Uma expressão
da língua espanhola, mais descortinadora do que o equivalente em nosso léxico:
poderoso. Aqui, podemos e estaremos nos referindo a uma pessoa.
Em espanhol,
convém, ainda, ao conjunto das instituições, a um governo em que as
instituições de acoplam para ser um todopoder, a opressão, a negação da
democracia, quando não se refere ao povo como protagonista.
O todopoder
manda em nosso país e não ouviu a voz das ruas.
Essa aparece
em discursos demagógicos, mas não é respeitada. Tampouco é descoberto, de modo
consequente, o significado das amplas mobilizações que levaram ao necessário
impeachment de Dilma e, deve-se sublinhar, não se deu carta branca ao governo
Temer.
Sabemos da
emergência que nos assola, mas nada justifica que medidas provisórias - como
atacamos os decretos-leis da nefanda ditadura militar! - tomem o lugar de
projetos de leis, de convocações de audiências públicas, de incorporação do
povo ao processo de salvação nacional.
E, sem o povo,
único que deve exercer o todopoder, nada se alcançará. Permaneceremos no brejo
cinzento e putrefato. Isso porque, sem consenso básico, nada se faz. Imposições
autoritárias nunca tiraram país algum de crise alguma; no máximo, aliviaram as
ansiedades de determinadas classes privilegiadas.
Sabemos que
esse não é o discurso de Temer e cremos em sua sinceridade ao dizer que não
pretende golpear politicamente, mas resolver nossos problemas graves e
imediatos. Se assim é, não deve continuar refém dos grupos parlamentares que só
gostam de ouvir a própria voz e dar conforto aos próprios corpos. Deve o
Presidente provisório ter a coragem de governar com autoridade e não com
autoritarismo, a frente de um povo que se discipline ordenamente e compreenda a
profundidade de nossos problemas e as reformas mais emergenciais, ainda que de
maneira superficial. O instinto popular é como um vento salvador em tempestada
marítima, que não dispensa um bom timoneiro.
Até agora, só
ouvimos falar em reforma trabalhista. Fácil, porquanto se resume a transferir a
convenções coletivas o que está na lei. Os sindicatos de trabalhadores que
lutem para recuperar o que já haviam alcançado e que está expresso no art. 7º
da Constituição, rol de direitos humanos que não são pelo menos expressamente,
cláusula pétrea, a menos que se infira da Constituição Federal a existência de
uma cláusula implícita de não retrocesso; imaginem o debate que essa questão
pode gerar no seio do Supremo Tribunal Federal, de resultados
imprevisíveis.
Antes de
propor a fácil reforma trabalhista, ouça o Sr. Presidente o povo, a sociedade
organizada e legítima; verá que são cronológica e essencialmente prioritárias a
reforma do Estado (administrativa) e tributária (meios de funcionamento do
Estado). Feitas tais reformas, ficando claro na consciência dos brasileiros o
esforço sincero de toda a nação no sentido de sair do buraco, é possível que os
trabalhadores concordem em dar sua quota-parte no processo de retomada de nosso
desenvolvimento, enterrado pelos oportunistas das propinas, vís delatores,
sujeitos a penas criminais que se abrandam com nossos regimes de
progressividade e não repõem ao estado anterior os cofres públicos
vandalizados.
Em suma, é
necessário corrigir a rota do navio à deriva no mar sem porto. Mais democracia
e menos ouvidos murchos e interesseiros, próprios da classe política, na qual,
primeiramente, estão os próprios mandatos e, depois, a sobrevivência dos
partidos que proliferaram como pragas em nosso país.
Se essa imensa
e nobre tarefa não estiver ao alcance do Dr. Michel Temer, os povos do mundo
inteiro jamais foram capazes de formular outra saída: eleições gerais e um novo
poder constituinte originário, em assembleia mista, de parlamentares e das
melhores inteligências da nação, que possam formatar outro caderno de leis
fundamentais, a serem cumpridas, ao contrário do que ocorreu com a maioria das
normas da Constituição cidadã, justamente aplaudida em outro e atípico momento.
Amadeu
Garrido - advogado e
poeta. autor do livro Universo Invisível, membro da Academia Latino-Americana
de Ciências Humanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário