A aprovação do
impeachment de Dilma Rousseff no final de agosto irá afastá-la definitivamente
do governo. O PT deixa o poder de modo melancólico e com o rótulo do partido
que promoveu a maior onda de corrupção da história brasileira.
Diferentemente
do que ocorreu na gestão Collor, O PT está sendo defenestrado do governo em
decorrência de um movimento que teve origem nas ruas e que ecoou no Congresso.
Em 1992 o processo começou no legislativo federal e depois ganhou as ruas.
A esmagadora
maioria do povo brasileiro não quer mais o PT. Até a “nova classe média” se deu
conta de que o partido se tornou o grande artífice da atual depressão
econômica, que já fez o desemprego atingir 12 milhões de pessoas até agora.
O PT sempre
tentou passar a ideia de que a ascensão de 30 milhões de pessoas para a classe
C foi obra do partido. Para muitos essa bobagem colou e os petistas, mesmo
atolados em um mar de lama desde o caso do mensalão, permaneceram no poder.
Importante
lembrar que a redução da pobreza nos últimos anos só foi possível porque tudo
começou a ser preparado na década de 90. Não é obra de um governo apenas. Ações
diversas ao longo de anos no âmbito público, portanto de vários governos,
tornaram possível melhorar de modo acelerado a vida de muitas famílias.
Na gestão
Collor ocorreu a abertura da economia brasileira. A história dos carros que
pareciam “carroças” é emblemática. O país era fechado para o resto do mundo e
isso desestimulava inovações. Além disso, foi nessa época que começaram as
privatizações. As ineficientes estatais eram um poço sem fundo na absorção de
recursos públicos.
No governo
Itamar Franco as privatizações foram mantidas e a implantação do Plano Real
eliminou uma inflação anual de 2500%, algo que penalizava os mais pobres.
No governo
Fernando Henrique as privatizações continuaram. Medidas como a Lei de
Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e a
política de superávit fiscal foram determinantes para a estabilização da economia.
O PT
encontrou o caminho pavimentado para implementar políticas sociais de grande
envergadura. No governo Lula os benefícios das privatizações, da abertura
externa e da política de estabilidade macroeconômica dos anos anteriores
deixaram tudo pronto para um amplo programa de redistribuição de renda, a
grande bandeira petista.
O crescimento
econômico entre 2004 e 2008, devido em grande parte ao crescimento mundial,
facilitou a vida dos petistas. O desemprego em queda, a renda em alta e os
programas de assistência social tiveram efeito político magnífico para o
governo. Nessa época o PT deveria ter implementado uma nova rodada de medidas
fundamentais para o desenvolvimento nacional, como as iniciadas nos anos 90.
Foi uma chance para tornar a economia mais competitiva. Mas, o partido não teve
competência para investir em ações voltadas à qualificação de trabalhadores, à
ampliação e modernização da infraestrutura e para a condução das reformas
estruturais como a política e a tributária.
O Brasil vive
uma crise por conta das barbeiragens do PT na economia e por causa da corrupção
patrocinada pelo partido. Os ganhos na área social retrocedem de modo acelerado
e pesam para que os petistas sejam definitivamente rechaçados do poder. Eis um
fim mórbido de uma legenda que surgiu como redentora dos excluídos e que
empunhava a bandeira da moralidade.
Marcos Cintra -
doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e
vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
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