quinta-feira, 3 de novembro de 2016

SÍNDROME DE BURNOUT – O ESGOTAMENTO EMOCIONAL NO TRABALHO



O trabalho geralmente ocupa um papel central na vida das pessoas; por volta dos 18 anos a pessoa já desenvolveu ou está desenvolvendo alguma atividade laborativa. Com a inserção de projetos, como o Jovem Aprendiz, muito antes dos 18 anos o adolescente já teve alguma experiência laboral e começa a desenvolver sua identidade social, em razão das novas relações que se estabelecem no ambiente de trabalho. 

Para a maioria das pessoas a inserção no mercado de trabalho deveria promover a melhoria na autoestima, motivação de crescimento profissional, expectativas de reconhecimento, autoconhecimento de aptidões e crescimento pessoal que passa por um processo de maturação e tende a levar o indivíduo à autorrealização. 

O oposto do tema inserido acima mostra uma sociedade laborativa cada vez mais saturada, esgotada, estafada, repleta de argumentos e reclamações que os levam a licenças psiquiátricas. 

O fato de o Brasil encontrar-se em processo de desenvolvimento nos faz notar um aumento do setor de serviços na economia, crescente aumento da instabilidade social e econômica, coexistência de diferentes modalidades de processos produtivos (da manufatura à automação), precariedade das relações de produção, desemprego crescente e mudanças nos hábitos e estilos de vida dos trabalhadores.

Cenários como esses têm causado um aumento de sintomas como: cansaço a todo o momento, enxaqueca, fraqueza, dores musculares, distúrbios do sono, dores no estômago, náuseas, dores de cabeça, alergias, queda de cabelo, maior suscetibilidade a gripes, diminuição do desejo sexual, tentativa de suicídio, falta de atenção e concentração, alterações de memória, irritabilidade, resistência a mudanças, perda de iniciativa, perda de interesse pelo trabalho, pelas coisas pessoais, ironia, raiva, isolamento, ceticismo, despersonalização e distanciamento afetivo, tudo isso “cavando” no sujeito os sentimentos de frustração e fracasso. A pessoa normalmente vai ao trabalho, porém desenvolve um estado que chamamos de presenteísmo, quando se está fisicamente no posto, no entanto com a mente muito distante. A esse conjunto de características damos o nome de síndrome de Burnout (Maslach & Schaufeli, 1993), que é causada por ambientes profissionais que exercem pressões psicológicas constantes, não reconhecimento pessoal, acúmulo de tarefas, perfeccionismo e foco constante no trabalho como únicas fontes de lazer e prazer que acabam por direcionar a pessoa ao desgaste físico e mental. Vale lembrar que não é necessário que a pessoa apresente todos os sintomas concomitantemente para ser caracterizada com burnout e é importante um diagnóstico diferencial, pois apesar de parecer uma depressão, possui características diferentes. A síndrome de Burnout identifica o trabalho como desencadeador do processo e apresenta uma sintomatologia com prevalência de sentimentos de desapontamento e tristeza. Por outro lado, na depressão o que prevalece são os sentimentos de derrota e letargia para a tomada de atitude.

O termo em inglês significa estar chamuscado, queimado, calcinado por um fogo que se alastra como numa floresta; esse termo só pode ser empregado para o ambiente laborativo, pois é uma metáfora que se refere ao alastramento dos sintomas emocionais e físicos que tomam a pessoa. Estima-se que, no Brasil, 30% dos profissionais apresentam esse grau máximo de “pane no sistema”, conforme pesquisa da filial nacional da International Stress Management Association (Isma), que avaliou mil pessoas de 20 a 60 anos entre 2013 e 2014.

As pessoas com essa síndrome apresentam maior risco de erros e acidentes de carro, devido à desatenção e impaciência. Como se não bastasse, há perdas sociais, especialmente na relação com os colegas e familiares, pois essa pessoa pode apresentar boa aparência e as pessoas se questionarem da veracidade dos sintomas. É normal os amigos e familiares darem conselhos para que a pessoa reaja e isso só tende a piorar, pois a pessoa passa a acreditar que qualquer outro indivíduo em seu lugar teria capacidade de reagir, menos ela, cedendo maior espaço às frustrações e ao sentimento de incapacidade.

As categorias mais atingidas são as pessoas que lidam diretamente com outras e são expostas ao sofrimento humano. A síndrome acomete muitos enfermeiros, psicólogos, professores, policiais, bombeiros, carcereiros, oficiais de justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários, advogados, executivos, arquitetos e jornalistas, com a ala feminina como alvo principal, pois as mulheres tendem a desenvolver suas funções, mas também o serviço “doméstico” do escritório, como atender telefone, tomar notas, servir café e organizar festas, sem serem recompensadas por isso. Quando se negam a realizar essas tarefas, sentem-se ameaçadas, achando que sua carreira pode ser prejudicada. Vale lembrar que a síndrome não é de exclusividade feminina.

A síndrome de Burnout tem crescido subitamente, junto à tentativa de desenvolvimento do país, que traz prós e contras, pois há um cenário ambíguo de atividades e exigências. O mercado capitalista exige ainda uma maior produção em menor espaço de tempo. As redes sociais nos mantêm conectados constantemente e provou ser eficiente em comunicação rápida, o que acaba demandando que estejamos disponíveis o tempo todo. Se não respondermos a um questionamento de trabalho às 22h00min pelo WhatsApp (apenas um exemplo dentre tantos) é porque não estamos muito aptos a crescer na carreira, quando, na verdade, o expediente deveria ter terminado às 18h00min. Todas essas facilidades deveriam servir para diminuir o tempo de trabalho, tornando-o mais eficaz, porém a mensagem tem sido transmitida da seguinte forma: “Se você está conectado 24 horas por dia, deve trabalhar 24 horas por dia”.

A síndrome de Burnout possui tratamento e merece atenção especial, uma vez que ataca o biopsicossocial do indivíduo e gera grandes descompassos nas empresas, provocando alta rotatividade de funcionários, perda de grandes talentos e muitas vezes gerando processos expressivos ao setor empresarial. 

Comumente é tratada com ansiolíticos e/ou antidepressivos associados à terapia psicológica de abordagem Cognitivo Comportamental. Entretanto, melhor que tratar é prevenir, e aqui vão algumas atitudes que podem fazer a diferença: aumentar a variedade de rotinas, para evitar a monotonia; prevenir o excesso de horas extras; dar melhor suporte social às pessoas; melhorar as condições sociais e físicas de trabalho; e investir no aperfeiçoamento profissional e pessoal dos trabalhadores




Fernanda Machado -    CRP 06/121510 - Psicóloga Cognitivo Comportamental, com formação em Transtornos Psiquiátricos e Neuropsicologia



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