Em nota, ABHH manifesta sua
preocupação quanto ao armazenamento do sangue de cordão umbilical para uso autólogo
em bancos privados
A Associação Brasileira de Hematologia,
Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), entidade sem fins lucrativos cuja missão
é representar a comunidade de profissionais da área de Hematologia, Hemoterapia
e Terapia Celular, manifesta por meio de nota oficial sua preocupação quanto ao
armazenamento do sangue de cordão umbilical para uso autólogo (células-tronco
do sangue de cordão do próprio indivíduo transfundido para ele mesmo), em casos
que não haja indicação médica.
Não existe justificativa para armazenar o sangue de cordão
umbilical para uso autólogo. No Brasil, os bancos privados de sangue de cordão
têm alimentado um comércio baseado em propaganda enganosa, uma vez que vendem a
ideia de que com esse ato é possível garantir qualidade de vida e salvamento em
casos de doenças no futuro. Sangue de cordão não é seguro de vida.
A leucemia, por exemplo, principal causa de câncer em
crianças, é a mais citada como argumentação dos bancos privados junto aos pais,
como forma de prevenção à saúde. Mas a utilização do próprio sangue de cordão
para o transplante desta criança será inútil. Trabalhos na literatura médica
demonstram que a carga genética para a leucemia já se encontra presente desde o
nascimento.
Portanto, em vez de a família pagar a taxa para coletar as
células durante o parto, seu congelamento e manutenção, ela pode, se precisar
no futuro, acionar a rede pública para realizar o transplante com células de
outro doador - já que a compatibilidade necessária para o transplante de células-tronco
do sangue de cordão umbilical é menor do que a requerida pelo transplante
de medula óssea.
No Brasil não há regulamentação para o uso do sangue de
cordão umbilical e placentário para fins terapêuticos. A Comunidade Europeia é contra o armazenamento
privado, sendo a prática proibida em muitos de seus
países. Enquanto isso, os bancos
privados de sangue de cordão umbilical brasileiros mudaram a estratégia. Agora
querem convencer que o congelamento é necessário porque, no futuro, este sangue
pode se utilizado em Medicina Regenerativa.
A utilização de sangue de cordão, apesar de ser uma
excelente fonte de obtenção de células-tronco, neste tipo de terapia celular
ainda se encontra em fase experimental e não deve ser realizada cobrança para
estas coletas, já que não há respaldo científico, nem indicações clínicas
precisas que deem suporte para este tipo de procedimento. Para se ter uma
ideia, o sangue ainda conserva suas propriedades até 20 anos após a coleta,
após esse período a “qualidade” desse sangue é reduzida.
O país já
possui bancos de armazenamento de sangue de cordão umbilical e placentário
públicos, como a Rede BrasilCord, lançada pelo Ministério da Saúde em 2004, para o atendimento de pacientes que
necessitam de células-tronco e que aguardam transplante de medula óssea.
O material é coletado por equipes treinadas, em maternidades
conveniadas aos bancos públicos, sob rígidos critérios de seleção de
gestantes. As mães assinam um termo de consentimento informado para efetivar a
doação aos bancos públicos. Além disso, para ser aceita como doadora de sangue
de cordão a mãe passa por uma anamnese semelhante ao doador de sangue, além de
uma investigação sobre doenças familiares e maternas, que possam inviabilizar a
utilização da bolsa.
Atenciosamente,
Diretoria da Associação Brasileira
de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular
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