sábado, 22 de abril de 2017

‘Atuação do poder público em relação a doenças raras pode melhorar com mais informações sobre o tema’, afirma Mara Gabrilli



Deputada Federal (PSDB) destaca a necessidade de aumento e difusão de conhecimento sobre enfermidades raras no Brasil para que o assunto tramite com mais facilidade, politicamente, e tenha representatividade junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário

De acordo com a Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), o Brasil tem cerca de 13 milhões de pessoas que sofrem com uma das sete mil doenças catalogadas como raras. Apesar desse número expressivo—equivalente ao de pacientes com diabetes –, a comunidade rara enfrenta desafios significativos, quando se trata de diagnóstico e tratamento. Isso porque a falta de informação atrasa a descoberta da patologia, prolonga o tempo sem tratamento e impacta, diretamente, na qualidade de vida do paciente. Sem contar outro problema recorrente no País: a carência de tratamento contínuo, que, muitas vezes, pode levar à morte.
A boa notícia é que, apesar de o cenário ser complicado, o tema doença rara tem sido tratado como prioridade no Brasil, pelo menos por algumas lideranças expressivas que atuam em prol da causa. A Deputada Federal Mara Gabrilli é um grande exemplo de luta pelo direito dos pacientes. Presidente da Frente Parlamentar Mista de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, Mara também faz parte das Comissões de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD) e de Seguridade Social e Família. Em entrevista exclusiva ao Muitos Somos Raros, a parlamentar explica sua atuação nas comissões e destaca questões importantes que precisam evoluir, como o grau de informação sobre o tema doenças raras entre os envolvidos, principalmente para que o assunto possa ser trabalhado de maneira mais ampla junto ao poder público.
Muitos Somos Raros – Como a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD) pode auxiliar o paciente que sofre de doença rara?
Mara Gabrilli – Primeiramente, é importante esclarecer que a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência é uma Comissão Permanente da Câmara dos Deputados. Toda Comissão da Câmara tem funções legislativas e fiscalizadoras, na forma definida pela Constituição Federal e nos seus Regimentos Internos.
MSR – E, na prática, como são executadas essas funções?
MG – No cumprimento dessas duas funções básicas– de elaboração das leis e de acompanhamento das ações administrativas no âmbito do Poder Executivo– as Comissões promovem, também, debates e discussões com a participação da sociedade sobre os temas de seu interesse.
MSR – Como as pessoas interessadas podem participar dessas discussões? Em que circunstâncias?
MG – As audiências públicas são abertas para a participação de qualquer pessoa e divulgadas, principalmente, pelo site da Câmara dos Deputados: http://www2.camara.leg.br/
Diante de determinadas proposições ou projetos, as Comissões se manifestam, emitindo opinião técnica, por meio de pareceres, antes de o assunto ser levado ao Plenário. Há situações em que elas decidem diretamente, aprovando ou rejeitando proposições, sem a necessidade de passarem pelo Plenário da Casa. Dito isso, é fundamental o acompanhamento e a participação do paciente com doença rara, não só para aprimorar nosso trabalho, mas, principalmente, para nos subsidiar com informações para que possamos dar o melhor encaminhamento possível a cada proposta.
MSR – Quais são os exemplos de situações que dispensam a submissão ao plenário?
MG – As comissões possuem o chamado poder de apreciação conclusiva (vide o artigo 58 da Constituição, § 2º, inciso I), que permite que elas já concluam o destino das proposições (se elas devem ser aprovadas integralmente, aprovadas parcialmente, rejeitadas ou emendadas). Se as próprias comissões parlamentares chegarem a uma conclusão comum sobre uma proposição (ou seja, se houver consenso de que a matéria deve ser aprovada, rejeitada, ou alterada), ela nem precisa ir para o Plenário.
“Quanto mais soubermos sobre a doença, seus desafios e sintomas, mais material teremos
para trabalhar o tema dentre do poder público”, afirma Mara Gabrilli. Crédito:
Arquivo pessoal/Mara Gabrilli

A única forma de colocar o projeto em votação na Câmara, nesse caso, é conseguir que 10% dos membros da Câmara (pelo menos 52 deputados) peçam, por meio de recurso, que o projeto seja levado ao Plenário. Os parlamentares têm cinco sessões ordinárias, depois da conclusão do trabalho das comissões, para apresentar esse recurso. No entanto, nem todo tipo de proposição pode ser aprovado apenas com o aval das comissões. O regimento da Câmara obriga que alguns projetos sejam obrigatoriamente levados ao Plenário. São eles os projetos de: (i) lei complementar; (ii) código (como o Código Penal); (iii) iniciativa popular; e (iv) Comissão (projetos criados por alguma comissão); (v) projetos vindos do Senado; (vi) projetos que tramitam em regime de urgência. Além disso, no caso de as comissões não conseguirem chegar a um consenso, o projeto de lei também precisa ser votado no Plenário.
MSR – Como o paciente e seus familiares podem participar das discussões? Que caminho deve ser percorrido?
MG – Nesse caso, os pacientes e seus familiares podem procurar diretamente algum deputado ou entrar em contato via e-mail ou redes sociais.
MSR – Na prática, qual é o caminho que o paciente precisa percorrer para usufruir desses direitos nas áreas de saúde e previdência?
MG – Na CPD, não são discutidos todos os projetos relativos a doenças raras, mas, sim, aqueles em que a interface com a deficiência está presente. Quando há essa correlação, as pessoas são titulares de direitos nas áreas de saúde, assistência, previdência, trabalho, entre outros, hoje garantidos às pessoas com deficiência.
MSR – Qual é o principal desafio que a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência enfrenta em relação ao paciente com doença rara, especificamente?
MG – O principal desafio do universo das doenças raras é justamente o fato de ser raro. Isso dificulta um diagnóstico precoce e as pesquisas científicas, por exemplo. Mais uma vez reitero que, para nós, membros da Comissão, é fundamental a participação dos pacientes, que são aqueles que nos municiam com informações e experiências que poucos têm sobre sua condição. Quanto mais conhecermos sobre a doença, seus desafios e sintomas, mais material teremos para trabalhar o tema com o poder público.


Agência Muitos Somos Raros



 

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