Em 2013, em uma matéria da
Folha de São Paulo (Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era
pós-antibióticos), Margareth Chan, diretora geral da OMS, chama atenção: “O
mundo está prestes a perder essas curas milagrosas”
Antibióticos
são medicamentos que devem ser utilizados apenas contra infecções
bacterianas e, mesmo assim, se elas forem gastrintestinais, há aplicação em bem
poucas delas.
Um
estudo recente, publicado no JAMA (Journal
of American Medical Association), avaliou a prescrição de antibióticos
orais, no cadastro nacional de cuidados ambulatoriais entre 2010 e 2011,
separados por idade, região e diagnósticos nos Estados Unidos.
Entre
as 184.032 consultas ambulatórias da amostra, 12,6% resultaram em prescrição de
antibióticos, sendo que a sinusite foi o mais frequente diagnóstico isolado
dessa população (56/1.000), seguida de otite média supurada (47/1.000) e
faringite (43/1.000). Coletivamente, as infecções respiratórias responderam por
221/1.000 das prescrições, sendo que, entre essas, apenas 111/1.000 foram
consideradas apropriadas.
Nessa estatística, estimou-se 505 prescrições de antibióticos sendo apenas 353 consideradas corretas, mostrando que cerca de 1/3 das prescrições foram inadequadas aos quadros que foram tratados (resfriados, bronquites, dores de garganta, infecções de ouvidos e seios da face, segundo os autores) e mesmo que essa pesquisa já tenha 5 anos, não há uma expectativa de dados diferentes nos dias de hoje.
Esse
abuso de prescrição estimulou o aumento de bactérias resistentes, que infectam
cerca de 2 milhões de americanos ao ano, levando a 23.000 mortes anuais,
segundo fontes do CDC (Centers for Disease Control and Prevention).
“Em nossa prática diária, no Brasil, não temos essa estatística recente, mas pela percepção e pelos resultados de aumento de resistência bacteriana, ela não deve ser muito diferente. Vale lembrar que antibióticos não ‘matam bactérias ruins’ e sim ‘bactérias sensíveis’. Nesse caso, quando se utiliza um antibiótico, quer seja da forma adequada ou não, ocorre uma seleção de nossa flora bacteriana oral, intestinal e vaginal, que forma grande parte de nosso sistema de proteção”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Assim,
segundo o pediatra, “além de nos deixar mais suscetíveis a uma infecção por
diminuição das defesas, de interferir de forma prejudicial no sistema
digestivo, essa é uma forma de transmissão de resistência a agentes infecciosos
bacterianos que dificultam a ação dos antibióticos existentes, gerando maiores
riscos de morte”, alerta.
Por
isso, e pela dificuldade e importância do diagnóstico adequado de uma infecção
bacteriana, podem ser necessários exames que identifiquem o agente causal com
certeza e rapidez e uma técnica de coleta adequada. “Os testes rápidos feitos
de material da boca e garganta de crianças costumam ser decisivos. As coletas
de exames de urina precisam ser realizadas de forma correta, sem riscos de
contaminação, e com análise adequada. As radiografias devem ser executadas em boas
condições. Não se recomenda fazer radiografias de seios da face de crianças
abaixo de 4 anos de idade em busca de sinusite se até essa idade elas não têm
seios da face formados. Manchinhas no pulmão não representam, em grande parte
das vezes, broncopneumonia bacteriana. Um vírus não vai se transformar em
bactéria”, explica o médico, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial
da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Antibióticos
são excelentes medicamentos, com indicação precisa, mas que requerem critérios
em sua prescrição para que possam ser ainda utilizados na plenitude de sua
capacidade e de seus benefícios. “O uso além da conta, além de não ser
necessário, pode causar prejuízos ao paciente e à população de forma geral,
através de um aumento da resistência bacteriana”, defende o pediatra.
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