As culturas orientais e latinas cultivam obediência e respeito aos mais velhos, criando estereótipos generalizados
O termo piedade filial reflete um sentimento interno de gratidão e responsabilidade dos mais jovens em relação a seus entes queridos que chegaram à velhice. As frases, comumente ouvidas, repetem quase sempre a mesma convicção: “Eles me deram a vida; me deram tudo, até o que não tinham. Não posso abandoná-los”.
Esse é um julgamento muito presente na cultura latina. Os orientais também enfatizam valores que pregam respeito e obediência aos idosos. Ocorre que esse sentimento de piedade filial muitas vezes entra em conflito com a própria realidade.
Uma senhora de 80 anos, com dificuldade de locomoção, passa o dia vendo TV. Essa é a sua única janela para o mundo. A família – a filha, o genro e os netos – ficam fora de casa durante todo o dia. Só retornam à noite, depois de uma jornada longa de trabalho e estudo. É uma vida corrida, de muita luta, a que se sujeitam milhões de pessoas.
Mesmo assim essa família insiste em manter a avó em casa, mesmo sem ter condições de dar atendimento à idosa, que está lúcida, mas incapaz de se locomover com amplitude.
Nesse caso, a solução ideal para essa senhora seria permanecer, durante o dia, em um local que lhe oferecesse uma nova modalidade de cuidado. Esse local não seria um asilo, porque esse serviço de longa permanência colocaria o idoso lúcido em convívio com outros, que estão em estado terminal de enfermidade ou perderam a lucidez.
Chamado erroneamente de “creche para idosos”, o centro dia é na realidade a melhor opção para o idoso permanecer durante a jornada de trabalho da família. Em um centro dia, o idoso participa de jogos e ações que reforçam suas capacidades cognitivas. Hoje, já existem máquinas de estimulação (semelhantes aos fliperamas) e jogos que estimulam a coordenação, em vários níveis. Há também desenhos especiais para idosos, que fazem pinturas elaboradas, bem distantes daqueles de temática infantil.
Infelizmente, esse tipo de atividade ainda é desconhecido de grande parte da população. O público desconhece as possibilidades dos centros-dia. Nem sabe de sua existência, imaginando que existem apenas asilos ou locais de longa permanência.
Para aquele parente idoso, que fica sozinho durante o dia, imóvel vendo TV, nada é mais verdadeiro do que a constatação final de pesquisa, desenvolvida pela Universidade de Harvard: “Nada é mais tóxico do que a solidão”.
Marília Sanches - terapeuta ocupacional e Mirian
Shiba, administradora de empresas; ambas administram o Koru Centro-Dia - espaço
de cuidados e atividades voltado ao público idoso
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