A
descoberta e utilização de fármacos antimicrobianos foram decisivas para a
diminuição da mortalidade e morbidade das doenças causadas por bactérias e
salvou muitas vidas ao longo do século XX. É possível afirmar que a introdução
de antibioticoterapia em escala mundial foi fundamental para o desenvolvimento
econômico e social de diversos países.
Contudo,
a utilização indiscriminada, desregulada, e equivocada permitiu o surgimento de
cepas resistentes a alguns antibióticos ou ainda a uma multiplicidade deles.
Segundo a Dra. Margareth Chan, Diretora-Geral da Organização Mundial da Saúde
(OMS), a questão da resistência aos antimicrobianos é considerada uma crise
mundial sem precedentes, o que poderia levar a uma era pós-antibióticos em que
bactérias comuns poderiam causar danos devastadores e morte.
Dessa
forma, a pesquisa e o desenvolvimento de novos fármacos antimicrobianos é
urgente e premente. Ainda assim, a última molécula inovadora com ação
bactericida foi lançada em 1987. Este fato é o que aponta o estudo do
economista britânico Jim O´Neill.
A
falta de inovação no desenvolvimento de novas moléculas antimicrobianas tem
brindado a sociedade mundial com bactérias super-resistentes, situação que
impacta não apenas a saúde, mas o status quo social e econômico. As estratégias
atuais de melhorar e modificar moléculas já existentes no mercado, muitas
vezes, favorecem mais o microrganismo do que a humanidade.
Entretanto,
é importante verificar que também há grandes barreiras de acesso aos
antibióticos em diversos locais, especialmente nos países pobres. Sendo assim,
não será apenas o desenvolvimento de novas moléculas, produzir novos
medicamentos que garantirão a redução das infecções bacterianas, mas a
mobilização mundial, de governos, empresas, sociedade civil organizada, para
garantir acesso equânime a todos os que necessitam de tratamento.
No
passo em que a situação caminha, em breve viveremos um grande paradoxo, uma
sociedade altamente tecnológica, com padrão de saúde da Idade Média – com toda
certeza, a permissão do surgimento de outras “superbactérias” invalidará todo o
ganho em saúde e qualidade de vida alcançados no século XX. As mudanças
precisam acontecer agora!
Jan Carlo Delorenzi é PhD -
Farmacêutico, Mestre e Doutor em Ciência Biológicas (Biofísica). Professor de
Imunologia e Saúde Pública – Universidade Presbiteriana Mackenzie. Investigador
Sênior em Pesquisa Clínica. Líder do Grupo de Pesquisas em Saúde Pública da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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