Recentemente o
ministro da Fazenda Henrique Meirelles anunciou os membros do segundo escalão e
enfatizou que o país precisa cortar gastos. Certamente serão apontadas várias
áreas onde é possível reduzir despesas. Mas, algo que precisa ser discutido é a
instituição de novo modelo orçamentário que permita racionalizar a despesa
pública no Brasil.
Um ponto que precisa ser discutido no governo
Michel Temer refere-se à adoção do orçamento base zero no lugar do modelo
incremental que vigora no Brasil. Trata-se de uma inovação que tornaria a
gestão das contas públicas mais flexível e
proporcionaria maior eficiência na aplicação do dinheiro público.
O modelo
orçamentário que vigora no Brasil dificulta cortes de gastos e a realocação de
dotações. Tornou-se um fator de pressão sobre a carga tributária, já que sempre
que um novo programa é criado ou um ajuste financeiro se impõe a saída é
aumentar impostos.
Se as contas
públicas no Brasil fossem avaliadas de modo criterioso a conclusão seria que há
diversos gastos injustificáveis. Muitos programas se mantêm ano após ano sem
que ninguém os questione em termos de sua eficiência e eficácia. Se fossem avaliados a fundo, segundo critérios de
análise social de projetos, muitos deles com certeza seriam imediatamente
descontinuados.
A
manutenção inercial de gastos é um aspecto relacionado ao modelo orçamentário praticado
no país, que se baseia no orçamento incremental. Cria-se uma despesa e depois
ela se perpetua sem que haja avaliação periódica em termos de seu retorno
social. E vão se adicionando novos programas sem que os que estão vigentes
sejam analisados em termos de seus custos e benefícios.
Daí
a necessidade de se avaliar a adoção do chamado orçamento base zero. Trata-se
de uma técnica orçamentária onde anualmente, ao se preparar a proposta de
orçamento para o ano seguinte, os programas em andamento seriam avaliados no
tocante à sua eficiência e eficácia. Programa que não atendesse essa exigência
básica seria extinto.
A
adoção do orçamento base zero tornaria rotineira a saudável prática de avaliar
e identificar programas ou atividades que poderiam ser extintos ou
redimensionados, e suas dotações canalizadas, total ou parcialmente, para
promover o equilíbrio fiscal, custear outras despesas ou reduzir a dívida
pública.
Será
que alguém analisa de modo criterioso, por exemplo, os programas do Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT), cujo orçamento para 2016 supera R$ 75 bilhões,
para averiguar se são eficazes? E os benefícios fiscais de R$ 35 bilhões
concedidos para as empresas localizadas em áreas classificadas como de
desenvolvimento regional, são justificáveis a luz de parâmetros técnicos que
possam definir se devem ser mantidos? Recursos demandados em áreas como a da
saúde pública não poderiam ser obtidos com a revisão desses programas?
O
orçamento base zero imporia a racionalidade que falta na gestão das contas públicas
no Brasil. Sua adoção seria um importante complemento à Lei de Responsabilidade
Fiscal. Trata-se de uma reforma estrutural necessária em um país cuja
administração financeira vem sendo negligenciada nos últimos anos.
Marcos
Cintra - doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular
de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003)
e autor do projeto do Imposto Único.
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