segunda-feira, 11 de julho de 2016

Relacionamento abusivo



Psicólogo explica as causas, sinais e formas de enfrentá-lo

O tema “relacionamentos abusivos” está muito presente nos debates dos dias de hoje, em especial nas redes sociais. Com o caso da atriz Luiza Brunet, que relatou recentemente ter sofrido agressões do ex-marido durante os quase cinco anos de relacionamento que tiveram, o tema teve ainda mais visibilidade. Muitas pessoas questionaram o porquê de Luiza nunca ter trazido o assunto à tona, mas esta é justamente uma das características de um relacionamento abusivo. Falta conhecimento mais aprofundado sobre o tema, para que seja possível entender o que o causa, quais são os sinais e, principalmente, como enfrentá-lo. 

Um relacionamento é tido como abusivo quando uma das partes se caracteriza como a que pratica abusos, enquanto a outra é submetida. “O que pratica abusos exerce poder moral sobre a outra pessoa”, explica o psicólogo Reinaldo Renzi, especializado em terapia de casal. Por alguns fatores sociais, entende-se que haja uma maior tendência de o homem ser o que subjuga a mulher, mas pode ocorrer o inverso, como também entre casais homossexuais. 

“No entanto, é importante entender que, por questões sócio-culturais machistas que atravessaram gerações, temos a percepção de que a incidência maior seja do domínio do homem sobre a mulher”, comenta o psicólogo, que também percebe um número muito maior de mulheres procurando ajuda profissional, como a psicoterapia, do que os homens. Para ele, a sociedade machista em que vivemos inibe o homem de assumir que possa sofrer domínio de uma mulher. 

Existe, também, a possibilidade de ambos serem abusivos entre si, principalmente entre casais mais jovens, que tendem a ser inexperientes. Com isso, há uma insegurança maior para ambos, o que gera cobranças. “O jovem adolescente vai parar de curtir as fotos das amigas no Facebook, e sua namorada fará o mesmo”, exemplifica Reinaldo, que também aponta uma naturalização nos relacionamentos de certos sentimentos negativos, como o “ciúmes”. Esse sentimento é entendido como forma de carinho e atenção, o que acaba contribuindo para naturalizar alguns comportamentos abusivos. 

Por conta dessa naturalização é muito difícil perceber quando se vive um relacionamento abusivo. Mais difícil ainda é entender como sair de um. “A pessoa que entra e permanece em um relacionamento abusivo normalmente faz isso pela fragilidade de sua estrutura, e só se libertará quando conseguir forças para buscar ajuda”, explica Reinaldo. Alguns pensamentos, como “relação é assim mesmo”, “eu vou mudar o outro”, “tenho minha parcela de culpa”, “não posso desfazer uma família”, “todos vão me julgar”, entre outros, contribuem com a permanência nessa situação difícil. 

As relações que provocam um comportamento abusivo são diversas e sofrem variações identificáveis através de terapia. Porém, muitos especialistas apontam que é proveniente de um comportamento aprendido na infância, mas não é só isso. “Se a criança tiver condições de enfrentamento, através de convivência com outras figuras equilibradas, terá isso como parâmetro para o que não quer viver”, explica Reinaldo. Porém, se essa criança não conseguir elaborar os processos de sua experiência afetiva, na fase adulta ela tanto pode se tornar a vítima de um relacionamento abusivo como pode se tornar o abusador.

Por dentro da cabeça do abusador

O abusador tem sua estrutura psíquica extremamente frágil. Ele está nessa posição de desestruturador do outro porque a sua autopercepção é tão crítica que, em seu inconsciente, ele teme todo o tempo ser enganado, traído ou derrotado pelo outro.

“É um comportamento tão estruturalmente arraigado que a única chance real de alguma mudança favorável seria submeter-se a psicoterapia por longo tempo”, aconselha o psicólogo. Caso contrário, o processo todo só será cessado com o fim da relação, ou seja, a separação. 

Amigos e familiares geralmente permanecem calados diante de relacionamentos abusivos, pois esperam que a pessoa tome uma atitude. Mesmo assim, o apoio deles é de extrema importância para a pessoa que sofre os abusos, então é muito aconselhável buscar ajuda sim.

Uma vez que a pessoa tenha conseguido sair da relação, o abusador pode pedir perdão e fazer promessas comoventes. “Não acredite, não volte atrás, sem um longo período de terapia não haverá mudança real, e sim as mesmas promessas infundadas”, completa o psicólogo.

Como identificar um relacionamento abusivo?

Ciúme Possessivo: a pessoa tem ciúme de todos, mesmo de amigos e parentes, e demonstra isso publicamente de forma constrangedora.

Comportamento Controlador: controlam os passos, gastos, compromissos, monitorando a outra pessoa todo o tempo.

Afasta das amizades e mesmo de familiares, dizendo que tais pessoas não prestam e que são falsas.

Explosivo: tem “pavio curto”, mas no momento seguinte pode se mostrar arrependido/a e extremamente carinhoso/a.

Justifica seus erros de forma a transferir convincentemente a culpa pra você ou para os outros.

Manipulador/a: transforma a cena ou situação de maneira a beneficiar sempre a vontade própria.

Usa o álcool ou outra droga como desculpa pra agressividade desmedida e maus tratos.
Humilha a outra pessoa: essa é a forma preferida para se fortalecer diante do outro, mantendo a pessoa insegura. Por mais que se faça para merecer um elogio, vai receber ou o desprezo ou críticas pesadas.

Faz promessas de mudanças que jamais vai cumprir.

Chantagista e punitivo/a: pode passar dias sem falar com o outro, dormindo separado, ou negando até mesmo sexo. 




REINALDO RENZI  - Psicólogo Clínico licenciado pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU; Psicoterapeuta individual, de grupo, casal e infantil; especialista na abordagem analítica (pautada nos arquétipos); Palestrante Motivacional;  Vasta experiência hospitalar tendo trabalhado em hospitais como: Hospital Psiquiátrico São Camilo – Pouso Alegre – MG, Hospital Israelita Albert Einstein (UTI) – São Paulo - SP, Hospital Alemão Oswaldo Cruz (UTI) – São Paulo -SP, entre outros. Voluntário como psicólogo clínico na ONG Estrela da Mama – Grupo de Apoio no Combate ao Câncer de Mama - Praia Grande – SP. (CRP 06/102470)

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