Psicólogo explica as
causas, sinais e formas de enfrentá-lo
O
tema “relacionamentos abusivos” está muito presente nos debates dos dias de hoje,
em especial nas redes sociais. Com o caso da atriz Luiza Brunet, que relatou
recentemente ter sofrido agressões do ex-marido durante os quase cinco anos de
relacionamento que tiveram, o tema teve ainda mais visibilidade. Muitas pessoas
questionaram o porquê de Luiza nunca ter trazido o assunto à tona, mas esta é
justamente uma das características de um relacionamento abusivo. Falta
conhecimento mais aprofundado sobre o tema, para que seja possível entender o
que o causa, quais são os sinais e, principalmente, como enfrentá-lo.
Um
relacionamento é tido como abusivo quando uma das partes se caracteriza como a
que pratica abusos, enquanto a outra é submetida. “O que pratica abusos exerce poder moral sobre a outra pessoa”,
explica o psicólogo Reinaldo Renzi, especializado em terapia de casal. Por
alguns fatores sociais, entende-se que haja uma maior tendência de o homem ser
o que subjuga a mulher, mas pode ocorrer o inverso, como também entre casais
homossexuais.
“No
entanto, é importante entender que, por questões sócio-culturais machistas que
atravessaram gerações, temos a percepção de que a incidência maior seja do
domínio do homem sobre a mulher”, comenta o psicólogo, que também percebe um
número muito maior de mulheres procurando ajuda profissional, como a
psicoterapia, do que os homens. Para ele, a sociedade machista em que vivemos
inibe o homem de assumir que possa sofrer domínio de uma mulher.
Existe,
também, a possibilidade de ambos serem abusivos entre si, principalmente entre
casais mais jovens, que tendem a ser inexperientes. Com isso, há uma
insegurança maior para ambos, o que gera cobranças. “O jovem adolescente vai
parar de curtir as fotos das amigas no Facebook, e sua namorada fará o mesmo”,
exemplifica Reinaldo, que também aponta uma naturalização nos relacionamentos
de certos sentimentos negativos, como o “ciúmes”. Esse sentimento é entendido como forma de carinho e atenção, o que
acaba contribuindo para naturalizar alguns comportamentos abusivos.
Por
conta dessa naturalização é muito difícil
perceber quando se vive um relacionamento
abusivo. Mais difícil ainda é entender como sair de um. “A pessoa que entra e
permanece em um relacionamento abusivo normalmente faz
isso pela fragilidade de sua estrutura, e só se libertará quando
conseguir forças para buscar ajuda”, explica Reinaldo. Alguns pensamentos, como
“relação é assim mesmo”, “eu vou mudar o outro”, “tenho minha parcela de
culpa”, “não posso desfazer uma família”, “todos vão me julgar”, entre outros,
contribuem com a permanência nessa situação difícil.
As
relações que provocam um comportamento abusivo são diversas e sofrem variações
identificáveis através de terapia. Porém, muitos especialistas apontam que é
proveniente de um comportamento aprendido na infância, mas não é só isso. “Se a criança tiver condições de
enfrentamento, através de convivência com outras figuras equilibradas, terá
isso como parâmetro para o que não quer viver”, explica Reinaldo. Porém, se
essa criança não conseguir elaborar os processos de sua experiência afetiva, na
fase adulta ela tanto pode se tornar a vítima de um relacionamento abusivo como
pode se tornar o abusador.
Por dentro da cabeça do abusador
O
abusador tem sua estrutura psíquica extremamente frágil. Ele está nessa posição
de desestruturador do outro porque a sua autopercepção é tão crítica que, em seu inconsciente, ele teme todo o
tempo ser enganado, traído ou derrotado pelo outro.
“É
um comportamento tão estruturalmente arraigado que a única chance real de
alguma mudança favorável seria submeter-se a psicoterapia por longo tempo”,
aconselha o psicólogo. Caso contrário, o processo todo só será cessado com o
fim da relação, ou seja, a separação.
Amigos
e familiares geralmente permanecem calados diante de relacionamentos abusivos,
pois esperam que a pessoa tome uma atitude. Mesmo assim, o apoio deles é de
extrema importância para a pessoa que sofre os abusos, então é muito
aconselhável buscar ajuda sim.
Uma
vez que a pessoa tenha conseguido sair da relação, o abusador pode pedir perdão
e fazer promessas comoventes. “Não acredite, não volte atrás, sem um longo
período de terapia não haverá mudança real, e sim as mesmas promessas
infundadas”, completa o psicólogo.
Como identificar um relacionamento abusivo?
Ciúme
Possessivo: a pessoa tem ciúme de todos, mesmo de amigos e parentes, e
demonstra isso publicamente de forma constrangedora.
Comportamento
Controlador: controlam os passos, gastos, compromissos, monitorando a outra
pessoa todo o tempo.
Afasta
das amizades e mesmo de familiares, dizendo que tais pessoas não prestam e que
são falsas.
Explosivo:
tem “pavio curto”, mas no momento seguinte pode se mostrar arrependido/a e
extremamente carinhoso/a.
Justifica
seus erros de forma a transferir convincentemente a culpa pra você ou para os
outros.
Manipulador/a:
transforma a cena ou situação de maneira a beneficiar sempre a vontade própria.
Usa
o álcool ou outra droga como desculpa pra agressividade desmedida e maus
tratos.
Humilha
a outra pessoa: essa é a forma preferida para se fortalecer diante do outro,
mantendo a pessoa insegura. Por mais que se faça para merecer um elogio, vai
receber ou o desprezo ou críticas pesadas.
Faz
promessas de mudanças que jamais vai cumprir.
Chantagista
e punitivo/a: pode passar dias sem falar com o outro, dormindo separado, ou
negando até mesmo sexo.
REINALDO RENZI - Psicólogo Clínico licenciado pelo
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU; Psicoterapeuta
individual, de grupo, casal e infantil; especialista na abordagem analítica
(pautada nos arquétipos); Palestrante Motivacional; Vasta experiência
hospitalar tendo trabalhado em hospitais como: Hospital Psiquiátrico São Camilo
– Pouso Alegre – MG, Hospital Israelita Albert Einstein (UTI) – São Paulo - SP,
Hospital Alemão Oswaldo Cruz (UTI) – São Paulo -SP, entre outros. Voluntário
como psicólogo clínico na ONG Estrela da Mama – Grupo de Apoio no Combate ao
Câncer de Mama - Praia Grande – SP. (CRP 06/102470)
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