projeto de governo brotado da beleza de nossas árvores e de seus perfumes, não remendos daquelas provenientes de políticos que tomaram conta de nossa casa por todos esses anos - e a destruíram. Da nossa interioridade e, sobretudo, da dos homens honestos que formam nossa "intelligentsia", é que soprará uma rajada de vento benfazeja, capaz de abrir as portas da construção original de nosso ainda jovem Brasil.

Os excrementos deverão ficar apartados, por contas de juízes, promotores e advogados, e não mais toldar nossos momentos de descanso quando retornamos ao lar, pelos jornais vespertinos que já nos embruteceram o suficiente.





Amadeu Roberto Garrido de Paula - Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados, com uma ampla visão  sobre política, economia, cenário sindical e assuntos internacionais. 







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