No último dia 25 de maio a
Marinha Italiana divulgou imagens de um barco lotado com mais de 500
imigrantes, balançando violentamente antes de virar jogando ao mar as pessoas
que transportava. Cinco deles morreram.
As imagens chocaram o mundo e
somaram-se a inúmeras outras que permeiam o noticiário dos telejornais quase
que diariamente.
A crise humanitária
evidenciada nos últimos anos pela fuga de milhares de pessoas que tentavam
escapar das guerras, de perseguições e da pobreza no Oriente Médio e África é
que levaram a ONU a realizar a Conferencia Humanitária Mundial, em Istambul,
entre os dias 23-24 de maio.
Embora tivesse a participação
de representantes de mais de 170 países, somente 55 chefes de Estado ou de
governo compareceram. Das grandes potências somente a chanceler alemã Angela
Merkel esteve. A baixa presença de líderes mundiais pode parecer decepcionante,
mas considerando ser a primeira conferência sobre o tema, pode se tornar uma
iniciativa que dará início a uma mobilização mais ampla para enfrentar o
problema.
O cenário global mostra a necessidade
de haver um consenso internacional para melhorar a ajuda às vítimas de conflito
armado e desastres naturais. O volume de pessoas deslocadas na atualidade
colocou em colapso o sistema de ajuda internacional. Inclui-se nessa conta 130
milhões de deslocados fugindo da guerra na Síria ou no Sudão, da fome na África
ou os desabrigados pelo terremoto no Equador.
Nesse contexto, a realização
da Conferencia já é um fato positivo pois a ação humanitária tem ficado em
segundo plano diante de outros desafios globais, como a questão climática que
tem conseguido mobilizar lideranças globais a participarem de seus encontros.
Durante a Conferência os
participantes buscaram desenvolver novos métodos para o sistema humanitário
centrados em cinco âmbitos de responsabilidade: prevenção de conflitos,
proteção de civis, não deixar ninguém para trás, colocar fim à necessidade de
ajuda humanitária e investir na humanidade.
Como resultado da Conferencia
Humanitária foi acordado um “Grande Pacto” contemplando 51 medidas que buscarão
criar um sistema de ajuda humanitária mais eficiente e flexível, localizado e
colaborativo. O objetivo é “não somente manter as pessoas vivas, mas dar-lhes a
oportunidade de terem uma vida digna”, como observou Ban Ki-Moon, Secretário
Geral da ONU.
Discutiu-se que uma forma de
tornar mais efetiva e eficiente a ajuda humanitária é fortalecer as comunidades
locais como a melhor maneira de enfrentar as crises humanitárias. O sistema, em
vigor, privilegia as organizações intermediárias que absorvem boa parte da
ajuda, atualmente menos de 2% do financiamento total vai para os atores locais,
que estão em contato direto com as pessoas afetadas. A ONU buscará incrementar
essa taxa em 20 e 30% para o ao de 2020 como apoio das medidas propostas no
Grande Pacto.
Durante a Conferencia 30
doadores e agencias assistenciais assinaram o documento final e países
individualmente como a Bélgica e a Suíça, se comprometeram a ajudar
financeiramente.
Essa primeira Conferencia
Humanitária é um passo à frente e a sua realização reunindo mais de 5000
delegados para reestruturar o atual sistema humanitário é de grande
significado. Seu efeito multiplicador dependerá de muitos atores que
acompanharam o debate e tenderão a apoiar a implementação das 51 medidas. A
atual crise humanitária na realidade questiona os fundamentos de nossa
civilização.
Somente com a participação de
milhares de indivíduos e organizações superaremos essa crise civilizatória
resgatando e reforçando valores como o de solidariedade, sintetizado nas
palavras do Secretário Geral da ONU no encerramento: “Somos somente uma
humanidade com uma grande responsabilidade compartilhada”.
Reinaldo
Dias - professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus
Campinas. Doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política. É
especialista em Ciências Ambientais.
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