A luta contra o câncer ganha força quando a doença é detectada
logo no início
O Outubro Rosa chega colorindo os monumentos do Brasil com o
objetivo de chamar a atenção para questões ligadas ao câncer de mama. Até o
final de 2016, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), terão surgido
57.960 mil novos casos e 14.388 mortes – dessas, 181 homens e 14.206 mulheres.
Trata-se do segundo local do corpo mais atingido pela patologia, no país e,
apesar das frequentes campanhas alertando para a prevenção, a taxa de
mortalidade ainda é alta, justamente, pela grande frequência de diagnósticos
tardios.
“A maior parte das mulheres só identifica a doença quando ela já
está em desenvolvimento, devido ao aparecimento de irregularidades na pele,
sejam marcas, caroços nos seios e até mesmo franzidos,“ pontua Miguel Torres,
chefe do programa de tratamento da doença na Radiocare. O radio-oncologista
alerta que, muitas vezes, a enfermidade chega de forma silenciosa.
Tabagismo, sedentarismo e obesidade são fatores de risco que
contribuem para um aumento da incidência da enfermidade. “Boa alimentação e
prática de exercícios físicos, diariamente, são bons parceiros na prevenção de
doenças, entre elas, o câncer de mama”, afirma o radio-oncologista. Torres
ressalta que homens também podem ser afetados pela doença e, apesar de a
incidência ser bem menor, não devem se esquecer da prevenção.
Prevenção
Márcia tinha 34 anos quando percebeu um nódulo no seu seio direito
ao fazer o autoexame. À época, vivia um momento de realização profissional e
pessoal. Tinha acabado de assumir um novo cargo na empresa, curtia o casamento
recente e sua filha de apenas dois anos. “Não podia ser nada”, era o que
imaginava. Então, ao consultar um mastologista, se deparou com o diagnóstico:
há um carcinoma ductal invasor na mama direita, em linguagem simples, câncer de
mama.
Mesmo sem precedentes da doença na família e com perfil fora do
grupo de risco, Márcia sempre fazia o autoexame, o que foi fundamental em seu
caso. Selmo Geber, professor titular do Departamento de Ginecologia e
Obstetrícia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta a
importância da detecção precoce do câncer de mama. "É essencial que as
mulheres façam exames preventivos periodicamente, tanto para detectar o câncer
de mama como outros tipos da doença, como o câncer de cólo de útero”, lembra o
médico.
Contudo, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, em Minas Gerais,
apenas 62% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram o exame preventivo nos
últimos dois anos.
Tratamento
O tratamento varia de acordo com a gravidade da
doença e das condições biológicas do paciente. O primeiro passo é fazer o
diagnóstico completo com análises clínicas e biopsia para descobrir se o tumor
é benigno ou maligno. Então, o médico faz a indicação de cirurgia,
quimioterapia e radioterapia ou das práticas combinadas, de acordo com cada
caso.
Os tratamentos são divididos em dois tipos de
terapias: local e sistêmica. “A local inclui a
cirurgia e a radioterapia, que são formas de tratar o tumor sem afetar o
restante do corpo. Já a sistêmica trabalha com medicações orais ou pela corrente sanguínea, como é o caso da quimioterapia,
capaz de atingir as células cancerosas em qualquer parte do corpo”, afirma o radio-oncologista Miguel Torres.
O tratamento, muitas vezes, pode implicar na
perda de cabelos e na realização da mastectomia – retirada da mama e isso afeta
o emocional feminino. “Fui cortando meu cabelo por etapas para que minha filha
não percebesse, contei uma historinha para que ela entendesse que a mamãe
estava doente e que quando melhorasse, o cabelo cresceria novamente”, lembra
Márcia. Ela ainda comenta que o carinho da filha, o companheirismo do marido e
todo apoio dos amigos e famílias foram essenciais para que tivesse esperança e
se recuperasse rápido.
Manutenção da fertilidade
Após vencer a doença,
muitos pacientes acabam se deparando com um novo problema: a infertilidade.
“Se ter filhos é um objetivo de vida, é essencial pensar nisso e se
resguardar para concretizá-lo posteriormente. Tratamentos com quimioterapia e
radioterapia, além de destruírem as células tumorais, também podem atingir as
germinativas, que produzem óvulos e espermatozoides. Além disso, também
interferem nas funções hormonais, responsáveis pela produção de gametas”,
explica Selmo Geber, PhD em Fertilidade e Embriologia.
Segundo o médico, a
urgência da doença e a necessidade imediata de se dar início aos tratamentos
contra o câncer exigem decisões rápidas do oncologista. No entanto, devido à
pressa, muitas vezes o fator reprodutivo não é abordado. “Aspectos do
tratamento e de efeitos colaterais diretos são amplamente discutidos. Porém,
a preservação da fertilidade para o futuro, através de criopreservação, por
exemplo, acaba sendo deixada de lado”, avalia.
O objetivo com a
criopreservação dos óvulos – seja por vitrificação, ou por congelamento –, é
conservar o material para que ele possa ser utilizado no futuro, por meio de
técnicas de reprodução assistida. “O óvulo, ou o espermatozoide, é submetido
a uma variação de temperatura de 37ºC a -196ºC em menos de um segundo. O
material congelado é, então, armazenado em nitrogênio líquido, podendo ser
mantido assim por tempo indefinido”, explica o médico. Segundo ele, as taxas
de gravidez utilizando óvulos congelados tem sido semelhante à obtida com
exemplares frescos, de 50%.
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