Somos homo sapiens puros ou mesclados com neandhertais.
A ciência ainda não deu sua última palavra. Pouco importa.
O fato é que o homem, no cotidiano, é triste. Basta ver
a ansiedade com que espera os fins de semana e as episódicas viagens de
passeio. O problema é que a maioria não se realiza em seu trabalho.
Ressalvada a minoria de criativos (literatos,
cientistas, parte dos profissionais liberais etc), a maioria, desde cedo, se insere
melancolicamente na "democracia" e na economia de
mercado.
No plano político, o homem simples não é um ator.
Limita-se a receber notícias que, como sabemos, não é a verdade dos bastidores
e refletem meias verdades. No campo da economia, geralmente é assalariado.
Produza mais ou menos, crie mais ou menos, o salário é mensal e invariável,
salvo nas posições de cúpula.
Pouco se lhe dá a sorte da empresa, porquanto o
engrandecimento desta não corresponde a engrandecimento dele. É o velho
problema da alienação. Em nosso país, trataram de confinar a limites enganosos
o importante instituto da participação dos empregados nos lucros das empresas
num insípido "PLR", o que significaria, se real, conjunção
das sortes entre empregados e empregadores. No Japão essa conjugação foi tão
importante que, em certo momento, o governo se viu obrigado a pedir aos
empregados que trabalhassem menos.
O embrutecimento num trabalho repetitivo e depressivo,
não raro deslocado das formações educacionais e do desenvolvimento cultural, é
tão acentuado que, segundo pesquisas, é grande o número de suicídios por
empregados e funcionários públicos na França, um suposto mundo de
satisfação pessoal. Sem falar na também imaginária "saída" pelo
álcool e pelas drogas, ou no recrutamento pelo Exército Islâmico.
O Brasil é um País de salários muito baixos acrescidos
de penduricalhos que, proporcionais a esse salário, são ilusórios, como FGTS,
PIS e outros derivativos atrelados àqueles. De ilusão básica em ilusões
emergentes, caminham todos.
Um governo de salvação nacional fica na periferia dos
fatos, enganando-se igualmente. Fala-se da crise da previdência social sem que
o Presidente venha a público para exprimir concretamente seu conteúdo,
provocando, assim, um debate superficial.
Desse modo caminhamos e envelhecemos. Postos na camisa
de força de um mundo material em que nossa liberdade profunda não existe.
Nossos espíritos - brasileiros - com as raras exceções, não se largam a
aventuras desafiantes, tal qual a criatividade no trabalho, o domínio da
cultura e consequente aperfeiçoamento do eu interior e da realidade exterior, a
democratização da ciência, o culto das artes. As crianças não abandonam por um
minuto seus celulares e
joguinhos. Nossas "Universidades" são criadas em
quantidade e são péssimas em qualidade, na proporção em que seu número
cresce. A realidade é a mesma de um século; as universidades públicas são
as únicas responsáveis pelo saber brasileiro, quando as escolas
"superiores" privadas fazem parte do teatro das ilusões.
Alterar esse "status quo" não é coisa para um
homem ou um partido político. Agravado o problema pela falta de líderes
políticos, consequência dessa degradação paulatina de nossa educação e cultura,
o desafio de criar um País saudável e prazeroso de viver é assombroso.
Amadeu Roberto
Garrido de Paula - Advogado e membro da Academia
Latino-Americana de Ciências Humanas.
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