Para Conselho Regional de Serviço Social do
Estado de São Paulo, desigualdade social segue como principal agravante do
quadro de violência
Levantamento divulgado pela Central de Atendimento à
Mulher – Ligue 180 aponta que houve aumento de 44,74% no número total de
relatos de violência recebidos pelo serviço em 2015, comparados ao ano
anterior. No total, foram 76.651 atendimentos correspondentes a relatos de
violência recebidos pelo serviço de denúncias anônimas da Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e
Direitos Humanos.
Os números ainda mostram que o total de relatos
envolvendo cárcere privado cresceu 325%, computando a média de 11,8 registros
por dia, enquanto os relatos de violências sexuais (estupro, assédio e
exploração sexual) cresceram 129%, em uma média de 9,53 por dia.
Para a assistente social Michelle Dias, membro da
Comissão de Instrução do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo
(CRESS-SP), o fenômeno da violência contra a mulher persiste no Brasil agravado
pela estrutura da nossa sociedade. Ela explica que os efeitos da ausência do
Estado, que falha em fornecer e prover condições mínimas de segurança, educação
e saúde, são sentidos de forma mais intensa pelas mulheres.
“Os problemas sempre recaem sobre elas. Um exemplo é a
questão da falta d’água, que fecha creches e escolas. Com o trabalho nas
periferias de São Paulo, podemos ver que na maioria dos casos é a mãe que
precisa faltar ao trabalho nessas ocasiões”, ressalta.
Na realidade brasileira, a própria Lei Maria da Penha,
instituída para dar assistência às mulheres vítimas de violência, encontra
dificuldades de aplicação. A assistente social conta que existe uma
precarização no atendimento dessas vítimas, tanto na delegacia, na hora de
preencher o boletim de ocorrência, quanto no judiciário, que julga os
processos.
“A própria questão dos abrigos reflete essa condição.
Nesses locais já sucateados, a mulher que sofreu violência divide espaço com
outras em situação de rua ou dependentes químicas, algo fora das portarias e
normativas que regem os abrigos”, conta Michelle.
Condições de defesa
A representante do CRESS-SP explica que o enfrentamento
da violência passa obrigatoriamente pela redução da vulnerabilidade da mulher.
No atendimento às vítimas, por exemplo, um trabalho em conjunto entre
assistentes sociais, psicólogos e juristas busca fortalecê-las para enfrentar
essa condição.
“A mulher que sofre violência doméstica acaba perdendo o
vínculo com a família e muitas vezes é impedida pelo próprio companheiro de
trabalhar. A ausência de um Estado protetor, que possa suprir suas necessidades
básicas e ajudá-la, impede que mulheres consigam se retirar dessa situação.
Nosso papel é dar condições mentais e legais para que elas possam se defender
de seus agressores, saindo da posição de vulnerabilidade que as encarcera”,
finaliza a assistente social.
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